quarta-feira, 20 de abril de 2022

The Bosta e a lição de Jogador Número Dois


© Arte por PhaseRunner

O OASIS inteiro é um cemitério gigante, assombrado pelos ícones da cultura pop morta-viva de uma época remota. 
O santuário de um velho louco para um monte de porcaria inútil. (p. 288)

Falei um pouco sobre o romance Jogador Número Um e sua adaptação para o cinema. Foi um bom livro de Ernest Cline e, não exagero, vivi e revivi tanto aquele universo cultural evidenciado no romance que não perdi quase nenhuma referência, mas apenas as relativas a jogos mais obscuros. Assim, arrisco que 90% do romance me desceu redondo. Foi gratificante lê-lo e divertido assistir ao filme de Steven Spielberg, com roteiro do próprio Cline em parceria com Zak Penn. Quem quiser conferir, acesse Um mundo sem erudição em Jogador N.° 1.

Na sequência (Jogador Número Dois), Wade Watts torna-se um dos homens mais poderosos do planeta, juntamente com sua trupe de intrépidos e impávidos geniozinhos do mundo virtual. A IOI - megacorporação malvada que só pensa em lucro - acabou definitivamente e Wade tornou o Oasis ainda mais relevante ao mundo após a descoberta de INO (Interface Neural OASIS), onde todos os sentidos humanos poderiam ser levados à realidade virtual, tornando-se, assim, uma quase extensão da realidade física. E mais: a tecnologia INO possibilita a captura de nossa consciência, ao criar clones de seres humanos, aptos a habitarem eternamente ambientes virtuais. Mas surge um novo vilão: a captura de consciência de James Halliday (sua versão digital, de certa forma), gênio da tecnologia que iniciou toda a corrida pelo easter egg que, encontrado por Wade no primeiro romance, lhe deu acesso a toda a fortuna do magnata e o acesso à condução do OASIS. Nesta sequência, a concepção de Wade e do finado Halliday como pessoas que nem para anti-heróis servem só cresceu. Assim, Wade está mais fraco do que nunca, emasculado e perdido, sem o norte da mulher forte em sua vida: a moralmente superior Samantha, sempre certeira em suas atitudes, sem falhas morais e independente da presença de homens tóxicos ao seu lado (tanto que abandonou o pobre trilionário Wade, logo após ele repartir a herança de Halliday com todos, inclusive com ela).

Para sua evolução, a fim de tornar-se alguém melhor e poder ser aceito novamente por Samantha, Wade explora experiências na INO-net, onde diversas consciências e vivências podem ser compartilhadas e vivenciadas como se fossem suas. Assim, ele é grato pela existência do O-gênero, pessoas que vivenciavam o sexo exclusivamente por meio de seus headsets INO "e que também não se limitavam a vivenciá-lo com um gênero ou orientação sexual específica", e chega a afirmar que: "Graças a anos navegando pela INO-net, agora eu sabia como era estar na pele de todo tipo de pessoa, fazer todo tipo de sexo. Eu transei com mulheres sendo outra mulher, e com homens e mulheres sendo homem. Reproduzi arquivos .ino de vários tipos diferentes de sexo hétero, gay e não binário, apenas por pura curiosidade, e cheguei à mesma conclusão que a maioria dos usuários INO: paixão era paixão e amor era amor, independentemente de quem eram os envolvidos (...)" (p. 107). Muito fofo isso, gente!

Se Wade é frouxo e este é o protagonista ideal na concepção de Ernest Cline, o destino de James Halliday, neste segundo livro, é pior: misógino e fascista, é assim que ele é descoberto na trama, para o desapontamento de todos. E nem John Hughes escapou da sanha revisionista de Cline. Embora o livro dedique à obra cinematográfica de Hughes dezenas de páginas, sua obra é apontada como errática em diversos momentos, por falta de representatividade, mesmo que o autor/diretor tenha escrito baseado em sua vida, nas experiências que viveu, entre as pessoas que compunham sua bolha. Sou escritor amador, como falei aqui; e todos os meus trabalhos se passam no mundo que conheço, entre as pessoas que conheço e conheci no agreste e semiárido; não há gaúchos em terras verdejantes no que escrevo. Nas palavras de Aech (garoto trans negro), a obra de Hughes é um "inferno branco", se perguntando: "Será que tem uma pessoa negra sequer nesta cidade?". Mas a sempre sensata Samantha lhe responde: "Este planeta tem um sério problema de diversidade, como todos os filmes dos anos 1980". Ela cita "este planeta" porque, no OASIS, Halliday criou diversos planetas exploráveis, em homenagem às suas paixões da juventude: filmes, música, jogos etc.

