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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Low Roar


I took the easy way out
I took the easy way out
I took the easy way out

Quando não possuímos mais interesse em tentar conhecer coisas novas, corremos o risco, certamente, de deixar passar em branco algo bom. Mesmo assim, não mantenho mais ânimo nem tempo para viver chafurdando no lamaçal em busca de pérolas. Deixo possíveis pérolas aos porcos. Mas, ainda com esta postura, aceito de bom grado realizações culturais de alta qualidade que me chegam aleatoriamente. Foi assim, por exemplo, com os cinco álbuns maravilhosos de Low Roar, banda islandesa capitaneada pelo finado Ryan Karazija - norte-americano que encontrou grande projeção entre os anos de 2011 a 2022, até a morte levá-lo prematuramente, por pneumonia, aos 40 anos de idade.

Foi Hideo Kojima quem me apresentou a banda. Acho que a maior parte dos fãs conheceram essas canções graças ao jogo eletrônico Death Stranding. Como mexeu comigo conduzir o entregador Sam Bridges, dentro de terrenos quase intrafegáveis, ao som da voz e dos arranjos melancólicos de Low Roar. Eu diria, aliás, não apenas "melancólicos", mas quase suicidas, como fica explícito na faixa Easy Way Out, onde é dito apenas o óbvio - mas que ainda causa arrepio na maioria das pessoas - que a morte é sempre a saída mais rápida e fácil para os problemas deste mundo imundo onde vivemos. Às vezes, aliás, acredito piamente que todos nós já morremos e que este lugar maldito é o purgatório, onde deuses mesquinhos e filhos da puta estão cotidianamente testando nossa paciência.

Quando puderem, confiram os álbuns de Low Roar. Realmente valem a pena e trazem canções que me ajudam a relaxar sempre. Abaixo, colo um trecho de Death Stranding com Sam Bridges sofrendo para fazer seus deliverys, entre assaltantes e entidades sinistras, enquanto ouve um som bacana. No trecho específico, ele carrega o corpo da própria mãe - que acabara de falecer -, para o local específico onde defuntos frescos devem ser cremados, sob o grave risco de obliteração no entorno, naquele mundo peculiar concebido por Kojima, onde quem desencarna causa graves problemas aos vivos.

Abraços em "low roar" e até a próxima.

sábado, 25 de maio de 2024

Um disco fake dos Guns N' Roses

Não sei precisar há quanto tempo possuo o CD acima, mas creio que se passaram em torno de 25 anos desde a aquisição. Comprei novinho, na loja, junto com meu irmão. Destaco ter sido "novo" porque comprávamos muitos CDs em lojas de usados, então bem comuns na minha antiga cidade, igual a sebos. Hoje, mal achamos sebos decentes, exceto de livros didáticos. Tenho um carinho imenso por este álbum e, somente após meus trinta anos de idade, descobri se tratar de um álbum originalmente fake.

Sempre achei estranho o fato do encarte possuir duas capas e dois nomes distintos em cada uma. Seria um "dois em um" que nunca compreendi durante anos. Mas é que Live ?!*@ Like a Suicide foi fake em tudo e se tratou do primeiro EP de estreia da banda. É fake porque não foi ao vivo. Gravar ao vivo seria mais caro e apenas inseriram sons de público após a obra pronta em estúdio. Inventaram também um selo independente que, na verdade, pertencia à poderosa Geffen Records. Como o selo chamava-se UZI Suicide, os membros da banda passaram a chamar o álbum de Live Like a Suicide, uma brincadeira com o "live" de "ao vivo" (um ao vivo fajuto elaborado em estúdio) e do verbo "to live".

Quando a banda lançou seu segundo LP, o Lies (o primeiro foi Appetite for Destruction), juntou as música do EP de 1986 e, com tempo, passou a editar as capas em duplicidade. Daí é que surgiu essa coisa estranha, misturando músicas "ao vivo" com estúdio, duas capas bem distintas e dois títulos esquisitos. Nada como um disco chamado Lies para abarcar uma grande mentira do passado da banda.

Tenho um apego imenso pelo que foi Guns N' Roses. Ouvi bastante toda sua discografia impecável, exceto por Chinese Democracy. Foi uma banda integrada por bons músicos, deu ao mundo projeção ao Slash e seus diversos riffs de guitarra, simples e que nunca serão esquecidos. Sem esquecer compositores como Axl Rose, Izzy Stradlin e Duff McKagan. E o vocal único de Axl, claro, o qual atualmente canta igual ao Mickey Mouse. Até a bateria de Steven Adler era diferenciada. Foi um grupo perfeito para a época. Eles todos foram os caras.

Abraços suicidas e até a próxima.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Thomas Newman



A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.

Schopenhauer

Já mencionei algumas vezes, de forma rasteira, Thomas Newman - compositor que se notabilizou em trilhas para o cinema, na época em que a Sétima Arte ainda valia alguma coisa e "ir ver um filme" significava, em regra, ter uma experiência proveitosa no mês e ficávamos remoendo o que assistimos por vários dias, até a próxima grande estreia. Além disso, notabilizou-se, ainda mais, pela amizade com um de meus cineastas preferidos: Sam Mendes, com quem colaborou em grandes obras, a exemplo de Beleza Americana e Estrada para Perdição.

Não sei dizer qual o trabalho que mais gosto de Thomas Newman. Sou bastante marcado por Beleza Americana, talvez pela relevância que o filme possui em minha vida. Mas acho que me deslumbrei por seu trabalho lá atrás, bem antes de me interessar por trilhas de cinema: no magnífico Um Sonho de Liberdade, onde acompanhamos a vida lascada do banqueiro Andy Dufresne na prisão de Shawshank, entre pôsteres de beldades, declarações de imposto de renda e enrabamentos coletivos. Aliás, esta penitenciária estadual é constantemente citada por King em diversas de suas obras. A última vez que lhe vi menção foi no magistral Sob A Redoma. É um lugar que sempre causa calafrio em quem ouve seu nome. O sujeito aceita qualquer fita, desde que o risco seja apenas o xilindró local. Mas quando se fala em Shawshank, o maluco estremece e dá para trás.

