Respondendo logo ao questionamento do título: por enquanto, sim, especialmente para cargos onde se exige nível superior e, mais especialmente ainda, para cargos de elite. Para estes, exigem-se anos e anos de estudo com afinco e dedicação. Ninguém é nomeado para Diplomata ou Procurador do Trabalho com poucas horas de estudo ao dia. Estimo que, para cargos dessa natureza, o cidadão tenha que se dedicar em torno de quatro anos, talvez, com uma média diária de oito horas de estudo. E estudo proveitoso, não qualquer forma de "aprendizado". Método é importante. Há casos onde o sujeito ingressa nesses cargos com pouco esforço? Sim, casos raros, pontuais, dependendo da qualidade da massa cinzenta do cidadão. Tive um colega de faculdade, por exemplo, que, ainda no meio do último ano, passou em segundo lugar para Auditor-Fiscal da Receita Federal. Mas ele sempre esteve acima da média. Conseguiu antecipar o curso e não passou nem dois anos no cargo, pois depois foi nomeado para Procurador de Contas. Daqui a alguns anos, creio, será Conselheiro no Tribunal de Contas, dentro da reserva de vagas ao Parquet, pois ingressou muito jovem no cargo e terá tempo de carreira, por antiguidade, até lá.
Mas voltemos ao assunto: você não precisa ser gênio como meu colega. Basta estudar um pouquinho e escolher aqueles cargos de nível superior, na intricada burocracia nacional, onde dê para retirar um troco bacana - hoje, não menos do que 25k ao mês, em final de carreira. Sem contar que é satisfatório usar o diploma. Acho meio deprimente o cidadão gastar cinco anos numa faculdade para, depois, não fazer nada com o canudo. Então o uso do diploma, além do benefício financeiro, lhe trará benefícios emocionais, psicológicos e espirituais. Conheci uma motorista Uber formada em Engenharia Civil numa bagaça privada qualquer (se bem que universidades públicas também estão uma bagaça) que me disse não ter conseguido emprego em sua área, por isso estava como Uber. Até aí, normal. Muita gente inventa de fazer curso superior sem nem saber se aquilo é para si. Mas o problema é que ela soltou uma que "estava mais feliz assim". Cara, pura conversa fiada.
Por que entro neste assunto? É que muitos guris andam me perguntando se concurso vale a pena, ainda, considerando que - em breve, talvez - quase não existirão. Possivelmente, alguma nova reforma administrativa acabará com os concursos para cargos em atividade meio. Exemplo: em tribunais, haverá concurso apenas para magistrados. Servidores desempenham meras atividades de suporte. E por aí vai a coisa. Além disso, cargos como policiais e fiscais de tributos continuarão sendo providos por meio de concurso. Isso se não privatizarmos a polícia, como na OCP de Robocop! Creio que dá para terceirizar quase tudo por aí. Se não isso, farão o seguinte: processo seletivo. Mesmo sem amparo legal, recordo que o Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins abriu processo seletivo para cargo efetivo. Logo, o sujeito passaria apenas alguns anos no desempenho das atribuições e depois ganharia um pé na bunda.
Mas, por enquanto, nossa burocracia ainda comporta cargos efetivos e estabilidade nos mesmos. Então vale a pena, sim. É o que lhes digo. Mesmo que amanhã mudem tudo, quem garantiu o seu lugar ao sol, permanecerá aquecido. Falo sempre aos meus colegas próximos que somos dinossauros. Em alguns anos, seremos servidores efetivos trabalhando com pessoas contratadas a preços módicos e com gente temporária de processo seletivo. E, para mim, tanto faz. O mundo muda. Não posso me preocupar com isso, nadar contra a maré. Se os brasileiros terão uma melhor ou pior prestação de serviço, quem saberá dizer? Muitos setores, onde todos são estáveis nos cargos, já não funcionam!
O Brasil é o país dos concursos públicos, pois não temos livre mercado. Nosso capitalismo é de compadrio. Só prospera, em regra, quem é amigo do Rei. Este ano mesmo descobri que meu colega bem sucedido no setor de pré-moldados, eletrificação e energia solar só chegou lá graças a contratos com várias prefeituras. Se dependesse apenas do mercado convencional, estaria na merda. Há as raras exceções, claro; mas são raríssimas, mesmo. Antes, havia mais histórias de sucesso pela garra e determinação. Hoje, isso é raro. Se o sujeito não for herdeiro ou bem apadrinhado, será triturado no moedor de carne estatal.
