quinta-feira, 12 de maio de 2022

Quatro belos jogos

Firewatch

Desde que voltei a jogar, descobri que algumas produções são rotuladas como walking simulator: quando você não tem muito a fazer a não ser ficar zanzando pelo mapa, colhendo informações e batendo papo. Não há tiro, briga nem quebra-cabeças. E isso não é ruim. Há jogos cheios de ação e coisas a fazer que são ruins. Há "simuladores de caminhada" ruins e outros excelentes. Falei antes sobre What Remains of Edith Finch, por exemplo, pelo qual sou apaixonado devido à elevada qualidade narrativa. E Firewatch é realmente um walking simulator, onde o único grande desafio é nos orientarmos pelo mapa. E também é um bom jogo.

Na trama, assumimos o papel de Henry, homem de meia idade que aceitou o emprego de observador numa reserva florestal, cuja atribuição é, essencialmente, evitar e notificar incêndios. Ele ocupa uma torre de vigilância e, próximo, está Delilah, sua chefe, noutra torre. Durante toda a jogatina, conversamos com ela por walkie talkie, nunca a vemos (e nunca a veremos). Ambos estão ali por desilusões do passado. No caso de Henry, sua esposa foi acometida por demência precoce e levada aos cuidados dos pais. Mas o que deveria ser apenas isolamento no meio do nada para esquecer do mundo de aço e concreto acaba se tornando uma jornada de mistérios, quando eles percebem que são monitorados por alguém. Há ainda o mistério de um antigo observador que desapareceu com seu filho e, ao final, nos são dadas opções sobre virar a página e seguir adiante na vida ou tentar um recomeço onde o vínculo afetivo foi interrompido.

A trilha sonora é agradável: música ambiental relaxante. Aliás, no Youtube podemos encontrar algumas dessas trilhas em diversos canais aleatórios. A paisagem é igualmente linda e, nas andanças, por vezes parei para admirar algumas composições.

O jogo, no entanto, possui buracos no roteiro. Não sei se foram propositais, mas prejudicam a compreensão do todo. [Spoiler] Após descobrirmos que o antigo observador - Ned - pode ter dado causa à morte de seu filho Brian Goodwin por desleixo quando exploravam cavernas e que, após isso, apenas passou a viver como um eremita na reserva - por todos ignorado - todo o sistema de monitoramento de um laboratório fechado ao público fica sem resposta. Na verdade, era um posto de pesquisa da vida selvagem, abandonado há alguns anos e, depois, descoberto e explorado por Ned. A relação entre Ned e Delilah, no passado, também não fica clara. São coisas assim - buracos - que poderiam ser evitadas.

A exploração do mapa (pequeno, aliás) poderia ser incrementada com itens de curtas histórias paralelas (bilhetes, áudios etc.), bem como por objetos, artefatos, inscrições e outros elementos que compusessem aspectos de mistérios insolúveis na história. Mistérios, em jogos, são uma delícia. Acho que é devido a tantos segredos insolúveis que gosto tanto de Red Dead Redemption, por exemplo.

No geral, pois, é um jogo divertido para desopilar a cabeça e relaxar, admirando a beleza de uma obra de arte digital enquanto ouvimos boas canções.

  • Data de lançamento inicial: 9 de fevereiro de 2016
  • Desenvolvedor: Campo Santo
  • Plataformas: PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox One, macOS, Microsoft Windows, Linux, Mac OS, Mac OS Classic

Contrast

Num mundo onde seres humanos se expressam apenas enquanto sombras, conhecemos Didi Malenkaya, garotinha que possui uma amiga "imaginária" chamada Dawn. Elas parecem ser as únicas que transitam entre os mundos de três dimensões e o de projeções. Poderia ser tudo imaginação, claro. Ou apenas o propósito para o jogo existir, já que se baseia em 2D/3D e suas manipulações. Mas não fica aí. Didi é filha de Kat (cantora de cabaré) com o malandro Johnny Fenris. Ela precisa lutar para reunir ambos, livrar o pai da máfia e, no meio disso tudo, acredita que possa ser filha do mágico Vincenzo.

Contrast é uma daquelas pérolas que achamos por acaso no serviço Game Pass da Microsoft. Baixei de maneira totalmente descompromissada e o zerei em uma madrugada, apreciando seus belos gráficos, sua ambientação noir e as canções encantadoras. Além disso, os quebra-cabeças são divertidos de ser resolvidos e, muitas vezes, desafiadores (ao menos para mim foram algumas vezes). Precisamos analisar bem o cenário e, num jogo de luz e sombra, entre o 2D e o 3D, avançar na história, solucionando inúmeros problemas a cada momento e quase sem descanso. E, além de tudo: que ótima narrativa!

Contrast não apenas explora puzzles com jogos de sombras, mas isso é a essência de sua história, como vai se evidenciando ao final do jogo, com a coleta de documentos e imagens. Essencialmente, lidamos com a ideia de multiversos e as maneiras como eles se apresentam. Algo está errado com os mundos. E nos cenários vemos a cidade com trechos destruídos e estranhas perspectivas. Além disso, a lua está bem próximo da Terra e, creio, o campo magnético poderia ter algo a ver com esses eventos.

Minha interpretação para o desfecho é a seguinte [Spoiler]: Didi é filha tanto de Johnny quanto de Vincenzo, mas em universos distintos. Vincenzo descobriu como explorar multiversos e Dawn - sua assistente em uma dessas existências - foi escolhida por ele para cuidar de criança.

