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sábado, 24 de outubro de 2020

Turma do Chiquinho

 

Caneca da linha promocional, sempre surgindo durante o ano.

Eram comuns ações publicitárias no formato quadrinhos, quando eu era guri. Marcas grandes elaboravam sequências de histórias em quadrinho para divulgação de seus produtos. Isso era feito encartado dentro de publicações variadas, de forma totalmente independente ou, então, como página publicitária, quase sempre na quarta capa. Recordo bastante, por exemplo, da Turma do Guaraná Brahma, cujo mundo era quase bizarro.

Haviam as grandes campanhas utilizando personagens consolidados, apenas com patrocínio da marca. Assim, por exemplo, foi a coleção de cinco revistas Turma da Mônica Especial Coca-Cola. Na época, você trocava tampinhas de garrafa por gibis. Mas meu foco, aqui, são mesmo aqueles gibizinhos elaborados especificamente para divulgação de marcas. E, levando minha filha para tomar sorvete, vi a distribuição gratuita da revista Turma do Chiquinho. No primeiro número, somos apresentados a toda a turma, com ênfase no Chiquinho e seu avô sorveteiro. Em tempos onde a Magali faz regime e Mônica não pode ser chamada de gorducha, o protagonista nos é apresentado como um garoto comilão, voraz consumidor de porcarias como balas, jujubas e chicletes. Além disso, ele é gordinho, o que, penso, ajuda até mesmo na concepção de que haver crianças gordas é normal (em vários casos, evitável) e, com isso, ajudamos até mesmo o trabalho contra o tal do bullying.

Achei bacana a iniciativa da rede brasileira de franquia. Fazia tempo que não via isso e, em tempos de mídias 100% animadas e digitais, editar algo assim possui ares nostálgicos. Para a criançada, chega a ser algo novo, diferente, vez que os gibis infantis em formatinhos estão encolhendo no mercado e, percebo, são adultos os que mais compram.

Parece meio bobo compartilhar, aqui, gibi promocional da Chiquinho Sorvetes. Mas, como antigo leitor de quadrinhos (e olha que eu lia até gibis do Faustão e de Leandro & Leonardo), interessado nos aspectos semiológicos dessa forma de arte e, claro, fornido consumidor de sorvete juntamente com minha pimpolha, não poderia deixar esta curiosidade passar em branco.

Ficha técnica (Notas de Expediente). Nome original: Turma do Chiquinho. Propriedade: CHQ - Gestão Empresarial e Franchising LTDA. Ano de Produção: 2019. Gênero: Infantil. Redação: Gustavo Azevedo. Ilustrações: Pedro Candolo. Diagramação: Higor Gimenes. Revisão: Jéssica Neves. Cores: Pedro Candolo, Higor Gimenes, Fernanda Alves e Pablo Maduro.

Doces abraços e até a próxima.






sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O Beijo no Asfalto em Quadrinhos

O dinheiro compra até amor verdadeiro.
- Nelson Rodrigues

Tive contato com a obra de Nelson Rodrigues aos meus catorze anos de idade, quando pequenas adaptações eram exibidas no Fantástico (o show da vida!). Era o que tinha para ver: a televisão e o que ela queria nos dar e como queria nos dar. Não sinto saudades daquela época, embora sempre me recorde com carinho. Depois, houve reapresentações do seriado em outros anos e noutras grades. Em pesquisa na Wikipédia, descobri que "O nome da série é uma referência direta à coluna de Nelson no jornal Última Hora, onde o autor escreveu grande parte de suas histórias." E, cara, como era legal ver putaria na TV, naquela época. Também eram o que tínhamos: TV, poucos VHSs e revistas para dar vazão à tara adolescente que saía pelo ladrão.

Com catorze anos de idade eu já era leitor contumaz não apenas de quadrinhos, mas também de literatura variada. E logo fui à cata de conhecer mais sobre o dramaturgo e suas realizações, bem como de sua vida fodida e repleta de azares e tragédias. E, mais à frente, o vi sumir do mapa junto a autores como Monteiro Lobato e outros "cancelados" pela hegemonia progressista que realmente manda na porra toda. Embora sempre mostrando que, por trás da tradicional família brasileira, havia desvãos sinistros, Nelson Rodrigues foi árduo opositor ao progressismo e voz poderosa em prol do conservadorismo político. E, por isso, sua obra hoje está no ostracismo; ou melhor: sepultada sob pás de cal.

À toa numa banca de revistas, acho que no ano de 2012, vi a adaptação para quadrinhos de Beijo no Asfalto, por Arnaldo Branco (roteiro) e Gabriel Góes (desenhos). Custava uma mixaria e era o que valia, diante do formato diminuto (pocket da Ediouro, 12 x 18 cm) e acabamento vagabundo. Comprei e achei bem legal a adaptação, em traços duros e sombrios, sem arroubos e floreios. Descobri que a primeira versão do gibi saiu em formato americano, em 2007, com selo Nova Fronteira (empresa do grupo Ediouro). Certamente, a versão diminuta tolheu bastante da fruição estética.

A trama de O Beijo... é muito simples. Um homem casado, no horário de pico em meio à Praça da Bandeira, se ajoelha e beija a boca de outro homem prestes a morrer após atropelamento. A imprensa marrom logo se apropria da história para, junto à polícia corrupta, dissecar a vida do cidadão, arruinar sua existência familiar e profissional e, levando tudo às últimas consequências, lhe dar o famoso desfecho trágico e aparentemente insólito, típico da narrativa deste grande autor.

Esses dias, vasculhando meus gibis, reencontrei este quadrinho e o reli. E não sei porque razão achei interessante compartilhar aqui. Para quem quiser ler sem meter a mão no bolso, recomendo o blogue Caverna Nerd.

Abraços rodriguianos e até a próxima.




segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Eu sou o marinheiro Popeye


Imagem de meu acervo pessoal.

Vagando só, no mar ardido,
até pensei: estou perdido!
Senti coceiras na pança
e esvair-se a esperança.

Mas os deuses - é o segredo
- só testavam o meu medo.
Quando a fé já era parca
enviaram-se uma barca.

E, quem sabe, nessa nau
eu até não me dê mal:
minha fama não conheçam
e comida me ofereçam

Dudu J. Pimpão, em Na Terra dos Jeeps

Como a maioria dos semi-velhotes de hoje, tive contato com Popeye por meio dos desenhos animados - os quais tiveram vários estúdios no decorrer das décadas - e do filme duvidoso de Robert Altman, estrelado por Robin Williams e Shelley Duvall (atriz que adoro). Só bem tardiamente tomei conhecimento das tiras e dos quadrinhos mais longos. Aí descobri o trabalho do criador E. C. Segar (cigar?) e das pessoas gabaritadas que deram continuidade à sua obra, como o saudoso Bud Sagendorf. Pesquisando mais sobre o assunto, descobri que os primeiros quadrinhos do personagem "foram publicados pela primeira vez em 1932 no jornal Diário de Notícias. Nessa época Popeye e Olívia tiveram os seus nomes traduzidos nas primeiras publicações, Popeye se chamava "Brocoió", Olívia "Serafina". Porém os nomes não fizeram sucesso, e acabaram mudando para os que são conhecidos até hoje em dia" (v. Wikipédia). Os últimos gibis surgidos por aqui foram Super Popeye (2014) e Popeye Clássico (2016), pela Pixel (pertencente ao grupo Ediouro, responsável por uma longa época de quadrinhos variados no Brasil, antes da expansão da Panini). E foi justamente esse Super Popeye que reli esses dias, embora tenha alguns formatinhos também da Pixel com tiras clássicas encartadas.