Além disso, empreender sem apoio estatal é para trouxas. Você será o vilão da história: empresário malvadão, tomador da mais-valia do operário. Terá agentes públicos te infernizando: fiscais de tributos municipais, estaduais e federais, fiscalização sanitária e ambiental, fiscais do trabalho, oficiais de justiça etc. Exemplo bizarro: um conhecido explora o pó da carnaúba para produção de cera. Ele fornece refeitório, EPI, banheiro químico etc. Mas, certa vez, um empregado seu que só gosta de comer à sombra da árvore (matuto legítimo) estava atacando sua refeição e, ao lado, estava seu cachorro de estimação. Para onde ele vai, o bichinho segue atrás, até mesmo para o trabalho. Então ele ia comendo e jogando sobras ao animal. Por azar, apareceu uma fiscalização do trabalho no momento: comendo no chão com os animais, multa de quase dez mil paus. E foi isso. Mesmo o empregado falando que não era nada disso, o patrão rodou na multa. Vale a pena empreender assim, a não ser que seja com gordos contratos junto ao poder público? Para mim, não. A paz de espírito não tem preço.
Outra vantagem de optar pelo concurso público, enquanto ainda existe, é que nos sentimos meio que justiçados. Explico: este é um país de vagabundos, onde a vagabundagem é estimulada. Pessoas que não estudam nem trabalham, que passam o dia todo coçando o saco esperando migalhas caírem do céu: bolsas, auxílios diversos etc. Querem mimos, pois se acham merecedores de tudo porque "também pagam impostos". Ora, como pagam impostos se não produzem, se não dão força de trabalho à sociedade? Os tributos indiretos sobre consumo, é isso? E os impostos diretos? Nunca pagaram nem pagarão. Na verdade, não produzem nada no mundo a não ser merda e flatulência. Apenas ocupam espaço e abarrotam nosso sistema público de saúde, dentre outros sistemas. Desocupados deveriam dar retorno à sociedade de alguma forma, quando usufruem de benefícios diversos. Que dessem ao menos um dia de trabalho ao mês a órgãos públicos, em atividades realmente essenciais, como zeladoria, segurança, jardinagem etc.
Então: a outra vantagem é que, num país de vagabundos, ao menos no serviço público você está embolsando grana dos cofres públicos. O importante é desempenhar bem suas atribuições, fazer a contento seu trabalho e dormir tranquilo. Mas, claro, infelizmente, somos a única categoria que não pode fugir do pesado imposto sobre renda, já descontado sobre nosso holerite. "Ah, mas em empresas também é assim etc.", dizem. Não, não é. Empresas que pagam bem conseguem seus "arranjos" juntos a empregados. Há gente por aí com um salário mínimo anotado mas que, na verdade, embolsa vinte vezes isso, em comum acordo com o empregador. E, pela ótica libertária, não estariam errados. Apenas estão fugindo da sanha predatória do Estado e seus cupinchas.
Agora, certamente, tudo o que falo acima sobre concurso público é destinado a quem não possui dotes especiais: cozinha, mecânica, obras diversas etc. Para muitas profissões bem remuneradas e com ótimo mercado, não se exigem diplomas. Mas se exige "dom", talento. Conheço mecânicos que estão ricos, fazendo o que amam, assim como padeiros, cozinheiros etc. Se você leva jeito para algo que não exija universidade, invista nisso. Ganhe grana sendo feliz. Na minha família, há gente que fez até pós-graduação fora do país para, hoje, estar vendendo miçanga. E não está feliz com isso, claro. É porque é o que deu, pois inventou de se meter numa atividade específica, que exigiu anos de estudo, sem refletir a respeito.
Então é isso. Sou servidor público há duas décadas, pois nunca me vi bajulando políticos ou me corrompendo para poder empreender neste sistema imundo de compadrio, nem tenho saco para ter meus próprios colegas servidores públicos me perturbando com fiscalizações, multas esdrúxulas e exigências insanas. Nunca me faltou disposição para estudar. Fui um moleque que sentia prazer em aprender. E também gosto de trabalhar, pois não consigo me ver como vadio. Logo, me sobrou o setor público. Como muitos estagiários andam me perguntando se ainda vale a pena estudar para concurso, digo que sim. Além disso, quando no cargo, tente fazer a diferença - realmente cumpra seus deveres funcionais, faça a coisa andar, seja gentil com os usuários do serviço e embolse, em paz, sua grana.
Abraços barnabés e até a próxima.
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