Recordo que, quando vi Um Sonho de Liberdade em VHS, aqueles "sons" chamaram minha atenção. Eram músicas bonitas que "combinavam" com as cenas. Mas apenas após Beleza Americana (visto em DVD, no lançamento) foi que passei a procurar sobre o nome Thomas Newman, hoje quase septuagenário. E posso afirmar ser meu compositor preferido, de todos os tempos, dentro do cinema. A dramaticidade de Hans Zimmer, em especial nos filmes de Christopher Nolan, me tentam a retirar o velho Tom de sua colocação no pódio, mas sempre recuo. No final, meu espírito sedento de calmaria pende para as odes melancólicas newmeanas.

Recomendo sempre que ouçam trabalhos desse cara, especialmente quando estiverem trabalhando. Para mim, é algo que funciona bem há mais de década. Se eu colecionasse CD ou vinil, certamente tentaria ter todas suas trilhas no acervo.

Abraços melódicos e até a próxima.




quarta-feira, 22 de maio de 2024

Ground control to Major Tom

Mars ain't the kind of place to raise your kids
In fact, it's cold as hell

David Bowie não deixou de personagem marcante, para a cultura pop, apenas Ziggy Stardust - o alienígena veadão que traz as boas novas do rock 'n' roll para uma Terra moribunda. Também recebemos de legado o Major Tom, explorador espacial terráqueo, viciado, corno e perdido. Quanto à sua cornitude, nada disso foi indicado por Bowie. Mas, no clipe oficial de "Major Tom" por Peter Schilling, vemos que sua esposa não se preocupa tanto com seu retorno e fica curtindo a vida terrena com o personal trainer, igual a Gracyanne Barbosa. Outros artistas e bandas complementaram a "vida e obra" desse astronauta, mas creio que a pegada mais emblemática ficou com Elton John em "Rocket Man", onde soubemos que Marte é um lugar frio como o inferno para criarmos nossos filhos.

Embora seja referência, também, noutras formas de mídia além da música (programas para TV variados, por exemplo), penso que nunca deram a atenção devida a esse personagem. Por que não um filme do cosmonauta corno? Ou uma HQ? No meio de tanto lixo que os serviços de streaming produzem para abastecer as plataformas, talvez ao menos fosse uma experiência interessante. Algo parecido com Spaceman (2024), onde, ao invés do alien Hanuš, teríamos uma figura andrógina similar a Ziggy Stardust. O navegante espacial Jakub - vivido em Spaceman pelo brilhante Adam Sandler - descobriria as traições de sua esposa Lenka por meio do resgate de fragmentos de memória do E.T. No final, Jakub e Ziggy entregar-se-iam à vastidão do espaço sideral tocando violão. Enquanto isso, a estranha poeira estelar lilás destruiria nosso planeta.

Acho que Major Tom representa bem nossa era - a do cientificismo descolado, onde "Toda a nossa ciência comparada com a realidade, é primitiva e infantil - e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos" (Einstein). Ou seja: estamos fodidos. Mal sabemos o que há nas profundezas dos mares sem fim (os oceanos são um mistério), acreditamos que enviaram homens à lua em 1969 (e eles retornaram de boa) e ainda discutimos qual seria o formato real da Terra, mesmo com Telescópio Espacial James Webb "descobrindo" a origem do universo (confia...), ao custo de 10 bilhões de dólares, força de trabalho de 17 anos e toneladas de recursos naturais - inclusive ouro. Sei lá... Mas me parece que poderiam concentrar mais energia em tratamentos para os cânceres, cura para o HIV e recuperação de rios e mares. Crer que o James explicará a "origem da vida" é idiotice.

Amiúdes: estava pensando no subaproveitamento do Major Tom no cinema e nos quadrinhos, canais de "divulgação científica" que entopem o YouTube, degenerações social, moral e familiar e resolvi escrever merda aqui.

Abraços científicos e até a próxima.


terça-feira, 9 de abril de 2024

Timecop1983


Imagens geradas por I.A. a partir das diretrizes: careca, academia, headset, synthwave.

Já falei sobre meu apreço por synthwave noutras postagens. Aprendi com o tempo a gostar de música eletrônica com esse apelo. Para não me estender mais, confira a postagem Música ambiental, academia, 40 anos etc. Acho sintetizadores invenções poderosas formadoras da estética sonora dos anos 80'. Basta lembrar que, no espetacular filme Mestres do Universo (1987), a chave cósmica disputada entre He-Man e Esqueleto é um sintetizador! Daí percebemos a dimensão desse instrumento para a cultura "oitentista" comandada pelos estêites. O synthwave e seus desdobramentos, certamente num ambiente digital (sintetizadores digitais etc), retornam a esses instrumentos eletrônicos. Talvez daí minha atração.

Estou na tentativa de treinar regularmente. Academia é essencial para todas as idades, ainda mais após os quarenta anos de existência. Especialmente para gente como eu - tive uma vida de abusos com comida, álcool etc. Como me mudei, precisei largar a academia pé-sujo que frequentava e agora estou numa chique. E é muito bom, realmente, treinar num ambiente com temperatura sempre controlada, cheirosa - com sistemas de neutralização de aromas da EKKOA por todos os lados - e equipamentos de última geração. Mas os problema de barulho permanecem: burburinho, pesos se chocando etc. E o pior: as músicas que teimam em tocar, a fim de agradar ao recorte de "gosto geral". Então nunca deixo de ir com meus fones, onde ouço algum podcast eventualmente mas, via de regra, minhas músicas.

Assim, voltando ao tema synthwave, é um estilo que gosto de ouvir ocasionalmente, seja na academia (que combina com música eletrônica) ou em casa mesmo, enquanto trabalho. E um dos caras que mais me parece capacitado no gênero é Timecop1983, nome adotado pelo músico holandês Jordy Leenaerts. NewRetroWave - ou apenas NRW - é o seu selo. Realizações do selo, obviamente, também se encontram no YouTube. Achei interessante, então, recomendar o trabalho desse cidadão, a quem interessar possa.

Abraços oitentistas e até a próxima.

sexta-feira, 1 de março de 2024

Os Cadernos Azuis


As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio.