Super Popeye reúne cinco números do gibi escrito por Roger Langridge e ilustrados por diversos artistas. Não entendi porque a Pixel não publicou logo tudo em um baita encadernado, pois a série totaliza doze número. E o pior: quando lançaram o segundo volume, mudaram o nome para Popeye Clássico e não deram continuidade a nada de Langridge. Coisa do mercado editorial brasileiro, sempre caótico e cagando para nós, leitores. É uma pena, pois as HQs são maravilhosas e sempre pedem uma releitura em momentos de ócio.

Aparentemente, Roger Langridge tentou manter-se fiel à ideia primeva de Segar. O mundo de Popeye é rico e às vezes esdrúxulo. Nas animação, tudo é muito fofo e linear: Brutus (Bluto, originalmente) é o vilão temido pela delicada Olívia. O velho marujo sempre vem ao seu socorro e todos acabam bem, exceto o vilão. Mas, nos quadrinhos, a magricela é uma baita safadinha que não pode ver homens fortes sem ficar ávida para dar, despertando ciúmes no caolho. Ah, e ela trata mal à beça o velho lobo do mar, chamando-o de panaca, entre outros epítetos. Está sempre de mau humor e rangendo os dentes, numa eterna TPM. No meio de tudo isso, temos o Dudu que, além de comilão, é um tremendo escroto, Interesseiro com "I" maiúsculo e amigo da onça, caloteiro, punguista e ardiloso. E a fauna esquisita está presente e sem demais explicações, como o "jeep" Eugene e a "goon" Alice, baba do bebê Gugu (filho adotivo de Popeye, que mora numa casa-barco com o velho papai-Popeye).

O mais bacana dessa leitura é constatar que, felizmente, não houve espaço para o insosso politicamente correto nesses quadrinhos. E olha que Langridge é bem moderninho e "engajado" com pautas desmioladas. Se algum dia topar com essa publicação em sebos, compre. Valerá a pena.

Abraços a bombordo e até a próxima.

A jogatina rola solta.

Os benefícios do tabaco em terras (e mares) tropicais.

Sem espaço para vegan power.

Porque bicho foi feito pacumê.

Mulheres histéricas.

Sacrossanto direito de infernizar o marido.

Palito dá pra todo mundo.

sábado, 5 de setembro de 2020

Encadernados brazucas de Alan Moore


A imagem acima é de meu acervo pessoal. Este é o nicho batizado de "muriano". Ainda possuo outras publicações do barbudão, como A Saga do Monstro do Pântano (volumes Panini e Brainstore), os dois volumes de Promethea (Panini, embora eu também tenha algo da Pixel) e outros bagulhos que agora não recordo e não catarei no meio da tralha.

Analisando postagens disponíveis no blogue anterior, me deparei com a transcrita abaixo, onde comentei brevemente acerca de minha biblioteca alan-muriana. Faz anos que a escrevi (acho que mais de sete). Até então havia, editado por aqui, pouco material do escritor. Felizmente, isso mudou. O que há de novos/velhos títulos publicados por nossas editoras não é pouco. Me assombra, no entanto, o fato de espremerem o bagaço até o final para extrair o máximo do nome do barbudão. São títulos como, v.g.Bojeffries: A SagaHistórias BrilhantesMaxwell: O Gato MágicoCinema PurgatórioChoques Futuristas. E a tendência é que continuem assim: raspando o tacho em busca de obras obscuras e insignificantes e republicando em vários formatos os "clássicos".

Ah, essencialmente, acho positivo tudo isso. Quem quiser, deixe de comprar supérfluos como comida, roupas e produtos de higiene e aloquem tudo em gibis. Não estou comprando tudo o que é porqueira. Aliás, este ano praticamente não comprei quase nada impresso. E a tendência será essa. Falei antes e ratifico: darei mais ênfase ao material digital gratuito, tanto para livros quanto quadrinhos. Mas isso é algo realmente bem pessoal. Acho válido que o cidadão compre livros e quadrinhos impressos, às toneladas, se possuir grana e local para guardar tudo. E, claro, se for realmente ler. Se bem que, muitas vezes, a "montagem" de uma biblioteca não exige a leitura de tudo. Se eu fosse rico, por exemplo, teria uma biblioteca como aquelas de filmes, com pé direito ad astra et ultra, escadas, mezanino e poltronas Charles Eames e Chaise Le Corbusier até mesmo para convidados. Faria uma curadoria de tudo o que acho significativo e pagaria até mesmo bibliotecário para catalogar e higienizar tudo. Mas não é esta minha realidade. E estou bem assim do mesmo jeito.

A partir dos próximos parágrafos, segue a postagem original então disponível em meu blogue anterior. Não tive saco para atualizá-la e os links mencionados, obviamente, não existem mais, pois remetiam ao site anterior. É uma postagem com valor de curiosidade, enfim.

* * *  * * *
Em complemento à postagem anterior, resolvi elaborar uma lista de encadernados escritos por Alan Moore disponíveis em português por editoras nacionais. Acima, imagem de minha "biblioteca Mú". O único volume em inglês é A Small Killing, com arte incomum do ilustrador argentino Oscar Zarate (belas aquarelas). Prefiro comprar edições nacionais, especialmente em razão de meu inglês pobre. Recomendo todos os gibis aqui listados, inclusive o livro caprichado da Mythos com a biobibliografia do Senhor do Caos. Quanto ao encadernado com lombada de couro e nervuras - da imagem acima - foi feito por mim. Já falei sobre esses encadernados "caseiros" anteriormente. Nele, inseri as séries fraquinhas do escriba para Spawn pela Abril: Feudo de Sangue (mini em duas edições) e Violador (mini em três edições) e os cinco números do famoso título Tomorrow Stories, do selo America's Best Comics (ABC), lançados pela extinta Pandora Books e distribuídos pelo então selo HQ Club.

👉Lost Girls, em três volumes lançados no decorrer do ano de 2007 pela Devir. Mais detalhes acerca dessa obra poética conhecida como "a pornografia elegante de Alan Moore", você confere neste link. Essa ode aos quadrinhos eróticos levou em torno de dezesseis anos para ser concluída. Infelizmente, os encadernados suprimiram várias das capas bem boladas pintadas por Melinda.

