quarta-feira, 19 de junho de 2024

Low Roar


I took the easy way out
I took the easy way out
I took the easy way out

Quando não possuímos mais interesse em tentar conhecer coisas novas, corremos o risco, certamente, de deixar passar em branco algo bom. Mesmo assim, não mantenho mais ânimo nem tempo para viver chafurdando no lamaçal em busca de pérolas. Deixo possíveis pérolas aos porcos. Mas, ainda com esta postura, aceito de bom grado realizações culturais de alta qualidade que me chegam aleatoriamente. Foi assim, por exemplo, com os cinco álbuns maravilhosos de Low Roar, banda islandesa capitaneada pelo finado Ryan Karazija - norte-americano que encontrou grande projeção entre os anos de 2011 a 2022, até a morte levá-lo prematuramente, por pneumonia, aos 40 anos de idade.

Foi Hideo Kojima quem me apresentou a banda. Acho que a maior parte dos fãs conheceram essas canções graças ao jogo eletrônico Death Stranding. Como mexeu comigo conduzir o entregador Sam Bridges, dentro de terrenos quase intrafegáveis, ao som da voz e dos arranjos melancólicos de Low Roar. Eu diria, aliás, não apenas "melancólicos", mas quase suicidas, como fica explícito na faixa Easy Way Out, onde é dito apenas o óbvio - mas que ainda causa arrepio na maioria das pessoas - que a morte é sempre a saída mais rápida e fácil para os problemas deste mundo imundo onde vivemos. Às vezes, aliás, acredito piamente que todos nós já morremos e que este lugar maldito é o purgatório, onde deuses mesquinhos e filhos da puta estão cotidianamente testando nossa paciência.

Quando puderem, confiram os álbuns de Low Roar. Realmente valem a pena e trazem canções que me ajudam a relaxar sempre. Abaixo, colo um trecho de Death Stranding com Sam Bridges sofrendo para fazer seus deliverys, entre assaltantes e entidades sinistras, enquanto ouve um som bacana. No trecho específico, ele carrega o corpo da própria mãe - que acabara de falecer -, para o local específico onde defuntos frescos devem ser cremados, sob o grave risco de obliteração no entorno, naquele mundo peculiar concebido por Kojima, onde quem desencarna causa graves problemas aos vivos.

Abraços em "low roar" e até a próxima.

domingo, 2 de junho de 2024

Te ver é uma necessidade, Vamos fazer um filme

O cinema nos dava grandes cenas, memoráveis. Eram aqueles momentos inesquecíveis e marcantes, onde tudo se encaixava à perfeição, desde as boas atuações até câmera, fotografia, cenário, produção de arte e com uma trilha sonora feita sob medida, como que por um alfaiate. De supetão me recordo agora da escadaria em Os Intocáveis, os créditos iniciais de Apocalypse Now, as lágrimas na chuva de Rutger Hauer em Blade Runner, com Vangelis ao fundo, a pluma de Forrest Gump, a sacola de Beleza Americana (assim como seu desfecho trágico e belo), Jack Nicholson manco com um machado em mãos no hotel Overlook, macacos pulando em torno do monólito na aurora dos tempos, Tom Cruise caminhando no meio da rua com seu irmão Raymond - ou Rain Man -, Matthew Broderick dançando Twist and Shout numa avenida da belíssima Chicago e Hannibal Lecter se salpicando de sangue enquanto desce o cassetete num guarda inocente. Se for para elencar tudo, hajam dias. Mas enfim: deu para entender. Havia a "marca da cena". Aquela Cena!

Já comentei aqui que acho todos os filmes mais recentes praticamente iguais. Fica a sensação de que é tudo a mesma coisa e confessei que, após alguns dias, até esqueço quase tudo o que vi. É um alzheimer cinematográfico. Nada marca, nada impacta. Até mesmo bons filmes - como o Duna de Denis Villeneuve - não deixam mais momentos marcantes, pelos quais a obra será rememorada. Me parece que tudo é feito apenas para preencher telinhas, e nada mais. Tudo elaborado a toque de caixa, igual a vacina "contra" o vírus chinês. Não existe mais o suor, a dedicação, aquele esforço de equipe por apoteose, mesmo que por meros dois minutos.

Pensando nisso, compartilho a cena acima. Estrada para Perdição é um filme excelente baseado numa boa HQ. Recordo bem quando o vi, no lançamento, em DVD. Foi minha ex esposa quem pegou na locadora. Na época, éramos apenas namorados de faculdade. Ela chegou com o filme, olhei o título e não me interessei. Ainda comentei com ela que deveria ser uma bosta. Assistimos no dia seguinte. E que filme, senhores. E nem é tão antigo. Foi lançado ontem, praticamente. Mas ainda havia coisas assim brotando para nosso deleite. Há várias cenas icônicas, nesta obra. Mas a de cima serve bem para ilustrar o que tento exprimir: Michael Sullivan (Tom Hanks) executando todos os seus ex parceiros mafiosos para, finalmente, poder encarar aquele que lhe era como pai, com o semblante resignado de lástima da então lenda ainda viva do cinema Paul Newman. Chuva, slow motion, rajadas de tiros em meio à trilha melancólica de Thomas Newman etc. Mais uma obra de arte de Sam Mendes.

É isso. Abraços saudosos e até a próxima.

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