  • Data de lançamento inicial: 15 de novembro de 2013
  • Desenvolvedor: Compulsion Games
  • Plataformas: Microsoft Windows, PlayStation 4, PlayStation 3, Xbox One, Xbox 360

Gorogoa

De acordo com Jason Roberts, Gorogoa é uma palavra inventada por ele quando criança. Ele não recorda bem a que ela se referia. Seria apenas brincadeira de criança. Então, ao pensar no nome que poderia ser dado a um monstro (real ou metafórico), lhe veio à mente esta palavra esquisita. Gorogoa, então, a princípio, não quer dizer nada. E podemos jogá-lo assim: sem sentido algum, apenas pelo deleite de nos divertirmos.

Empreendi em torno de duas horas para concluir o jogo, cuja gameplay se resume a quebra-cabeças dinâmicos super intuitivos. Não sei bem como explicá-los. Basta conferir o trailer acima. Só temos uma missão: coletar alguns frutos e, talvez assim, amansar a ira do grande monstro. Este pode ser uma guerra, erros do passado, males espirituais ou a própria jornada rumo à maturidade, pelo que depreendi. Como falei acima, você pode apenas não conferir sentido a nada disso e ir somente se divertindo, resolvendo enigmas. A espiritualidade, entretanto, é algo ostensivo durante boa parte do jogo.

Ao finalizá-lo, temos acesso a uma demo curtinha, do ano de 2012, o que é bacana para se ter noção da ideia embrionária. Gravei minha experiência com esta "demo", a qual compartilho ao final do post. E falando em embrião, Gorogoa foi pensado, inicialmente, como gibi interativo. Mas Jason Roberts não conseguiu utilizar a plataforma oferecida pelas histórias em quadrinho para concretizar seus planos. Logo, a migrou para os videogames.

Se "obra de arte eletrônica" cai bem em algo, seria a este joguinho que só posso recomendar até mesmo para quem não gosta de videogame.

  • Data de lançamento inicial: 14 de dezembro de 2017
  • Projetista: Jason Roberts
  • Plataformas: Nintendo Switch, PlayStation 4, iOS, Android, Microsoft Windows, Xbox One, Mac OS, Mac OS Classic

Superliminal


Em primeira pessoa, foca em enigmas baseados em perspectiva. De mote, temos o protagonista (o jogador, of course) como paciente de uma clínica especializada em estudos de sonoterapia e sonhos. Mas algo dá errado e ficamos presos num loop complexo de camadas de sonhos sem fim, cada vez mais absurdos. O desafio, então, é transpor salas e mais salas onde a análise de perspectiva é essencial.

De início, o jogo utiliza apenas uma lógica razoável para a solução de cada "fase". No entanto, com o tempo, percebi que começaram a sair do que seriam as regras claras do jogo para um nível sem muito sentido (talvez para encher linguiça), onde a exploração de cenários se mostrou importante para podermos fugir de uma sala para outra, encontrando "frestas". Mas, no geral, é um jogo divertido e inteligente.

No final, a grande sacada do desenvolvedor foi levar aquelas lições de desafio para à vida real: para tudo (para resolução de problemas cotidiano ou até mesmo para a resiliência), precisamos, às vezes, apenas enxergar tudo por outra perspectiva. Claro: isso é apenas pensamento positivo clichê, pois para diversos problemas não há mesmo solução. Entretanto, a mensagem ficou bonita.

Gastei uma tarde inteira para concluí-lo. Pessoas mais espertas e dedicadas certamente fazem em menos tempo (na primeira jogada, claro, pois na segunda até eu seria rápido).

  • Data de lançamento inicial: 12 de novembro de 2019
  • Desenvolvedor: Pillow Castle
  • Plataformas: Nintendo Switch, PlayStation 4, macOS, Linux, Microsoft Windows, Xbox One

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2 comentários:

  1. Normalmente vago por minhas memórias, pelas ruas ou pelo apartamento onde habito .
    No final tudo é um pouco inutil, mas viver pede que se bata o ponto diariamente. Mesmo olhando tudo por muitos angulos , nao acho conclusões que mudem radicalmente minha visao da realidade.
    A melhor coisa q tenho feito é mergulhar no pensamento de direita - finalmente a sociedade faz sentido , ainda q minha vida continue na mesma
    Sobre video game, prefiro jogos rapidos, luta, naves etc. Acho q me ajuda a equilibrar o pensamento lento sobre história e filosofia

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    1. Há algum tempo não faço o seguinte: andar à toa pelas ruas da cidade onde cresci, quando sou inundado por bons sentimentos e recordações. Não quero voltar no tempo. Gosto do mundo atual devido às facilidades. Mas recordar daquela forma me faz bem. Mas tb só me serve se eu estiver visitando a cidade, e não residindo lá. Ainda entro nas mesmas bancas de revistas (agora fodidas) apenas para recordar quando, ali, eu comprava meus formatinhos. Passo em frente ao PlayTime (hoje, farmácia, mas onde ficava o fliperama), em frente às casas de antigos amigos etc. Sobre filosofias de vida... a visão de mundo "de direita" é a que melhor se coaduna com meu espírito! Mas sei que o futuro do planeta é a bancarrota globalista. Quanto a jogos, esses rápidos são mesmo pequenas realizações. Mas tb gosto de gastar dias em um AAA. Mês passado joguei RE Village e joguei também, pela segunda vez, o Biohazard. O importante é ter variedade, acho. Abraços!

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