👉Skizz - Contato Imediato, lançado aqui pela Pandora Books em 2003. Álbum brochura em P&B, no formato 21,0  x 27,5 cm, com 100 páginas. Arte de Jim Baikie. Pouca gente conhece esse gibi, o que é uma pena. Quando ainda desconhecido no mainstream americano, o ermitão mostrou sua genialidade na mítica publicação britânica 2000AD. O título era notadamente uma paródia ao sucesso do filme E.T., O Extraterrestre.

👉D.R. & Quinch. Outra ótima HQ da 2000AD, editada em 2003 pela Pandora Books, com papel de qualidade, tipo cuchê, e colorida. Em especial, destaco a arte sempre minuciosa de Alan Davis, artista que já trabalhou com Moore em títulos inovadores como Capitão Britânia e Marvelman (Miracleman). Infelizmente, em razão de problemas envolvendo a Marvel e direitos autorais, a amizade entre os dois Alans foi abalada, deixando-os inclusive sem se falar até hoje. Coisa de egos inflados.

👉A Liga Extraordinária, com edições lançadas pela Pandora Books, Panini e Devir. Atualmente, encontramos os volumes Um, Dois e Três (este, dividido em três livros-capítulos). Aqui no blogue, há espaço destinado a longas resenhas acerca de obras de Mú, incluindo anotações sobre A Liga. São resenhas extremamente minuciosas que recomendo.

👉A Balada de Halo Jones, reunindo a série icônica da 2000AD, lançada aqui pela Pandora Books em 2003. Arte de Ian Gibson. Livro no formato 13,5 x 20,5 cm, com 204 páginas em P&B. Já foi anunciada pela Mythos o relançamento de A Balada Completa de Halo Jones. Aguardemos! Para as garotas: traz a primeira heroína feminista dos quadrinhos. Mas feminista de ficção, obviamente, que arregaça as mangas para carregar sacos de cimento ou ir à guerra.

👉Encadernados Devir de Supremo, lançados entre maio de 2007 e julho de 2008, em brochuras com miolo cuchê. Os quatro volumes homenageiam as Eras de Ouro, Prata, Bronze e Moderna dos quadrinhos. A série contou com a participação de vários artistas, destacando-se Rick Veitch por sua "arte nostálgica", emulando o traço comum de cada época abordada nos roteiros de Moore. É tudo o que poderiam ter escrito acerca de meio século de Superman; mas, no lugar do filho de Krypton, o plágio de Rob Liefeld e Brian Murray.

👉Do Monstro do Pântano, possuo apenas os três primeiros encadernados da Saga. O primeiro volume da Pixel e os demais da Brainstore. Continuarei o Gótico Americano pela Panini. Mais sobre esta obra embrionária, que deu origem ao selo Vertigo da DC Comics, neste link.

👉Por que não lançar encadernados compendiando histórias curtas do mago? Isso foi feito em Grandes Clássicos DC Alan Moore e O Universo Wildstorm por Alan Moore, editados pela Panini em 2006 e 2010, respectivamente. Do encadernado Grandes Clássico - edição apenas com obras-primas como A Piada MortalO Que Aconteceu ao Homem-de-Aço etc. - destaco duas curtíssimas, discretas e belas histórias para o título The Omega Men, que mostra a maestria do escritor em fazer histórias curtas interessantes com um final surpreendente. No livro com histórias do agora selo Wildstorm destaco o conto pós-apocalíptico Majestic, O Último Inverno.

👉Watchmen em quatro volumes pela Via Lettera. Para mim, ainda a melhor edição nacional. Embora sejam brochuras, o papel grossinho tipo offset permite uma melhor leitura e impressão, superior ao cuchê, e sem cansar a visão ou prejudicar a leitura com reflexos. Esta série foi lançada de setembro de 2005 a agosto de 2006. O preço de capa de cada volume foi R$ 42,00, evidenciando como, atualmente, os preços de HQs da Panini são até "em conta".

👉A Wildstorm colocou muito lixo na praça: HQs visualmente sedutoras e pobres em conteúdo. Até que convidou Alan Mú para melhorar o nível da coisa. Para a superequipe WildC.A.T.s, foram escritas histórias curtas e alguns arcos. A Pixel compilou as séries De Volta Para Casa e Guerra de Gangues em duas brochuras com papel cuchê, em 2007 e 2008. Emboras os preços fossem salgados para época, comprei os dois gibis numa gôndola de supermercado por uma mixaria, no mesmo ano em que a Pixel perdeu os direitos da publicação de praticamente tudo o que vinha editando. Fazia tempo que eu não sentia tanto prazer em ler histórias de superequipes, até topar com essas revistas. Assim como fez em Supremo, o autor apenas ratificou não haver personagem ruim; o que há é mau escritor.

👉Do Inferno é o melhor gibi que já li. Já o tivemos pela Via Lettera em quatro volumes, com capa cartona e miolo em offset. A arte em P&B de Eddie Campbell dá corpo a um dos roteiros mais densos já realizados pelo escritor. Embora o tema central sejam os assassinatos a prostitutas de Whitechapel por Jack The Ripper, nos deparamos com uma trama mais complexa, com várias camadas e a abordagem maciça da psicogeografia. Há boatos de que a editora Veneta editará, numa edição definitiva, esta obra, que aguardou quase dez anos para se concluída. Um gibi nascido a fórceps, semelhante a Lost Girls.

👉Temos dois encadernados Top Ten publicados pela Devir: Contra o Crime (2005) e Assuntos Internos (2006). Em uma cidade onde todos possuem superpoderes, como seria o policiamento? Essa é a premissa desta insólita HQ de super-heróis. As brochuras com orelhas e papel cuchê possuem em torno de 200 páginas. A arte de Gene Ha é competente, diferenciada e cheia de detalhes; alia-se a isso uma colorização forte, que dá vivacidade aos personagens. Mais um título do selo ABC.

👉Também com o selo [de ótima procedência e extrema qualidade] America's Best Comics nos chegaram as histórias de Tom Strong, a maior homenagem quadrinística à literatura pulp que já li. Este conhecido "herói da ciência" (na verdade, um Tarzan pós-cibernético) nos dá ótimas aventuras. Além de um encadernado da Pandora Book reunindo uma mini-série em três edições (o qual não tenho na coleção), destaco os seguintes lançamentos: Um Século de Aventuras (Devir, 2005), No Final dos Tempos (Devir, 2006) e A Invasão das Formigas Gigantes (Pixel, 2008). O trabalho editorial e gráfico da Devir, como sempre, foi esmerado. O "encalhernado" Pixel é fraquinho, em termo de acabamento, o que não impediu a editora de cobrar mais de R$ 30,00 em aproximadamente 130 páginas.