- Kafka

Conheci The Blue Notebooks há quase dois anos, meramente por acaso, quando ouvi uma das faixas como fundo musical de um vídeo qualquer. Trata-se de um belo trabalho de Max Richter lançado há quase vinte anos, cujo título baseia-se nos cadernos azuis de Franz Kafka e, aliás, durante alguns momentos da execução ouvimos Tilda Swinton, a mulher-cotonete, recitando trechos dessas anotações. Algumas leituras também foram feitas de versos esparsos do poeta Czesław Miłosz. Acho que a voz de Tilda Swinton deu um tom cinematográfico às composições, fazendo-nos sentir dentro da trilha sonora de um filme nunca realizado. A máquina de escrever datilografando também deu charme ao bagulho.

De acordo com o próprio Max Richter, The Blue Notebooks seria um libelo contra a Guerra do Iraque e a violência em geral. Para mim, tanto faz. Acho que ele só quis rotular seu trabalho com algo afirmativo quando associou a busca do pacifismo à sua obra. Aliás, concordo com isso: a Guerra do Iraque foi um erro e apenas após anos soubemos disso. Saddam Hussein nunca deveria ter sido deposto de seu "cargo" de Ditador. A "Primavera Árabe" que se seguiu só legou dor de cabeça ao ocidente e o avanço das imigrações em massa.

Amiúdes: é um álbum que voltei a ouvir repetidas vezes, durante este mês passado de fevereiro, especialmente enquanto trabalhava. Achei bacana compartilhar, considerando que já recomendei som ambiental por aqui noutras oportunidades.

A playlist com todas as faixas pode ser acessada aqui: Youtube Music ou Spotify.

Abraços sonoros e até a próxima.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Nesses confins do mundo, nada vai me assustar

- Êpa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez! ...

E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.

- O gostosura de fim-de-mundo!...

Guimarães Rosa, em A Hora e Vez de Augusto Matraga

Ando tão por fora do mundo televisivo que nem sabia da existência do remake de Renascer. Para mim, esta foi a obra-prima de Benedito Ruy Barbosa e talvez a segunda melhor realização da teledramaturgia brasileira, logo atrás de Roque Santeiro. Acompanhei a jornada de José Inocêncio, no sul baiano, do primeiro ao último capítulo, de quando fechou seu corpo com o facão na raiz do pé de jequitibá até sua morte e o legado ao filho enjeitado, João Pedro.

Quantos personagens instigantes foram ali construídos, dentre jagunços, fazendeiros, políticos, ralé e até mesmo playboys que residiam soberbamente na "capitar" graças à grana do cacau. Tião Galinha que queria um pedacinho de terra pra mode de plantar; a nem homem nem mulher Buba, interpretada pela então belíssima Maria Luísa Mendonça; Jacutinga, dona do cabaré local; Damião, pistoleiro que gostava de pão com mortadela mais do que a massa de manobra lulopetista etc.

A trilha sonora foi escolhida a dedo, tanto a nacional quanto a internacional, onde destaco:

  1. "Confins" - Ivan Lins Com Participação Especial de Batacotô (tema de abertura)
  2. "Lua Soberana" - Sérgio Mendes (tema dos extratores de cacau)
  3. "Me Diz" - Fagner (tema geral)
  4. "Parabolicamará" - Gilberto Gil (tema de locução Bahia)
  5. "Ai Que Saudade De Ocê" - Fabio Jr
  6. "Essa Tal Felicidade" - Tim Maia (tema de Zé Augusto)
  7. "Sete Desejos" - Alceu Valença (tema de Eliana e Damião)
  8. "Joaninha" - Ithamara Koorax (tema de Joaninha)
  9. "Mentiras" - Adriana Calcanhotto (tema de Mariana)
  10. "Palavra Acesa" - Quinteto Violado (tema de Tião Galinha)

Renascer tinha cheiro de suor e sangue. Acho que borrifavam óleo no elenco e depois lhe jogavam massapé, de tão encardidos que ficavam os atores e figurantes. O mundo, ali, era duro e cruel, com direito à redenção apenas no finalzinho. Tocaias sempre iminentes e encantos de proteção contra morte matada e morte morrida. É realmente curioso como levarão uma história tão crua e densa para a TV pasteurizada atual. Provavelmente, o jagunço Damião - que comia Eliana, interpretada por Patrícia Pillar no auge da sensualidade - será não-binárie e dirá que palavras machucam mais que balas; João Pedro será um jovem revolucionário pretendendo repartir o latifúndio do pai entre o MST; e Jacutinga não terá mais um brega cheio de quengas, mas, sim, venderá conteúdos no OnlyFans.

Acho que Renascer foi a novela que deu projeção definitiva a Adriana Esteves, interpretando Mariana, neta do antigo desafeto de José Inocêncio - o temido coronel Belarmino. E o momento em que ela surge na novela, descoberta por João Pedro, foi bastante marcante e ainda o é para os dias de hoje, tudo embalado por Mentiras de Adriana Calcanhotto: eu vou mergulhar sua guia...

Certamente não verei esta nova versão, pois não tenho saco nem disposição. E, como falei em postagem anterior, abandonei as novelas em 2004, com Da Cor do Pecado e Celebridade. Há algum tempo, aliás, ando cansado até de seriados, quem dirá acompanhar uma novela inteirinha. Acho até estranho quem faz isso nos dias de hoje. Mas gosto é gosto!

Abraços saudosos e até a próxima.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Princesinha parabólica

Estava eu massacrando meu sofrido violão Giannini - comprado há décadas numa loja de departamentos a preço módico e cujos consertos já custaram mais do que o instrumento em si -, quando surge minha filha de oito anos de idade e diz "vamos fazer uma música". Então pedi alguns segundos para ativar o gravador de voz do celular e o resultado foi a canção abaixo, a qual batizei de Mariana Blues. De improviso, ela cantou coisas que estavam passando em sua cabeça: a semana de provas que lhe encheu o saco (português, história e geografia), o drama dos cachorros caramelos e os "brasileiros" - pois está naquela fase onde começou a refletir sobre povos e países. Achei bacana editar um vídeo para o resultado final da coisa toda e compartilhar aqui, em post não listado. Abraços musicais e até a próxima.

sábado, 17 de junho de 2023

RPM, Schiavon e uma loira escaldante


Imagem disponível em @lucianavendramini

O Marreta publicou uma baita postagem em tributo ao Luiz Schiavon, músico fundador do fenômeno RPM, banda arrasa-quarteirão cuja imagem de capa eram os traços bem afilados de Paulo Ricardo e suas camisetas regatas.

