sábado, 14 de novembro de 2020

A triste história do Lenhador de Lata

 

Sou Oz, Grande e Terrível. Quem é você e por que me procura?

L. Frank Baum escreveu catorze obras que, reunidas, integram Os Livros de Oz. Tudo começou com O Mágico de Oz, na conhecidíssima trama onde Dorothy e seu cachorro Totó são arremessados à terra insólita por um ciclone. Sem dúvidas, um dos livros mais adaptados para outras mídia e, até hoje, grande sucesso em musicais, sempre referenciado em demais obras escritas - quadrinhos e literatura - e produções diversas, como desenhos animados, seriados e filmes. Acredito que o filme de 1939 foi o principal responsável pela imortalização do romance, devido à sua excelência artística e trilha sonora ainda hoje reconhecida.

A produção cinematográfica, contudo, conseguiu ser bem diferente da obra escrita, especialmente quanto ao caráter de diversos personagens. Assim, por exemplo, as Bruxas Más (Oeste e Leste), no cinema, são mostradas como passivas e até meio que injustiçadas. Contudo, no romance de Baum, elas são realmente más, escravizando povos há eras. O Mágico de Oz, na telona, acaba nos aparecendo como um mequetrefe. Contudo, no livro, ele nos argumenta acerca das razões de suas falcatruas e podemos compreendê-lo. Mas, aqui, não vou esmiuçar tanto isso. Quero apenas comentar sobre a triste história do Lenhador de Lata.

Gosto de obras infantis clássicas porque não há censura alguma. Os autores clássicos desconheciam limites. Os tempos eram duros e o mundo deveria ser retratado de maneira cruel até mesmo às crianças. Seria a vida como ela é, até mesmo no campo da fantasia. Evidenciei um pouco disso em Pinóquio de Carlo Collodi. E O Mágico de Oz não fica atrás. Assim, por exemplo, vale a pena saber como o Lenhador veio a ser quem (ou o quê) é.

Durante a travessia nas terras de Oz até chegar à Cidade das Esmeraldas, Dorothy e o Espantalho resgatam o estranho homem de lata, impossibilitado de ser mexer devido à ferrugem, em meio à floresta. Após lubrificá-lo e tê-lo como colega de jornada, conhecemos sua trágica história.

O Lenhador fora de carne e osso e era apaixonado por uma moça da espécie Munchkin - uma das várias raças dentro da rica fauna de Oz. Ambos se casariam em breve. Mas a moça convivia com uma velha preguiçosa e esta, com medo de perder a factótum, subornou a Bruxa Má do Leste para evitar o casamento. Logo, o homem passou a sofrer terrível maldição onde seu corpo era desmembrado aos poucos, sempre devido a acidentes com machado. Assim, perdeu a pena e o latoeiro a substituiu por peça mecânica. O mesmo se sucedeu com todos os membros. Chegou a ter a cabeça decepada mas continuou firme no afã de casar-se. Até que, por último, o machado lhe separou o tronco em duas parte e, na substituição, perdeu o coração. Logo, não tinha mais interesse em casar-se e esqueceu a moça, vivendo mecanicamente na floresta apenas para derrubar árvores. Assim, a Bruxa Má do Leste deu cumprimento ao contrato com velha cu-de-preguiça.

A edição que possuo é da coleção Clássicos Zahar (Bolso de Luxo), de 2013, cujo texto integral (cuidado com os textos adaptados por aí!) foi traduzido por Sergio Flaksman. Acompanham ilustrações originais de William Wallace Denslow. São livrinhos bacanas porque oferecem fonte, espaçamento e margens decentes para se ler sem excesso de esforço visual. Recordo ter comprado esse livrinho, numa gôndola, por alguma ninharia há alguns anos. Eram 225 páginas. A nova edição conta com mais trinta páginas devido a comentários supérfluos feitos por "gente entendida no assunto" e, devido a isso, o volume está custando R$ 63,90 na Amazon. A versão digital custa assombrosos R$ 39,90, evidenciando porque pessoas baixam tanto livro de graça e se recusam a comprá-los no formato eletrônico. Ainda dá para encontrar, entretanto, a edição anterior à venda.

Enfim, fica a história do Lenhador de Lata para quem a desconhece e, claro, a sugestão para que leiam O Mágico de Oz.

Abraços mágicos e até a próxima.


8 comentários:

  1. Nunca li o Mágico de Oz. Está em minha lista de leituras, que há muito não é atualizada. Faz um certo tempo que não me dedico exclusivamente a leitura de romances e achei interessante o post, tanto que fiquei até com vontade de ler. Vou experimentar ler no domingo a história Wonderful Wizard of Oz, que é essa que você descreve. Aparentemente não é muito grande e talvez seja um ótimo livro para acompanhar tardes tristes de Domingo, uma opção melhor que o futebol da Globo ou o Faustão.