👉Não falarei muito de Promethea em razão de temos no Brasil, até agora, apenas um encadernado, o que é inexplicável. Ainda cito os dois títulos já lançados pelo selo independente Avatar Press em terras auriverdes: Neonomicon (2012) e Fashion Beast (2014), em TPs pela Panini. Noutra oportunidade, quem sabe, os resenhe.

* * *  * * *
Sempre me deparei com informações esparsar sobre o trabalho embrionário e desconhecido de Alan Moore. Mas foi lendo O Mago das Histórias (obra completíssima escrita por Gary Spencer Milldge) que pude ver, em ordem cronológica, um pouco sobre tudo o que foi realizado pelo autor antes de se tornar conhecido no mainstream. Acho interessante mostrar um pouco dessa fase anônima.

Bem antes de começar a escrever histórias para a 2000AD ou Warrior, quando ainda não sabia bem o que fazer da vida e precisando arranjar grana para sustentar esposa e a primeira filha (desde que isso não importasse em se trancar num escritório chato), Alan tentava ser o que costumei chamar de quadrinista puro: o cara que escreve, desenha, arte-finaliza e faz até mesmo o letreiramento de suas HQs. Embora já tivesse empreendido energia em fanzines e raras ilustrações para revistas de grande e pequeno portes, foi na publicação Sounds e no jornal Northants Post que ele se profissionalizou, cumprindo prazo, recebendo salários semanais e procurando esforçar-se ao máximo para fornecer quadrinhos sob demanda.

Em Sounds, publicava a tira Roscoe Moscow, uma parodia dos romances de Raymond Chandler, cujos assuntos abordados variavam de acordo com o que Moore estivesse lendo na semana, mas sempre procurando inserir algum assunto voltado ao cenário musical da época. Não durou muito, sendo substituída por The Stars My Degradation, onde parodiava filmes como Alien e HQs como X-men. Nesta empreitada, a evolução no traço do autor é auferida a olhos nus, especialmente nos cenários detalhadíssimos. Mesmo assim, o escritor não conseguia elaborar suas páginas rapidamente. Como ele mesmo afirma, não sabia desenhar; e, para um resultado razoavelmente bom, precisava de mais tempo do que dispunha.

Paralelamente às tiras para Sounds (e estendida por muito mais tempo), eram realizadas as histórias de Maxwell, The Magic Cat, no periódico Northants Post. Inicialmente, destinavam-se às crianças. Com o tempo, devido à temática quase sempre “mais estranha”, passou à sessão de entretenimento geral. Como disse o autor, essas tirinhas de cinco quadros eram um “antídoto para Garfield”. Maxweel foi publicada durante sete anos, até o momento em que Alan começou a escrever Watchmen. E a HQ teria continuado. Mas o jornal publicou um texto editorial considerado extremamente homofóbico por Moore, de maneira que optou por cortar definitivamente o vínculo com a empresa e nunca retomou mais nada com o personagem, exceto por uma páginas publicada num suplemento especial, anos à frente. Coisas da cabeça às vezes confusa do autor.

Nas tiras, Alan Mú optava por pseudônimos: Curt Vile na Sounds e Jill de Ray no jornal do condado. Perguntado acerca da publicação desse material, de forma antológica para os dias de hoje, ele declina a ideia, destacando – com razão, penso – que os leitores não encontrariam, ali, o autor que conhecem.

Abraços xamânicos e até a próxima.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Enfim, O Fim [ A Liga Extraordinária: A Tempestade ]

Imagem de meu acervo pessoal.

"Edward, vamos dançar?"
- Mina

Meu primeiro contato com As Aventuras da Liga Extraordinária se deu graças à finada Pandora Books. No caso, era uma edição integral, reunindo todos os capítulos da primeira parte da saga, quando o grupo liderado por Mina Harker é formado e, ao final, eles conseguem desmontar a quadrilha do vilanesco Professor Moriarty, o então “M” à frente da inteligência britânica. Destaco que aquele encadernado foi considerado “ilegal” à época, pois, dizem, a Pandora não teria mais direitos de publicação e, mesmo assim, colocou novo material à venda, alegando ter refilado excedente antigo e o reunido em nova capa. Obviamente, isso não colou, pois perceberíamos artifício assim até mesmo devido à numeração de páginas. Mas tanto faz. O próprio Moore é o primeiro a criticar os ganhos das grandes editoras e gritar aos quatro cantos acerca da necessidade em se repartir riquezas. Mas, claro, na cabeça de Mú, a riqueza estaria nos bolsos da classe média que rala todos os dias para quitar carro, financiamentos, planos de saúde e escola particular dos pimpolhos. Mas essa é outra história… Sempre tive um carinho pela Pandora Books e agradeço por cada momento de alegria que ela me deu, inclusive quando publicou seus fascículos, em acabamento canoa com grampos, de Alan Moore's Tomorrow Stories.

Foi inovador ler algo como a Liga: personagens da literatura vitoriana unindo-se contra o arqui-inimigo de Sherlock Holmes. E, no meio de tudo isso, transitamos pelos meandros do serviço de inteligência britânica e um sem número de referências culturais. Isso há dezesseis anos, quando comprei mencionada revista na gibiteria Fênix, em Recife. Hoje, acho que seu nome é mais pomposo: Fênix Geek House. Ao menos, foi esta última a única loja Fênix que encontrei, em Recife, após pesquisas aleatórias.

O segundo volume da saga - quando a ficção marciana começa a se imiscuir na trama com os marcianos de H. G. Wells e o John Carter de Edgar Rice Burroughs - foi igualmente magnífico. Logo, os dois primeiros livros, reunidos tardiamente no Brasil, pela Devir, no mega álbum 1898, representam a melhor fase da saga. O que veio depois não é ruim. Mas passa longe da qualidade das primeiras tramas. Os próprios criadores reconhecem que o caldo desandou nos outros títulos, de certa forma. Assim, ao final de A Tempestade, Moore e O'Neil são os protagonistas do epílogo, onde se veem sem saber o que fazer com a quantidade de entulho acumulada num grande depósito de referências literárias, quadrinísticas, televisivas e cinematográficas durante os últimos vinte anos de produção d’A Liga. Ali, Moore nos diz: “E nós sempre levamos em conta as preocupações dos leitores: quando perceberam que Século tinha um ritmo lento e literário, fizemos a Trilogia Nemo. “Rápida demais e muito leve”, disseram.”. Já  O'Neil concluíra: “Ainda assim, reconheço que deixamos o melhor pro final. A Tempestade foi o proverbial samba do crioulo doido!”. Sim, a A Tempestade é isso: o sumo de duas décadas d’A Liga, inserido a pontapés na saga, para sua necessária conclusão. Contudo, não deixa de ser um bom gibi. Particularmente, gostei de todos. Acompanhei a conta-gotas cada lançamento e não me arrependo. Foi um ótimo tempo empregado. Em A Tempestade, a cultura atinge a entropia e desmorona. Ao menos esta foi minha conclusão pessoal.