Luiz Schiavon teve uma trajetória de sucesso e, antes de se recolher para viver seus últimos anos em paz antes de bater as botas devido a uma doença autoimune, era figurinha presente no Domingão do Faustão e em trilhas de novela da rede Globo. Aliás, a canção Madrigal que embalava a linda abertura da novela Cabocla era de sua autoria junto ao Fernando Deluqui, ex-guitarrista do R.P.M (vídeo abaixo).

Pensar em Schiavon e Paulo Ricardo me fez lembrar de tantas bandas boas findadas por vaidades e conflitos de ego. No caso da RPM, há várias versões, mas acho mais provável que o ego de Paulo Ricardo tenha acabado com tudo. Via de regra, vocalistas galãs se acham a alma dos grupos musicais e colocam tudo a perder. E quase sempre são incompetentes para seguirem sozinhos. Paulo Ricardo, por exemplo, não emplacou nada que preste após a "extinção" da banda - valendo lembrar que ela ensaiou um breve retorno com os quatro membros da formação original. Acho que, dele, só fizeram sucesso as músicas Dois e Vida Real - esta, devido ao Big Brother Brasil, exibido há duas décadas diante do público néscio que lhe dá audiência. Humberto Gessinger, e.g., até hoje sobrevive de repetir canções arranjadas por Licks e Maltz. Recordo que até Mick Jagger - longe de ser galã, mas traçava a Angelina Jolie - ensaiou carreira solo, mas voltou rapidinho para The Rolling Stones quando os trabalhos solos de Keith Richards estavam fazendo mais sucesso (entre público e crítica).

Um conjunto musical é um... conjunto. Parece óbvio falar isso. Mas grandes músicos ainda não perceberam o fato e se superestimam quando chegam ao estrelato. RPM em sua formação original foi Paulo Ricardo, Paulo Pagni, Fernando Deluqui e sobretudo Luiz Schiavon com suas experimentações com novas tecnologias. Eu gostava bastante de ouvir algumas músicas da banda quando meu irmão mais velho colocava o vinil de Rádio Pirata Ao Vivo para rodar. E afirmo que isso que herdou o nome RPM não é RPM.

E, durante a escrita desta postagem e diante do título da do Marreta, não tive como não recordar de Luciana Vendramini. Verdade seja dita, apenas Paulo Ricardo foi abençoado com aquela loura escaldante para comer todas as noites.

Abraços 43 e até a próxima.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

A carta de Jan Hammer

É engraçado como as lembranças nos traem. Esses dias, um colega das antigas conversou comigo sobre Phil Collins. Nunca fui grande fã do cara, tampouco de sua banda Genesis. Aí afirmei que me marcaram bastante os trechos de Another Day in Paradise no filme Admiradora Secreta (Secret Admirer, 1985), clássico da Sessão da Tarde. Aquele pianinho mexia comigo, na época. Então ele me cortou: "Não tem essa música no filme, acho que nem existia na época". Então nada que o Google não solucione em alguns segundos. E, deveras, nada a ver. Aquele piano me lembra bastante Another Day in Paradise nos recônditos de minha alma, não sei o porquê, ainda mais quando é reprisado no final do filme. Mas se trata de uma composição do genial Jan Hammer, exímio tecladista checo. E, enquanto ouvia as composições de Jan Hammer, fiquei pensando em como chegamos ao fundo do poço, com tanto filme ruim, trilhas porcas e ausência total de encanto. Por acaso, achei o filme completo no Youtube, com dublagem clássica. Valeu a pena matar a saudade de um filme como aquele - da sensibilidade, do ótimo humor e de carinhas como C. Thomas Howell e da finada Kelly Preston, responsável por milhões de ereções adolescentes durantes anos a fio. RIP Preston, RIP cinema. Éramos tarados na Deborah. Mas amávamos a Toni. E, colegas, ainda hoje, para mim, Alguém Muito Especial (1987) é basicamente uma releitura mais dramática deste belo e simples filme. E, para complicar a coisa, Alguém Muito Especial é uma nova visão de John Hughes sobre A Garota de Rosa-Shocking (1986). Ah, o cinema teen oitentista... Abraços e até a próxima.



domingo, 8 de maio de 2022

Seleção de música ambiente - ou ambiental

A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. 
Arthur Schopenhauer

A seleção a seguir foi testada e aprovada por mim, em momentos de trabalho à frente do computador, ralando para ganhar o pão de cada dia, blogando ou escrevendo bobagens diversas. Como falei anteriormente, com o avanço do tempo passei a dar ênfase à música ambiental enquanto desempenho minhas atividades cotidianas que exigem certo grau de compenetração. Na lista a seguir, há um pouco de tudo: edições baseadas em trilhas de cinema e jogos eletrônicos e até mesmo criações originais. Serviram para mim e, creio, podem lhe servir. Então, por que não compartilhar?

Abraços e até a próxima.








domingo, 27 de fevereiro de 2022

Música ambiental, academia, 40 anos etc

Quando me tornei pai, passei a observar como uma criança desenvolve sua personalidade, o que vai ficando e o que vai sendo posto de lado. É interessante analisar a formação do ser humano. É algo então novo em minha vida. Realmente nunca tinha pensando a respeito da formação da personalidade.

Acho curioso que minha filha, que ainda nem sete anos possui, goste bastante de música eletrônica. Ela cria playlists em seus dispositivos e costuma ouvir esse gênero enquanto está à toa explorando o belo mundo do Toca Live, criando personagens no Gacha Life ou matando pessoas no Free Fire. Ou cuidando de seus carneirinhos em Minecraft. Ninguém a inclinou para isso, penso. É dela. Ele manteve contato com coisas assim, se interessou, e foi de cabeça. Acho saudável e a deixo livre para consumir suas músicas, conhecer outras livremente e brincar com seus jogos. Sempre que ela merece, aliás, compro novas propriedades para expandir seu mundo Toca.