Para não ficar muito longo, paro por aqui sobre Jogador Número Dois. Mas ficou claro que a cultura pop contemporânea não comporta mais produções que não se curvem às pautas ideologicamente "corretas". E assim foi o Batman de Matt Reeves, que veio para tentar limpar de nossas memórias o Batman fascista do facista-mor hollywoodiano Christopher Nolan.


Gatos comem morcegos? (...) Morcegos comem gatos?
Alice no País das Maravilha

Eu queria ter visto The Batman no cinema para manter a tradição de quando, desde 1989, assisti à obra-prima de Tim Burton. Não assisto a mais nenhuma produção de súperes, exceto Batman, por amor ao personagem. O Cruzado Encapuzado representa uma ideia poderosa, mesmo quando na feira da fruta. Mas, pelo que vi neste último filme super duper, afundarão - em breve - o morcego numa cova rasa, sem honras. Mas vamos lá. Queria ter visto no cinema, mas os lunáticos do lockdown conseguiram quebrar os dois cinemas da pequena cidade onde resido. Devido às restrições, os multicines não conseguiram retornar sem antes quitar uma penca de dívidas e encargos acumulados. Sem saco para procurar alguma versão socializada, vi apenas hoje na HBO. E, colegas, que bosta.

Acredito que, em breve, Batman será mesmo o vilão dos próximos filmes, um entrave às revoluções sociais implementadas por gente boa como Coringa, Charada e toda a trupe. Aliás, o que eles andam fazendo no Arkham, vítimas do sistema manicomial burguês? Não é improvável os roteiros evoluírem para isso, considerando que, nesta grandiosa produção de duzentos milhões de doletas, ninguém presta. Nem Batman, aliás, que quase se vê levado ao lado obscuro da força! Na trama, o macho tóxico é a causa de todos os males sociais. Selina-Gato (uma jovem negra empoderada) chega a dizer isso explicitamente, quando menciona os "babacas brancos de Gotham". Mas ela não está sozinha nesta empreitada. O único policial honesto da cidade também é negro (Gordon) e ajudará a salvar a vida da futura Prefeita que limpará a cidade das mazelas sociais: a beldade negra e aguerrida Bella Reál, praticamente uma personalidade à altura de Kamala Harris! Ela, sim, possui as causas e os valores corretos, em meio a um lodaçal onde até mesmo os pais de Bruce têm segredos podres sepultados em sangue e corrupção.

Em 1989, antes da Era da Lacração (esta, definida por Eric Hobsbawm como: o justo e adequado comando da geopolítica, cultura e entretenimento via Twitter), Burton escolheu o brilhante Billy Dee Williams para dar vida a Harvey Dent. Mas, ali, ele não era a única maça saudável do pé: Bruce já secara as lágrimas pelo passado, o crime não tinha qualquer plausibilidade e Thomas Wayne ainda podia descansar em paz, como cidadão honrado que foi.

De qualquer forma, o filme possui grandes momentos, pois pequenos elementos mitológicos, a bem (ou mal) da força, se fazem presentes: engenhocas mortíferas para ceifar vida com dramaticidade, os gatinhos de Selina Kyle, o ar detetivesco na concepção até mesmo da capa do Morcego ou coisinhas menores, como quando Oswald Cobblepot está com pés e mãos atados e precisa andar como se fosse um pinguim. E também há explosões e perseguições!

Eu pensei que Matrix Resurrections (também visto no ótimo serviço da HBO Max) seria minha grande decepção deste ano, mas me surpreendi. Matt Reeves seguiu a lição de Ernest Cline e, assim, ficará bem na fita, livre dos ataques de tuiteiros - embora tenha sofrido uma pequena crítica por ter escolhido um asiático a ser espancado logo no início do filme.

Abraços e sigam com Laerte, abaixo!