Na imagem acima, de meu acervo, só falta o segundo volume do que veio a ser a fase 1898, com a invasão da Terra pelos tripods de H.G. Wells. Não comprei o volumão da Devir e acabei lendo esta história, há anos, em scans. A própria Devir, em 2004, havia lançado esta HQ isoladamente. No entanto, acho que sua tiragem foi tão pequena que sumiu do mapa rapidamente. Então ficará este buraco em minha coleção impressa. Mas tanto faz. Deixei de ligar para isso há algum tempo e me condiciono para, cada vez mais, dar menos atenção ao “ter papel” em minha vida.

Acho curioso que A Tempestade - possivelmente a última obra escrita por William Shakespeare - permeia A Liga desde o início de Século, devido a menções a Próspero, duque milanês. E tudo é concluído com a tempestade trazida ao nosso sistema solar, onde tudo desmoronará. Na dramaturgia, Próspero - figura enganosa, ardilosa e dissimulada - também invoca tormentas para atingir seus fins. N'A Liga, essas tormentas são culturais, onde todas as mais temíveis criações intelectuais esfacelarão nossa História. Outra grande saga dos quadrinhos também encontrou n'A Tempestade sua conclusão: refiro-me a Sandman de Neil Gaiman. Basicamente é isso: nada é novo. Sandman misturou mitologias, religiões, erudições e cultura pop até seu clímax, onde tudo seria repetição, no final das contas. E Alan Moore fez o mesmo.

No blogue anterior havia muitas resenhas sobre esta magnífica obra. Acho que não recuperei nenhuma. E tanto faz. Apenas recomendo que leiam esta saga. Valerá a pena.

Abraços miríficos e até a próxima.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O Recruta Zero politicamente incorreto

Ah, Dona Tetê... Não podemos mais objetificá-la.

"Quando a gente acha que chegou ao fundo do poço, sempre descobre que poderia ir ainda mais fundo. Que escrotidão." 

Charles Bukowski

Meu pai não podia entrar dentro de nossa casa quando eu e meu irmão éramos crianças, sob pena de ser assassinado por minha mãe. Esta foi minha infância. Adulto, percebi como era maluco isso; guri, sequer pensava no assunto. Era tudo "normal". E tinha o lado bom, quando meu pai buzinava em frente de casa e íamos com ele dar uma volta nas ruas. Ele gostava de nos levar a uma banca de revistas sediada no imenso terminal rodoviário. Era uma banca enorme. Acho que ocupava uns quatro boxes comerciais ali dentro. Cada um de nós comprava um ou dois gibis, um pacote de salgadinhos (era quando eu comia algo da Elma Chips) com suco de caixinha ou Taffman-E. Os quadrinhos que eu mais comprava naquela época eram Recruta Zero e Turma do Arrepio. Não sei o porquê de não comprar tanto Turma da Mônica naquela fase. Meu irmão, mais velho, optava por super heróis encapuzados ou revistas adultas de terror, como as das editoras D-Arte, Maciota ou Grafipar (acho que eram essas...).

Quando, após meus vinte anos de idade, voltei a comprar antologias de tiras do Recruta, achei tudo meio cansativo. São boas tiras. Mas faltava algo. Então, garimpando scans de gibis antigos, os lidos na infância, descobri que as histórias consumidas por mim eram produções tupiniquins, totalmente brazucas!, com apenas algumas tiras dominicais gringas encartadas no formatinho como "historinhas de uma página". A Globo fazia isso desde a Rio Gráfica Editora, obtendo licença de Mort Walker e do King Features Syndicate para isso. Utilizavam estúdios próprios, com artistas e colaboradores (nunca entendi a diferença entre eles, mas assim vinha no expediente) e estúdios externos, como o Art Nativa e a Nova Sampa. Percebi que alguns números, cuja colaboração externa veio da Alternativa, tiveram substancial mudança na arte e colorização.

As publicações gringas de Zero sempre foram alvos dos guerreiros da justiça social (social justice warriors, ou S.J.W.). Os militantes feministos e desarmamentistas queriam que, no quartel Swampy, os homens fossem politicamente corretos, não portassem armas e sequer pensassem sexualmente na dona Tetê e em tantas outras gostosas. Imaginem se essa turma visse as HQs brasileiras do início da década de '90, justamente as que eu comprava com meu pai? Esse dias, relendo algumas (excelentes!), me deparei com os péssimos exemplos abaixo por mim selecionados.

Sargento Tainha vai estourar os miolos com pistola.

Todo mundo enchendo a lata com cigarros e cachaça.

Taradões importunando sexualmente uma gostosa.

Arremesso de bichanos na careca do idoso.

Não cobiçarás as indígenas alheias.

De qualquer forma, a força dos progressistas endinheirados ganhou a batalha e, hoje, as tiras de Zero (Beetle Bailey, no original) estão sofríveis. O fundo do poço não é o limite! Acabaram as piadas rotuladas pelos S.J.W. como machistas, com indícios de vícios (bebidas, fumígenos e carteados) e ostentação de armas. Quartel, hoje, é um lugar onde as pessoas vão contemplar a vida cor-de-rosa, erguer bandeiras de nichos, subir no topo do arco-íris e lutar pela legalização do pó e do crack.

Tira diária, em 19 de agosto de 2013. Bela ou apenas engajada?

Cresci lendo Recruta Zero na fase Globo. Aparentemente, não me tornei um cidadão inoportuno, parasita, psicopata (acho que não), afim com vícios ao ponto de jogar a vida no lixo por eles e sequer sou um predador sexual, molestador inoportuno de ônibus e metrôs. Mas a agenda globalista politicamente correta sabe disso. Ela não quis o fim de quadrinhos como os acima em prol de algo positivo. O objeto é apenas adaptar pessoas ao porvir globalista de homens frouxos, medrosos e inaptos, carentes do apoio estatal até mesmo para ir ao banheiro durante à noite porque têm medo do escuro.

Ainda acerca da produção nacional, destacamos como nossos estúdios tiveram liberdade para levar os personagens a níveis desconhecidos pela criação americana. Penso que tínhamos bastante liberdade porque, para o King Features Syndicate, seríamos mercado insignificante e os gibizinhos aqui elaborados seriam meros objetos de descarte. No clássico Almanaque do Recruta Zero n.° 01 (1989), tivemos a "saga" de 68 páginas O dia em que o desenhista do Zero sumiu. Nela, houve paródias criativas e divertidíssimas, como O Sargento das Trevas e Zeronin, escritas e ilustradas por um tal Frank Milho. Na história Quem roubou meu coelhinho?, Maurício da Silva - o autor de gibis mais vendido do Brasil - fica à frente das HQs do Zero e nos dá uma trama onde todos, em dimensões diminutas, se esforçam para roubar o coelhinho encardido do forçudo e truculento mini Tainha. De acordo com a própria Globo, numa espécie de editorial ao Almanaque:

"o argumento (...) foi inteiramente criado e desenhado no Brasil e aprovado por Mort Walker, o pai do Zero, que achou excelente a ideia de ver seus personagens incursionando por outros universos além dos domínios do já famoso quartel Swampy, o quartel mais maluco do mundo.".