Quando eu era guri, não ouvia música eletrônica. Mas, por crescer ouvindo aquela estética oitentista durante a década de '90, creio que o ambiente musical da época impingiu-se em meu cérebro. Daí, as boas sensações que um "som sintetizado" sempre me trouxeram, quando ouvido à toa. Mas nunca fui de botar músicas assim para rodar, durante minha adolescência. Cresci ouvindo rock, MPB (especialmente Zé Ramalho, Alceu Valença etc.). Apenas na maturidade - graças à internet veloz - descobri o prazer de rodar os sons que dominaram o cinema e as vinhetas avulsas de minha infância.

Mas penso que isso, também, não influenciou minha filha, pois ouço mais esses estilos musicais quando trancado sozinho em meu escritório, trabalhando ou lendo gibis, com fone de ouvido na academia ou quando sozinho em casa, na varanda, fumando e bebendo. Também não é algo que escuto com meus amigos, pois sempre tocamos mais MPB ou rock quando estamos reunidos. Logo, é um gosto pessoal dela, algo despertado desde cedo. Talvez se, quando guri, eu tivesse acesso à tecnologia que ela possui hoje, tivesse aproveitado, igualmente, esse som. Certamente que, vendo seu interesse, passei a ouvir mais junto a ela, lhe despertando mais o interesse.

No âmbito música eletrônica, o estilo synthwave (retrowave) é o que mais me agrada por longas horas. Esta tarde inteira, por exemplo, só ouvi isso. De acordo com Wikipédia, "é um estilo musical que surgiu em meados dos anos 2000, influenciado por músicas e trilhas sonoras da década de 1980 (...), fortemente inspirado pela new wave e trilhas sonoras de filmes, videogames e séries de televisão da década de 1980 e 1990". Ou seja: um oásis para pessoas de minha faixa etária que passavam horas e horas consumindo cultura pop barata e enlatada, quando guris.

Quando representado visualmente, o gênero se apropria de elementos de jogos eletrônicos antigos, às vezes com pixel art. Contudo, em regra, a ênfase é na arte retrô futurista vetorial, em loop quando produzida para videoclipe, carregado em cor-de-rosa, púrpura e suas variações. É um visual, aliás, que me agrada há anos e anos. Tanto que, ao postar no vídeos no Youtube, gosto de finalizá-los com vinhetas assim, em vinte segundos, para dar tempo de rodar as sugestões de vídeos similares.

Quando conversei com um colega de faculdade sobre synthwave, ele me disse que havia uma associação entre o estilo e o nazifascismo, na cabeça de alguns. Então, pesquisando a respeito, vi não ser bem assim. Na verdade, o estilo musical é utilizado para propaganda política de qualquer via insana. Logo, em breve pesquisa, vi que qualquer sample pode ser empregado por neonazistas ou neocomunistas (amiúde, gente insana tarada pelo Estado e o coletivismo), apenas mudando o fundo das estampas de Hitler para Stálin e vice-versa. Logo, não caia nessa pegadinha do discurso ideológico. Apenas curta seu som em paz. A diferença entre fashwave (synth fascista) e laborwave (synth comunista) está no psicopata reverenciado e no bobão que advoga mais Estado. Lembre-se: o Estado é nosso maior inimigo.

A ascensão do synthwave se deu há alguns anos. Mas algumas pessoas podem desconhecê-lo, creio. E creio também que podem curtir enquanto estão nas atividades domésticas, trabalhando ou simplesmente à toa. Acho oportuno esse tipo de sugestão musical. Esses dias, por exemplo, o Scant Obscuro sugeriu o álbum New Age of Earth da banda Ashra. Eu desconhecia totalmente. E já o ouvi várias vezes desde então. Foi uma descoberta bastante satisfatória. Eu poderia passar ainda anos sem ouvir Ashra e Manuel Göttsching. Mas o post de lá corrigiu isso. Daí, penso, a relevância dessas sugestões.

Embora indique essencialmente esse formato de som para uso ambiental (especialmente quando estamos trabalhando em frente ao PC), também o uso bastante na academia. As seleções que tocam lá é horrível, com espaço até para sertanejos atuais, o que me parece totalmente inadequado para o espaço. Mas parece agradar à maioria e pelo menos ainda não chegaram no funk. Se bem que às vezes tocam Anitta, embora eu não saiba onde ela se encaixe musicalmente. Desta forma, levo fone bluetooth (um xing ling comprado por R$ 25,00, discreto e eficiente, com quase 2,5 horas de autonomia) e deixo meu telefone por perto, quase sempre no Youtube Music. Comprei earbuds JBL esses dias, mas ainda não os testei suficientemente.

Música que nos agrade é quase essencial a um bom treino. Ficamos mais relaxados e felizes, enquanto ouvimos o que gostamos. Treinar pesado, lavado de suor, é mais sofrível quando sons irritantes penetram nossos tímpanos. O problema desses fones earbuds é não abafar o ambiente externo. Mas compensa no conforto de não ter algo apertando nossa cabeça e se empapando de suor.

Falando em academia... Tendo finalmente chegado aos meus 40 anos de idade, preciso me cuidar. E confesso que encontrei prazer em treinar há pouco tempo. Sempre gostei de correr, mas percebi que a atividade estava destruindo minhas articulações, causando dores e - me parece - arruinando minha massa muscular. Musculação me deu braços fortes e algo que nem pensava ter: peitoral (mínimo, mas melhor que tetas). Pernas bacanas, sempre tive (talvez pelo hábito das corridas), mas agora estão visivelmente definidas, desde que alguém se esforce para vê-las bem de perto. Infelizmente, queimar barriga e flancos parece quase impossível, considerando que gosto de comer bem, me dando a jantares que às vezes duram horas com amigos, churrasco e bebedeira. Sou antigo consumidor de cerveja, vinho, vodca e, às vezes, cachaça. A academia não mudou este hábito. Junto ao péssimo mau hábito, ter pneuzinhos é algo genético, acho, observando minha família. Até os magros (ou fortes) que se cuidam bem os têm.