    É interessante o que o amor não faz ao indivíduo. O pobre lenhador se apaixonou e tentou levar a cabo esse romance, até as últimas consequências. A cegueira que o coração neblina na cachola do indivíduo quando está apaixonado é de dar dó. Vê pedra e pensa que está a ver ouro. Pelo menos o pobre lenhador virou de lata, evitando que cometesse o mesmo erro mais de uma vez. Aqui, que não é Oz, mas as vezes parece que tem mais magia negra que terreno de macumba, o apaixonado pode ter o coração apartado mais de uma vez, tendo em vista que após um romance pode tentar engatar outro, fingindo que nada ocorreu no anterior, vivendo a vida enebriado naquela neblina do amor “dos primeiros três meses”.

    Por fim, não sei se algo é dito quanto a Munchkin amada pelo latinha. O que aconteceu com ela? Apaixonou-se por outro? Viveu para sempre na casa da velha? Morreu? Acho que dependendo do fim dado, a bruxa pode ter feito um verdadeiro favor ao lenhador tornando-o de latão, tirou dele todos os problemas do coração.

    Abraços da cidade grande, onde todos os dias corações são partidos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala, Matheus.
      Por ser uma obra curtinha e "crássica", vale a pena tentar. Fiquei apenas neste primeiro volume, inaugural. É realmente O Maravilhoso Mágico de Oz, como você bem disse. Aqui, reduzimos para O Mágico de Oz.
      No caso, mesmo sem conseguir mais amar, o lenhador quer voltar a fazê-lo, e por isso deseja um coração. O cérebro, ele havia perdido há bastante tempo, desde a decapitação. Mas não sentiu falta.
      A natureza masculina (especialmente contemporânea) é de gadagem. Os homens tomam no aro por causa de mulher e continuam insistindo no erro.
      O lenhador não volta a reencontrar a noiva. Pode ter ocorrido noutros livros da série, mas não neste. Mas ele diz que ela ainda o estaria aguardando, enquanto continua servindo de faz-tudo à véia safada.
      Corações partidos ocorrem até nos rincões... E o pior é que a notícia se espalha.
      Abraços!

      Excluir
  2. nesse site tá em promoção: (https://b-ok.lat/s/magico%20de%20oz/?language=portuguese&extension=mobi)
    triste e poética estória
    lembrei de Fables (Bill Willingham), onde os contos de fadas parecem mais reais que nunca

    abs!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dei uma olhada nesse aqui: https://www.gutenberg.org/files/55/55-h/55-h.htm
      Em HTML não tem perigo de distorção do texto, como ocorre as vezes em mobi, mas só achei em inglês. Mesmo assim, boas promoções para os clássicos, independente da plataforma.
      A propósito Scant, obrigado pela referência do Boo-Lat, salvei aqui como outra fonte de livros =D.

      Fables era bem legal, li bastante dele online, mas não lembro muito. Lembro que começou a ficar grande demais, as vezes penso que estão enrolando pra sugar um pouco mais de moedas dos leitores e fico cansado. Último gibi/mangá que li inteiro que era gigantesco foi Naruto. Aposto que se fosse começar hoje, não leria, a menos que fosse uma maratonada em alguma férias de 15 dias kk.

      Excluir
    2. valeu cara
      estamos aqui para partilhar conhecimento
      fables não cheguei a terminar, mas li mais de 100 edições
      to lendo 'ataque de titãs" e já matei 132 capítulos - boas estórias merecem nosso tempo

      abs!

      Excluir
    3. Fables li toda a série principal e leria novamente. Mas fugi de qualquer spinoff. Mesmo sendo excelente, poderia ser mais enxuta.
      Poderia ser algo mais curto e depois ficar tudo no "Fábulas Apresenta", acho.
      O problema do texto eletrônico ainda é distorção. E imagens, penso.
      Um dia, solucionam isso.

      Excluir
  3. Foda demais a origem da falta do coração no Homem de Lata. E o que disse é verdade, o mundo era apresentado às crianças como ele de fato o é. As crianças eram criadas e educadas para o duro da vida, para serem adultas. Hoje é o inverso, os adultos são doutrinados para serem eternos jovenzinhos, adolescentes de meia-idade ridículos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A pandemia pela qual passamos é a de síndrome de Peter Pan.
      Gente que não sabe sobreviver, medrosa e carente de atenção social e estatal.
      Valeu, Marreta!

      Excluir

Comente ou bosteje.