Enfim. É uma pena ver o que os quadrinhos se tornaram. E isso nas mãos de pessoas que nunca ligaram para quadrinhos e que, aliás, sempre fizeram chacota da legião de "nerds velhos" consumidora de cultura pop. Os S.J.W. venceram. Deles são as batatas podres. Mas não minha grana. Deixei de comprar gibis e livros impressos há algum tempo. Venho restringindo isso ao máximo. O espaço de meu escritório saturou. Tenho filha para sustentar e caiu a ficha que as editoras não gostam de mim, não se importam com meus gostos pessoais de old boy. Fiz apenas uma opção: não verter grana à insanidade e a material ruim de doer.

É isso. Abraços aspirantes e até a próxima.


sábado, 18 de abril de 2020

Pandemia e o mundo segundo Tio Patinhas


Enquanto o vírus avança, a liberdade recua.
Guilherme Fiuza, Liberdade em perigo

O Estado brasileiro é nosso maior inimigo! 

Ricardo Boechat

A menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias. 

Ayn Rand

Onde era a casa de Adão e Eva? Era o Universo inteiro. No processo seguinte, o civilizatório, existe a ideia de isolar, controlar e administrar. A salvação humana depende de que alguém controle as coisas. E as tentativas de controle sempre terminam muito mal; terminam em guerras, revoluções, morticínios, desilusões e decepções sem fim.

Olavo de Carvalho no filme O Jardim das Aflições

As pessoas estavam sempre se preparando para o amanhã. 
Eu não acreditava nisso. O amanhã não estava se preparando para elas. Nem sabia que elas existiam. 
- Cormac McCarthy, A Estrada, p. 73, Editora Objetiva, 2006

Cormac McCarthy, citado acima, é um de meus autores preferidos. Meridiano de Sangue estaria no top 10 dos melhores livros por mim lidos, acaso eu fizesse listas. E A Estrada é um romance bem oportuno para o momento atual. Aliás, o mesmo foi adaptado para o cinema em 2009. Para quem gosta de cinema de verdade, também indico O Conselheiro do Crime (2013), cujo roteiro original é do próprio McCarthy. Mas não falemos de obras ditas "cultas" aqui e sequer de cinema. Vamos aos gibis e suas valorosas lições.

Às vezes, nas obras mais descompromissadas - sejam livros, quadrinhos ou cinema -, encontramos trivialidades mais que bem vindas. Hoje, para mim, foi o gibi Tio Patinhas n.° 01 da Culturama, com duas histórias excelentes que remetem à vida no garimpo do velho muquirana. Junto com o Chico Bento, Tio Patinhas é, para mim, um dos melhores personagens dos quadrinhos. A diferença é que Tio Patinhas continua com boas histórias (italianas, dinamarquesas etc.), sem afetação pelo patrulhamento politicamente correto. Já o Chico... prefiro nem mais falar. Ainda acerca de minha paixão pelo Scrooge McDuck, sugiro a postagem Quadrinhos Disney, Culturama e A Saga do Tio Patinhas.

Na história Lembranças do Passado, Dora Cintilante afirma jamais deixar animais silvestres entrarem em sua casa. Patinhas os usa para esquentar o ambiente e, assim, economizar com lenha e demais insumos, no gélido Klondike, advertindo-a que: "O tempo muda as coisa". Ou seja: cedo ou tarde, ela precisaria mudar esse ponto de vista, esse capricho sectário. Nos dias de bonança, Dora pode se dar ao luxo de aquecimento com gás e farta lenha seca. E quando as vacas magras chegarem? Achei bem oportuna a leitura desta HQ para os tempos onde vivemos. Não sei se você reparou, caro amigo, mas o mundo mudou.

Sou servidor público e vejo meus amigos e parentes acreditando piamente que nada vai mudar. Que o Brasil parará por meses e nossa sagrada remuneração cairá integral e religiosamente na conta no dia certo. E mais: que os mercados nos fornecerão comida farta e saudável a preços justos durante todo este período. Que o Presidente de nossa republiqueta, além de se expressar mal (péssimo, na verdade), delira quando afirma que o Brasil não pode parar, pois não existe vida a longo prazo sem suporte econômico. E, sim, sou eleitor do Bolsonaro e creio que ele errou feio ao sacrificar seu futuro político falando obviedades maquiadas em rede nacional. Poderia ter sido mais franco: há um vírus letal no ar e pessoas morrerão. Matemática de guerra básica: quantos? Se utilitaristas, optaríamos por menos no menor prazo possível. A longo prazo, um sistema de saúde estará igualmente colapsado em meio à crise econômica irrefreável. Na miséria, pessoas morrem ainda mais por doenças até banais, suicídios e vitimados pela violência extrema. Não acho que esse isolamento integral, como vem sendo feito, ajude realmente no longo prazo. Arquitetos da fome e do controle social já falam em quarentenas até 2022.

Ah, sobre meu voto, é isso: trata-se de meu voto. Vote em alguém você também. Assuma lados. Atualmente, ao menos possuímos algo positivo: a polarização política. Isso é positivo? Claro, pois antes possuíamos apenas um ponto de vista. Veja bem, caro garoto: vivemos no Estado brasileiro. Infelizmente, anarcocapitalismo não existe. Talvez exista um dia, quando chegarmos ao nível de existência Mad Max mode on. Por enquanto, temos Estado. Este, possui Governo. E este é ocupado por pessoas. Por trás dessas, há ideias, ideais, ideário ou ideologias. Ficar apenas em cima do muro bradando por mundo melhor e se queixando da "falta de opção" não resolverá porcaria alguma. Enfim: tomemos lados. Direcione-se ao lado com o qual você mais se identifica e o assuma.

Há dois caminhos bem definidos quanto ao futuro político global: a esquerda progressista e seus delírios sangrentos e o liberal-conservadorismo, baseado na filosofia do ceticismo. Não existe terceira via a não ser a da punhetação mental, a do eterno "discutamos sexo dos anjos" para posarmos de espertinhos. O extremos não se tocam. Isso é frase feita. Os extremos são extremos e, como dizia minha avó: "Água e óleo não se misturam". E nem adianta vir com a grande sacada de garoto espertinho afirmando: "Ah, mas a água e o óleo se tocam". Por favor, não faça isso. Retire mais sua cabeça da lua e ponha mais seus pés no chão. É impossível conciliar pautas e agendas com quem quer destruí-lo. Pense nisso.