Tenho 1,82 metros e peso quase 100 kg. Tirando a pança, o restante parece bem distribuído, com músculos generoso nos membros (43 cm de braço, perna não medi), o que às vezes até rendem alguns elogios das novinhas, para alegrar o velhote. Como não consigo vencer a luta contra a barriga nem quero largar a vida de glutão, penso em recorrer à cirurgia mais à frente e ao uso de hormônios. Quanto à cirurgia, tenho dúvidas. Mas certamente tomarei "bomba" mais à frente, até porque não deixaria de se tratar de uma mera reposição, considerando o avanço da idade. Além de esteroides diversos, stanozolol, oxandrolona, testosterona e especialmente hormônio do crescimento (GH  - growth hormone), este ano certamente quero fazer uso de semaglutida, mais vendido na forma de "canetinha", como a Ozempic. Vi pessoas com bastante gordura abdominal praticamente se livrarem da pança com um mês de aplicação.

Fiz suplementação com whey protein algumas vezes, mas sempre relaxo com isso. Voltarei a tomar regularmente, porque preciso de pós-treino, já que sempre deixo a academia sem aproveitar a janela de oportunidade, não comendo nada até a hora do jantar. Cápsulas com óleo de peixe, alho etc., sigo metendo pra dentro. Sinto realmente que me fazem bem. Também pretendo estender o treino para ao menos 1,5 horas. Atualmente, não passo mais de uma hora por dia (de segunda à sexta) na academia.

Como dá para perceber nas fotos acima, treino descalço. É perigoso, pois qualquer pancada forte nos pés pode ferrar sua vida. Um pezinho possui 26 ossos e 33 articulações. Ossinhos pequenos, fáceis de virarem pó. Assim, fico descalço quando posicionado para o treino em algum equipamento. Mas, se com peso livre ou me deslocando, uso minhas sandálias Crocs clássicas, estilo Jason Voorhees, as quais me dão alguma proteção.


Para academia, levo, além de fones, luvas (gostei bastante desse modelo fabricado no Paquistão, facilmente encontrada na Centauro), toalha pequena para limpar o suor que cai nos olhos e uma garrafa térmica Contigo - aliás, marca excepcional, que conserva a temperatura do líquido por uns dois dias!

Enfim, fui falar sobre música, entrei em academia e em reflexões da idade do Condor. Mas é bom compartilhar modos de viver e ver a vida, erros e possíveis acertos. Blogue serve para isso, afinal. De acordo com o IBGE, em 2020, a expectativa de vida para nós foi de 76,8 anos. Quem está com quarenta, precisa parar e pensar a respeito. Mesmo que cheguemos aos 80 anos, a velhice é uma bosta, cheia de limitações, restrições alimentares, doenças, dores e pau mole. Acho que até os 65 anos dá para se viver com razoável dignidade plena. O restante é sobrevida. Falo a grosso modo, claro. Há exceções.

Ouça boa música, vá à academia (ouvindo a sua música), não deixe de comer o que gosta nem de beber sua bebida preferida. A vida é curta e o mundo está a cada dia mais perigoso e perto do abismo.

Abraços e carpe diem.

sábado, 25 de setembro de 2021

Wendy Carlos


Wendy e seu sintetizador modular Moog 55.

Sintetizadores não estão na abertura de Stranger Things ao acaso. Sons obtidos por estes instrumentos são a cara dos anos oitenta, embora remontem de algumas décadas anteriores. Distorções de sintetizadores analógicos eram tão comuns no cinema, TV e em alguns álbuns que no filme Mestres do Universos (para mim, um filmão!) a Chave Cósmica disputada entre He-Man e Esqueleto é, de certa forma, um sintetizador alienígena.

Posso estar muito equivocado, claro. Mas creio que Wendy Carlos foi o gênio que fez o mundo ter carinho por estes instrumentos musicais eletrônicos que, há alguns anos, eram verdadeiros trambolhos que precisavam de um cômodo apenas para si.

Não sei expressa minha paixão por Johann Sebastian Bach, apenas amo ouvi-lo há quase duas décadas. E embora tenha dividido opiniões, Switched-On Bach - primeiro álbum de Wendy Carlos, quando ainda se chamava Walter - é, pra mim, maravilhoso. Não deprecia a música clássica: pelo contrário, a enobrece, brincando, mediante ferramentas modernas, com suas composições mais representativas.

Wendy é mais conhecida por seu trabalho no cinema: Tron (1982), Laranja Mecânica (1971) e O Iluminado (1980).  Eu simplesmente não conseguiria imaginar nenhum desses filmes sem as respectivas trilhas sonoras. Imaginem Laranja Mecânica sem a música título, da abertura, criada sobre  marcha fúnebre de Henry Purcell. Ou O Iluminado sem os arranjos sombrios, conduzindo-lhe a atmosfera de medo.

Na postagem Música ambiente e paisagem sonora, destaquei algumas opções diferenciadas de música para relaxar, especialmente enquanto trabalhamos, com ênfase nas trilhas de videogame (recomendo aqui, aliás, todas as canções de What Remains of Edith Finch por Jeff Russo). E agora afirmo que é gostoso ouvir longas peças elaboras com sintetizadores. A princípio, sempre achamos legais alguns sons curtos, vinhetas etc. Mas trabalhos extensos podem ser prazerosos e - creio - vale a pena procurar algumas coisas por aí e deixar rolando durante sua rotina.

Abraços sintetizados e até a próxima.



domingo, 28 de março de 2021

Música ambiente e paisagem sonora

 


Foto de jonas mohamadi no Pexels

Quando eu era guri, adorava aquele comercial da Philco Hitachi onde o cidadão quer descansar ouvindo a belíssima suíte Peer Gynt de Edvard Grieg, pausa para atender ao telefone fixo, vem um passarinho pela janela e dá o play. Não se fazem mais comerciais como antigamente. Até isso ficou ruim rapidamente, como se todo o mundo estivesse apodrecendo. Eu gostava da propaganda porque desejava aquele aparelho de som e porque, mesmo sem saber quem foi Edvard Grieg, gostava da música. Lembro daquele comercial porque ele possui relevância com esta postagem: a música como veículo de/para relaxamento.

