quinta-feira, 2 de junho de 2022

Ademir corno


Noiva de Ademir lamentando sua prisão.

Foto de Jill Wellington, no Pexels

Toda vez que o seu namorado sai
Você vai ver outro rapaz
Olha, todo mundo está comentando
Seu cartaz tá aumentando

Reginaldo Rossi

Não recordo o nome do infeliz, mas aqui quero chamá-lo de Ademir porque a maioria das páginas de humor, há algum tempo, gostava desse nome quando falava de chifrudos. Conheci Ademir, o corno, no xilindró. Na época, eu era estudante de Direito e ocupava um cargo de Oficial de Justiça (exigiam apenas nível médio). Era um emprego excelente, aliás: ganhava relativamente bem, tinha liberdade para organizar minha rotina em apenas dois dias na semana (de manhã à noite, claro) e vi muita coisa bizarra. Uma delas foi o caso do Ademir.

Ademir era um artista. Fazia esculturas com palitos de picolé e vendia na feira e em eventos. Vendia bem, aliás. Eram trabalhos lindos! Só que era cornão, apaixonado pela honrada namoradinha que liberava geral. Certo dia, Ademir estava às margens da barragem local (eu mesmo gostava de comer peixe num restaurante próximo) e seu amigo de infância o advertiu que tivesse cuidado com a honradinha, pois ela estava pulando a cerca. Todo mundo sabia, menos o corno artesão. E não deu outra: Ademir puxou um canivete e acertou a primeira nas costas do amigo. Depois, atochou mais meia dúzia de furadas. Matou o otário que não sabia manter a boca fechada e parou no xilindró.

Às vezes eu ia à cadeia (não prisão) para algumas diligências bestas. Hoje em dia, fazem o máximo possível de maneira informatizada, pelo que eu soube. E numa dessas oitivas fui falar com Ademir, trancado na cela com mais uns dez fodidos na vida, no meio daquele cheiro de urina, sêmen, cocô e suor. Entre algumas trivialidades com o corno nervoso (e agora assassino), perguntei se valeu a pena, ao que ele disse que sim e que, inclusive, lambeu o sangue do finado, literalmente. Já viram isso em filme: lamber o sangue da faca? Foi o que ele fez. Além de homicida, boi e artesão, era também seboso.

Ademir era corno macho. Corno nervoso. Matou o amigo à traição quando soube do chifre e lambeu o sangue. Não sei como ficou sua situação, mas deve ter passado anos e anos preso, talvez até dando o anel e mamando piroca, enquanto sua honrada namorada curtia o carrossel de pintos do lado de fora. Ah, e não a estou criticando. Como dizia minha finada avó: "Os vivos vivam"... e como quiserem. Trouxa foi o Ademir.

Por que lembrei disso? É que vi esses dias no Youtube um caso onde o corno bravo matou o talarico. Então um cara comentou "Bem feito, com talarico é bala". Evito retrucar, mas comentei que, agora, a garota iria curtir a vida em liberdade enquanto o matador ficaria compartilhando o toba no xilindró, naqueles famosos troca-cus que rolam na calada da noite prisional. E o rapaz me disse que "tem que ser assim mesmo, pois o importante é dar uma lição no talarico". Achei interessante então recordar do Ademir, corno nervoso e hábil artesão.

Abraços e fiquem com o grande poeta e meu conterrâneo Reginaldo Rossi, que até hoje deve fazer os Ademires desse vasto Brasil chorarem, na noite mais densa, na hora mais escura...


4 comentários:

  1. se esse pessoal fosse um pouco redpillado, ia agradecer o talarico e pular fora do relacionamento.
    ou, na pior da hipóteses "encenar" de maneira bem feita uma legitima defesa.
    mas imagino que a maioria seja um bando de homem burro governado por instinto
    não tem jeito

    abs!

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    1. Olha, Scant. Vou até além. Nem precisava ser redpillado. Bastava aquele mínimo de bom senso. Um cara na casa dos 20 anos que jogou a vida no lixo! abç!

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  2. Pois é... uma das grandes virtudes que um homem pode e tem que desenvolver é a de ser um corno manso; se não quiser acabar mamando a piroca do Ditão Pé de Mesa. E tem aquela história do corno que, para se vingar da mulher, começou também a dar a bunda. Pãããããããta....

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    1. Fala, Marreta! Corno malvado! Dá o troco na mesma moeda: com o redondo! Abraços!

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