Sei que ficar sobre o muro é confortável. Isentão boa praça. As paredes são largas e o ambiente mais ventilado. Além de tudo, você ainda posa de espertinho, um cara que não segue a manada, bastante politizado para não sair tomando partido de qualquer forma. E ainda dá para usar algumas citações sobre "equilíbrio", "ponderação" e "fanatismo". Outra vantagem: está sempre de bem com todo mundo. Só que o fedor da merda, fatalmente, o atingirá. Isso se não derrubarem o muro e você cair justamente do lado mais inadequado às suas convicções mais secretas.


Voltemos à "pandemia"... O Presidente também poderia ceder ao coro dos Governadores e da grande mídia: "Fiquem todos em casa, você dona de casa, você médico, você caminhoneiro". Aliás, o que raios as pessoas estão fazendo com supermercados abertos? Então as vidas daquelas pessoas nada valem? E os motoqueiros? Todos para casa! Seria mais simples e, em pouco tempo, todos precisariam repartir entre si os dividendos da carnificina. Nosso Presidente, politicamente equivocado, tomou este fardo todo para si.

Amiúdes: seja na rua ou em casa, por meses e meses, nada será como antes. A conta está chegando. E ainda há aqueles para quem a ficha não caiu, postando "comidinhas de quarentena" e seus treinos marotos em stories. Sempre as mesma hashtags simplórias: "Querentene-se", "Fique em casa", "Desacelere-se". As velhas turmas facilmente identificáveis: a) universotários alienados por professores revolucionários que ganham mais de vinte paus por mês; b) dondocas que não conhecem o funcionamento dos empreendimentos familiares; c) servidores públicos acostumados a ter pixuleco na conta todos os meses; d) empregados achando o máximo ficar em casa sem trabalhar, crentes que só patrão se foderá; e) alienados de toda ordem; f) "loucos de todo o gênero" para recordar aqui o antigo Código Civil brasileiro.


No começo do ano passado, postei sobre Li Ziqi e seu canal no Youtube, destacando como não somos preparados para sobreviver sem facilidades modernas e o lambe-lambe estatal, em troca de sua liberdade e de seu rabo. Perto do final da postagem, em confronto com a geração Peter Pan, ressaltei: "Quase todo mundo deseja morar em grandes cidades, ou medianas, com acesso imediato a serviços de saúde, boas escolas e shopping center. Como posso julgar quem faz tal opção? É natural. Mas em algum momento pagaremos o preço por esta escolha. Zi Liqi, não.". E esses dias estão próximos. Quem não leu o post, o faça. Não foi profético porque esta crise é fitness. Creio certamente que as maiores estarão bem próximas e envolverão guerras, diversas doenças e fome massiva. FAO, OMC e OMS, aliás, alertaram para o risco de crise alimentar. Até estes organismos internacionais corruptos se prestaram a divulgar o óbvio. Entenda: você não terá Whey Protein Black Skull. Você possivelmente não terá feijão com arroz todos os dias. Há grandes chances de não podermos comer três vezes ao dia. E, curiosamente, estaremos cheios de saúde contra o coronga, né?

Abram os olhos, guerreiros do #FiqueEmCasa. Seus investimentos financeiros derreterão. Dividendos não serão pagos. Títulos não serão honrados. Dívida pública não pode ser rolada ad aeternum. Aliás, quem quer título podre no pós-corona? Simples assim. E confisco é sempre uma possibilidade. Aliás, algo já ocorrendo a plenos pulmões por Governadores sedentos de controle social intenso. Aqui em meu Estado, e.g., abriram a possibilidade expressa por Decreto, inclusive com ordem aos "agentes" para que invadam casas e segreguem famílias diante de indícios de contágio. Tudo a bem do "coletivo"...

Junto a tudo isso, vivi para ver boa parte da nação torcendo pelo vírus. De repente, a hidroxicloroquina e o vermífugo nitazoxanida passaram a ter contraindicações abomináveis. E olha que até minha filha de cinco anos de idade utilizou Annita (marca comercial) mais de um vez. E a hidroxicloroquina foi vendida durante décadas sem receituário especial e, inclusive, distribuída entre povos ribeirinhos. Não bastasse essa paranoia sobre efeitos colaterais, o Partido dos Trabalhadores postula no Supremo Tribunal a vedação total da recomendação desta droga no tratamento da COVID-19. O vírus pode não vencer, mas a torcida organizada é forte.

Ainda no mesmo box Culturama, há gibi Pateta n.° 01 onde, na história O Planeta do Grande Cérebro, toda uma civilização entra em colapso porque a inteligência artificial que frita até ovos no café da manhã fora roubada. Qualquer semelhança com nossa realidade não é apenas mera coincidência. Estamos integralmente dependentes de grandes centros urbanos e suas comodidades para existir. As pessoas creem realmente que tudo sempre estará bem e que o Estado resolverá nossos problemas. Ninguém mais se preocupa em cultivar um pé de coentro, criar animais para abate e cozinhar sem gás de cozinha. Sei que a vida em apartamentos impede isso. Mas mesmo quem reside em grandes centros urbanos não possui nenhuma cautela, nenhuma preparação, em caso de colapso. Todos estão compenetrados em analisar folhetos de agências de turismo e seguir as dicas de canais de investimento, quando relegaram sua sobrevivência básica à sorte, ao Estado e seus burocratas e ao pesado cassetete das guardas e polícias no lombo. 

Sobre a atuação das guardas civis e da polícia militar: vivi para ver a turma Paz & Amor pedindo, escancaradamente, o fascismo total, apoiando tortura de cidadãos nas ruas. Na minha família, há gente achando o máximo a geolocalização via telefonia celular e monitoramento até de espaços privados por drones. Sempre achei que somos carentes por controle social e, estes dias, tive a prova da qual precisava. Prepare-se para levar tapa na cara porque foi comprar o pão fora do horário... se houver pão para comprar!

Ainda vejo muita gente fofa postando lições valiosas de amor ao próximo em rede social sobre "não estoque, pense no próximo". Alguns pararam com a ladainha. Creio terem caído na real. Vi um colega postando essa asneira há algumas semanas, xingando estocadores. Pela intimidade e porque há dias onde não me contenho, joguei a real: "Sério que você e sua família só estão com o básico para a semana?". Ele nada respondeu e apagou o sermão. Deve ter corrido para o supermercado, agora com filas e limitações para consumo.

Na postagem Coronavírus com Stephen King destaquei as precauções tomadas por mim há alguns anos, e ainda acho que fiz pouco. Há tempos, mesma na contramão do mercado, venho falando sobre a necessidade em se ter acesso físico a metais preciosos: barras e moedas de ouro e prata. No blogue anterior, ressaltei a necessidade de reforçarmos nossa autodefesa, adquirindo facas, armas de pressão, balestras e até mesmo armas de fogo. Há centenas de canais sobre isso no Youtube, conteúdo gratuito. Neste novo site, aliás, postei sobre Como obter autorização para posse e porte de arma de fogo e, ali, ressaltei a necessidade de todo cidadão ter, em sua residência, acesso a poder de fogo.