Sempre gostei de ouvir músicas durante prática de alguma atividade, seja doméstica ou funcional. Acho que a maioria das pessoas ouvem música enquanto cuidam da casa ou desempenham suas atividades profissionais, dentro do possível. No entanto, a música ambiente permanecia fora desse hábito. Não sei bem a razão, mas eu possuía o mau hábito de excluir totalmente a música ambiente de meu cotidiano, pois parecia algo mais destinado a espaços de uso coletivo, onde o som precisa ser neutro. Eram a tais músicas para cafeterias (isso quando não falavam em música de elevador, no passado). Hoje, som "neutro" em espaço coletivo é pancadão ou sertanejo. As pessoas que ouvem bosta fazem questão que você também ouça.

Há certo tempo (não muito), passei a encontrar em relaxantes músicas ambientais verdadeiras muletas para o estresse cotidiano. De certa forma, foi uma migração natural da música clássica (principalmente Bach e Wagner, meus compositores preferidos) para outros modos mais "pop". Assim, passei a consumir regularmente trilhas de cinema (Thomas Newman, Hans Zimmer, Danny Elfman etc.) e sons editados com o único intuito de trazer ao ambiente certa quietude.

A melhor definição para música ambiente encontramos na magnânima Wikipédia: "é um gênero musical substancialmente focado nas características timbrais dos sons, geralmente organizados ou executados com o intuito de se denotar ou estimular a criação de uma "atmosfera", uma "paisagem sonora" ou mesmo para apenas soar como um "discreto complemento” a uma ambiência".

Quando voltei a jogar videogame, conheci o grande nicho de pessoas dedicadas a isolar sons ambientais de jogos eletrônicos, paralisando a gameplay num dado momento, e captando sons agradáveis. Acredito cada vez mais na utilização destes recursos sonoros para preencher o ambiente enquanto trabalhamos. Se em casa, melhor ainda. Tranque-se no seu muquifo destinado à santíssima atividade de ganhar o pão de cada dia, elabore playlist no YouTube e a ouça, por qual via for. Vario entre celular (não é bom porque precisamos muitas vezes acessá-lo durante o trabalho) ou outro dispositivo móvel independente (costumo usar o tablet). Também podemos transmitir para a TV ou aquelas caixinhas eficientes via bluetooth. Possuo uma ótima caixa JBL, mas a evito porque não preciso de toda sua potência e qualidade para algo tão simples. Em regra, qualquer aparelho mais modesto atende a tal necessidade. Também podemos utilizar saídas de áudio do próprio PC, mas percebo que PCs com saída de áudio (nossas amadas caixinhas do "kit multimídia" do passado) estão cada vez mais em desuso. A maioria dos computadores all in one, percebo, estão vindo sem saída integrada de som. Quanto a notebook (equipamento que não gosto), o som ficaria muito diretamente sobre nós, então também o excluo.

O importante, claro, é ter acesso a uma fonte decente de som ambiental, seja qual for. Acima, só falei um pouco sobre meus hábitos. E citei o YouTube porque assino o serviço Premium para toda a família (dá para seis contas simultaneamente, o que é bastante) e não sou interrompido por propagandas. O pior da publicidade no Youtube é o excesso, o tempo de publicidade e, durante uma música relaxante, ser surpreendido com uma peça publicitária sertaneja sem nenhuma relação com o que você estava ouvindo. Às vezes, ainda acesso o YouTube diretamente na TV, sem algum conta logada, e me parece que o excesso de publicidade conseguiu se tornar pior. Mas, certamente, também podemos recorrer a mídias físicas, arquivos baixados ou outros serviços de streaming, como Spotify e Amazon Music.

Amiúdes, se ainda não recorreu à música ambiente em seu cotidiano, vale a pena tentar, especialmente enquanto trabalha. Se estiver num ambiente coletivo, use fones (bagulho que não suporto por muito tempo nos ouvidos). No conforto de sua casa, deixe circular pelo ambiente. Certamente lhe trará mais qualidade de vida.

Abaixo, selecionei o comercial mencionado no início deste post e quatro músicas/sons/paisagens retirados de jogos eletrônicos. Isso é pessoal, claro. Escolhe o que te faz sentir bem, este é o objetivo.

Abraços melódicos e até a próxima.





quarta-feira, 8 de julho de 2020

Aquela pilulazinha enrugada

Imagem de meu acervo pessoal.

I want you to know that I'm happy for you
You Oughta Know

Achei que passaria mais um mês afastado após a matéria anterior, mas a grata surpresa desta semana me fez retornar para sugerir Alanis Nadine Morissette, em 4k, aos nobres colegas e aos que aqui caírem de paraquedas.

Tomei conhecimento do disco Jagged Little Pill por meio da TV Cultura. Não recordo se nos programas Vitrine ou Metrópolis. Exibiram o clipe Hand In My Pocket e fiquei deslumbrado. Ou "alumbrado", como dizia meu amado poeta Manuel Bandeira. Na mesma semana, estando no centro da cidade, fui à loja Comeg Center e pude ouvir alguns minutos do CD. Achei ruim. Estava sem dinheiro e, mesmo que o possuísse, não o compraria. Pensei que só prestaria Hand In My Pocket, em todo o álbum. E CD era caríssimo, naquela época, para se comprar por apenas uma faixa. Só para os mais jovens terem ideia: o CD Legião Urbana Música para Acampamentos custava mais de um salário mínimo em minha adolescência, logo após a conversão de URV em Real.

Algum tempo depois, minha grande amiga Wanessa Wanderley (vulgo Madonna), com seus cinco quilos de brincos em cada orelha e os cabelos multicoloridos (entre rosa-cheguei e laranja-holanda, com tons de azul-encardido), me reapresentou o CD. E me emprestou. Em casa, ouvi cada faixa e me apaixonei. Cresci, enfim, sob o signo de Jagged Little Pill e o considero um dos melhores álbuns realizados neste planetinha infectado. E, logo após uns meses, Madonna me apresentou outro alumbramento: Vanessa Michelle, minha primeira namorada de verdade, meu primeiro grande amor. E, curiosamente, Vanessa lembrava bastante Alanis em sua fase áurea, na fase Jagged Little Pill

Wanessa Wanderley, minha inesquecível amiga, onde quer que você esteja, obrigado por tudo. Havia mencionado esta maluca na postagem Mjadra, sendo a pessoa que, no finado colégio CDI, gravava para nós conteúdo da MTV em VHS.