Outro aspecto curioso trazido pela pandemia é a Síndrome de Estocolmo global: ninguém pode falar mal dos nobres irmãos chineses e de seu vírus que, aparentemente, possui assinatura do Instituto de Virologia de Wuhan. Obviamente, essa conta não se cobrará. Podemos até cobrar, mas é título podre: "Devo, não pago". E todo o ocidente tem sua cota de responsabilidade, quando confiou à ditadura comunista crudelíssima (ainda mantém campos de concentração, especialmente para uigures) seu parque industrial. Aliás, confiou à China a maior parte da produção de insumos e equipamentos médicos e hospitalares.

Durante esses dias, testemunhamos o fascismo vivo no coração de cada gestor público, inclusive com ordens às polícias para descer a corda no lombo do gado, e tudo aplaudido pela mídia e pelos jovens (e velhos bocós) revolucionários. Como não sabemos conviver em sociedade, estamos mesmo qual gado: confina, desconfina, dá ração, tira ração. Testemunhamos como é frágil o tecido social. A civilização é uma lasca de verniz. Mas podem morrer milhões que, mesmo assim, a maioria não tirará lição alguma de tudo isso. E, enquanto isso, se encantam com as modelagens trazidas ao Brasil pelo erigido a gênio do ano Átila Iamarino, o Doutor Youtuber que já demonstrou ter o dedo podre para escolher os piores modelos à nossa realidade, cujas "apostas" batem sequer na trave, desconsiderando aspectos como clima, pirâmide etária, programas nacionais de vacinação, doenças típicas, densidade demográfica etc.

Ah, aos fãs do Youtuber: o cara passou mais de mês elogiando o acesso à informação chinesa e as providências tomadas lá, quando qualquer pessoa com um pouco de massa cinzenta sabe que não se pode confiar em banco de dados chinês. Agora, sem poder mais segurar a mentira, o Partido Comunista atualizou seu "errinho" em 50% (por baixo). Quem foi lá dizer que isso é normal? O Doutor brazuca! O mesmo Doutor afirmou, ainda, ser quase impossível este vírus ser fruto de manipulação, mesmo com divulgações públicas antigas mostrando que isso ocorria com coronavírus, biomatemáticos premiados informando a respeito e até mesmo Nobel de Medicina que teve acesso a mapeamentos.

Por que insisto, aqui, até nesse carinha? Porque isso é a cara do Brasil: pagar pau para detentor de titulação sem resultados práticos em nada. Não é à toa que ganhou atenção da Fundação Padre Anchieta, dirigida essencialmente pelo Governo paulista, para fazer circo midiático no Roda Viva junto a "jornalistas" que embolsam até meio milhão de reais por ano para trabalhar quatro dias ao mês.

Outra "novidade velha" é a falta de espaço público para cadáveres. Agora, Prefeitos vão à rede social dizer não saber mais o que fazer com defuntos, como se andássemos tropeçando em cadáveres pelas ruas. Capitais entraram em colapso funerário com cinquenta defuntos. Hoje, resido numa cidade pequena e os cemitérios locais têm dificuldades em estocar corpo para o descanso eterno. Há anos é assim. Muitas famílias optam pela sobreposição de urnas. É o jeito. Em Caruaru - PE, quando minha avó morreu (há uns vinte anos), não sabíamos o que fazer com os restos. Por sorte, o marido de minha tia conseguiu mexer pauzinhos para socar tudo dentro de uma gaveta familiar. Hoje, a situação está amena devido à proliferação de cemitérios particulares. Em nações antigas, funcionam sistemas de câmaras de consumpção: larga o ente querido ali para apodrecer e depois deve buscar a ossada. Destino de cadáver sempre foi problema urbano.

Certamente, estou bem longe de ser o portador da verdade e posso, aqui, estar falando inconveniências. Talvez o caminho correto para uma boa vida seja o descompromisso com a própria sobrevivência e a crença de que os outros resolverão tudo. Que deveras vale a pena dedicar toda a vida ao hoje sem esquentar a cabeça com banalidades como fornecimentos de gás de cozinha e energia elétrica, pois a humanidade sempre dará um jeito para que isso jamais falte por longo prazo em sua casa. E comida saudável em abundância nunca faltará nas gôndolas dos supermercados. Não estou aqui sendo irônico, tampouco sarcástico. Vai que estou mesmo errado em sempre me preocupar com essas coisas? Mas a despreocupação com suportes básicos à vida e a crença no Estado e nas pessoas iluminadas com títulos é, realmente, algo que não entra na minha cabeça nem à base de paulada. Assim como não acho viável essa prática de quarentena quase absoluta, por meses e a perder de vista, considerando sobretudo que quase 60% de nossas empresas são micros ou pequenas e que quase 40% de brasileiros atuam de maneira informal ou autônoma. E, repito sempre: na miséria, pessoas morrem aos montes.

Recentemente, vi que mais de 80% dos municípios brasileiros não tinham nenhum caso da Covid-19. Certamente, em muitos podem haver. Mas talvez sejam aqueles casos mais simples, assintomáticos ou facilmente confundidos com resfriados, onde o sujeito tomou canja de galinha, duas colheres de mel com limão e ficou bom em poucos dias. Então façamos o seguinte: reduzam isso grosseiramente para 50%, para concentrar apenas aquelas cidades bem distantes de onde há casos notificados. Feito isso: por que todo o Brasil precisa estar sitiado, quando em centenas de localidades poderia haver razoável movimentação de pessoas, mercadorias e prestação de serviços? Com os devidos protocolos de higiene, claro. Esse lockdown total não parece razoável, ainda mais considerando a prática de fechamento de fronteiras, divisas e limites, reduzindo expressivamente o fluxo de pessoas.

Para os advogados do #FiqueEmCasa a todo custo, apoiadores de que o Governo Federal deve gastar até o que não tem para que isso ocorra e que tudo se resolverá com taxação de grandes fortunas (seja lá isso nos dias de hoje, com economias baseadas em ativos e que se movimentam com um clique em aplicativos), meu franco obrigado. Como Servidor Público Federal em final de carreira, torço para que continuem lutando por mim, para que eu permaneça até 2022 cuidando do jardim, em home office, com salário em dia.

A citação de Cormac McCarthy em epígrafe é ambígua, aliás. Você pode se cercar de diversos cuidados e mesmo assim dar com o burro n'água. Contudo, ali, ele se expressa em termos apocalípticos, naquele ponto onde o colapso da sociedade não terá retorno. E este ainda não é momento.

Abraços exponenciais e até a próxima.
Yuppies em happy hour falando de dividendos e justiça social, crentes que o mundo sempre será assim.

Família comum brasileira devidamente quarentenada no barraco.

Imagem de meu box onde vieram as edições mencionadas na postagem.

Sugestão de leitura para este momento e faca para courear.