Esses dias, por mero acaso, vi no Youtube os clipes Ironic e Hand In My Pocket em 4K. Fui pego de surpresa. Além deles, pesquisando mais, ainda topei com You Oughta Know e You Learn. Que maravilha poder rever aquelas pérolas em excelente definição e constatar que Alanis, mesmo com o testão abarrotado de espinhas (em 4K, vemos até os cravos), era realmente linda. Achei oportuno, aqui, compartilhar minha surpresa quanto a isso, recomendar os vídeos reeditados e, claro, falar um pouco sobre minha vida. Afinal, isto é um blogue, não um mega portal.

Não sei o destino de Wanessa Wanderley. Perdemos totalmente o contato. Não a encontrei em rede social alguma nem em pesquisas a esmo na rede. E olha que sou razoavelmente bom em vasculhar vida digital alheia. Já Vanessa Michelle me pareceu estar bem (dentro de uma certa proporção). Ela não quis entrar em tantos detalhes sobre sua vida, embora tivesse também curiosidades sobre a minha. Atualmente, está casada com outra mulher e elas possuem um filho chamado Théo. Vida que segue. Bola pra frente, entre recordações de beijos sabor graviola e canções de Adriana Calcanhotto.

Essa "remasterização" - ou seja lá como se chame - dos vídeos se deve à comemoração dos vinte e cinco anos de lançamento do fabuloso álbum. Meu exemplar (foto acima) comprei em 1997. Perdi a caixa. Mas resgatei o encarte e o CD está rodável.

Vanessa e Wanessa, amo todas vocês. Sempre as amei. Sob o signo de Jagged Little Pill. Sonho um dia nos revermos e tomar uma Coca-cola juntos, falando abobrinhas sobre a vida. Mas é apenas sonho em seu estado mais puro, pois isso é impossível.

Abraços lacrimejantes e até a próxima.









quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lembre-se da sacola

Foi um daqueles dias em que parece que nevará e há essa eletricidade no ar, você quase pode ouvi-la. Certo? E essa bolsa estava dançando para mim. Como uma criancinha me implorando para brincar com ela. Durou quinze minutos. Nesse dia percebi que existe toda uma vida por trás das coisas, e esta força incrivelmente benevolente que me alertava que não há razão para ter medo, jamais. O vídeo não é a mesma coisa, eu sei. Mas me ajuda a lembrar... Eu preciso lembrar... Às vezes há tanta beleza no mundo que sinto não poder suportá-la; e meu coração irá desmoronar.
A primeira vez em que assisti à Beleza Americana estava no primeiro ano de minha graduação. Lá se vão longos anos, vez que concluí meu bacharelado em dezembro de 2005. Recordo bem eu com o DVD nas mãos, junto ao balcão, e o atendente da vídeo locadora dizendo "Esse filme é uma bosta; esse lance florzinha nos peitos não tem graça nenhuma". Não entendi até hoje como ele pode resumir Beleza Americana às pétalas de rosa nos seios magníficos de Mena Suvari.

Não revejo este filme há um tempo, embora esteja constantemente presente na grade da Netflix e da Prime Video. Não preciso rever tanto, conquanto seja, para mim, uma das maiores realizações do cinema. Está bem sólido em minha memória. 

Tudo contribuiu para uma obra de arte como aquela, desde as boas atuações do atualmente na sarjeta Kevin Spacey e da protegida Annette Bening até a genialidade de caras como Sam Mendes (Direção) e Alan Ball (Roteiro). Conrad Hall conseguiu uma das melhores fotografias do cinema explorando espaços urbanos típicos da classe média americana. Thomas Newman desenvolveu em Beleza Americana algumas de suas melhores composições. Até pessoas jovens como Thora Birch e Wes Bentley mostraram um ótimo desempenho em suas atuações. E, claro, Chris Cooper mostrava definitivamente a que veio, até o ápice de sua performance em Adaptação (2002). Beleza Americana foi um grande estado de Pura Sorte: tudo contribuiu para sua perfeição.

Não quero falar tanto sobre o filme, aqui. É que às vezes, naqueles momentos mais sombrios, acho bom quando me recordo da cena da sacola. As sombras não vão embora, e nem assim desejo. Afinal, "O quanto perco em luz conquisto em sombra e é de recusa ao sol que me sustento" (Carlos Pena Filho), e levarei este verso ao meu túmulo. Contudo, recordando a cena da sacola, as sombras parecem mais amigáveis, tranquilas, confortadoras e muito belas.

Abraços serenos e até a próxima.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Use sua ilusão [ Música, Divagações ]



Os álbuns que seriam lançados como um só, duplo.

Não foram os medalhões como Bob Dylan ou David Bowie que fizeram parte de minha formação musical. Apenas após certa idade, naquela busca por novos sons e experiências, é que fui apurando meus ouvidos. É mais ou menos como o paladar. De início, gostamos de comidas muito doces ou muito salgadas. Depois de um tempo, nem aguentamos mais comer muita bobagem e só nos agrada algo mais suave. Até uma certa idade, nada se compara a um refrigerante bem gelado. Depois de um tempo, nada mata tão bem nossa sede quanto uma cerveja! E, na minha adolescência, nenhuma banda foi tão marcante quanto Guns N' Roses; embora, atualmente, seja algo como o refrigerante em minha vida. 

Em casa, tínhamos todos os CDs da banda, comprados aos poucos, a bastante custo. Quem é ao menos da geração passada recorda como eram caros os CDs, de maneira que não é tão difícil compreender o que levou a indústria fonográfica à falência (merecidamente!). Eram apenas cinco álbuns para comprar, mas levamos anos nessa empreitada. Como era bom gastar várias tardes escutando os álbuns bonitinhos dos Guns N' Roses, em especial a engenharia de som impecável dos dois Use Your Illusion. 

Uma curiosidade: as capas destes álbuns foram elaboradas em cima do afresco La Scuola di Atene, de Raffaello Sanzio. Abaixo, posto imagem da pintura em grande resolução, destacando de onde retiraram as figuras da capa. A razão dessa postagem é que ouvi esses álbuns hoje e recordei bastante daquela fase da vida onde a única preocupação era não ser reprovado na escola. Minha adolescência teve o sabor de Use Your Illusion I e II... E o tempo passou bem rápido!

Abraços fugidios e até a próxima.