11 comentários:

  1. Quando li o post pela primeira vez ainda não havia a parte de jogador número dois.
    Devo dizer que não conheço o enredo desse livro, mas me pareceu interessante pelo descrito. O mundo, pelo que vejo, seguirá para esse caminho, tentando virtualizar cada vez mais o amor e o prazer, ficando com o grosso da coisa uma pequena parcela da população.
    Por ora, vejo que a coisa vai se degringolando aos poucos e não acredito que esteja aqui para ver o final, mas essa "fluidez", "liquidez" do mundo, como coloca Baumann vai acabar deixando ele uma merda, principalmente nas cidades grandes. Logo, até a baitolagem e a putaria, coisas mais dark mode para os antigos (já que não parecem se sentir bem ao conversar sobre), ficarão fluidas, entrando no mar de merda moderno.

    Sobre Batman, não assisti e provavelmente não assistirei. Gostei dos filmes de Nolan e acredito que esse seja cheio de efeitos especiais também, mas não vejo algo de novo que possam colocar num filme do Batman. Nem os vilões parecem trocar. O caminho só é pra baixo. Com besteiras que a modernidade coloca. Além disso, sempre criam roteiros intermináveis para fazer a pessoa ficar indo 3-4 vezes esperando um final, já virou "série de filmes".

    Por fim, Batman não me parece ser alguém bom para ser seguido. Apesar de ter a macheza e ar de fodão que os homens buscam, é um cara depressivo, só, preso em sua própria história e realidade bizarra, que se culpa pelos pais que morreram e pela cidade, a qual não tem controle de proteção por ser um único homem. Com o dinheiro de Wayne eu deixaria a cidade mofando e iria construir uma casa no campo, mas isso não daria um bom filme.

    Abraços!!

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    1. Fala, Matheus.

      Tão logo postei, lembrei do "INFERNO BRANCO" mencionado por Cline em seu livro, depreciando a obra de JH, então quis acrescentar algo. Mas estava cansado e deixei para escrever hoje esse adendo.
      São dois livros divertidos, assim como "Armada". Seguem a mesma linha de revival anos 80. Uma maravilha. Mas a qualidade vai caindo: Jogador 1 > Armada > Jogador 2. Acho que ele esgotou a fórmula mágica, mas não quer dar o braço a torcer!
      Este Batman não exagera nos efeitos. É um filme até cru, com um Batman mais "humano" e vilões mais "verossímeis". Achei capenga o lance com algumas charadas e essa pegada engajada no "homem branco mau", "muié negra boa". Não me desce, já deu, cansou. Mas enfim...
      Adoro o Batman por este sacrifício. O cara poderia estar numa ilha cheia de modelos, boas comidas e bebidas, aguardando a morte. É o que eu faria, confesso. Mas está ali pensando em como combater o mal. E tb seu lado detetivesco, algo que foi-se perdendo em alguns gibis com o tempo (não sei como anda hj, pois não acompanho novidades)... Sempre achei bacana sua busca por superioridade moral, física e intelectual.
      Abraços!

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  2. livrinho bosta esquerdista,
    mas o que esperar de um escritor ateu/gnóstico?
    daqui a pouco só vou assistir filmes com mais de 20 anos de idade
    tá brabo ver os lançamentos com tanta lacração

    abs!

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    1. p.s.: " lado detetivesco, algo que foi-se perdendo em alguns gibis com o tempo " não tenho certeza, mas depois q batman morreu, viajou no tempo e ressuscitou nos gibis; acho q ele tem mais poderes q o superman; ahahahahaha

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    2. Fala, Scant.

      Ele até se controlou no Jogador Número Um, mas não conseguiu mais segurar a onda na sequência. Li até o final por apego às referências a tudo que gosto, então fui me deparando com os ataques escrotos e uma trama que foi estendida ao cansaço. EC, creio, está com o cérebro pobre de tanto esquerdismo; ou então a canalhice por mais grana o levou a isso. Certamente, emplacará este livro no cinema (só acho difícil que Spielberg pegue o bagulho).

      Sobre cinema, hoje mesmo pensei em rever todos Um Tira da Pesada!!!! A vida está cada vez mais encurtando para perder tempo com tanta merda. Já me livrei dos gibis atuais. Do cinema, será um grande avanço.

      Abç!!

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  3. O/A/E/X Laerte é genial. Sempre foi. Até copiei a imagem.
    Vi que seu blog também está com o aviso de conteúdo adulto. Você optou por ele ou, feito eu, o ganhou de presente do Google?

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    1. Fala, Marreta.
      Leio Laerte desde guri, por meio de meu irmão mais velho. Ele mudou seu jeito de fazer quadrinhos após a morte do filho, e continua genial.
      Coloquei novamente. Já tive um blogue derrubado e esses dias recebi um e-mail ameaçador do Google.
      Abraços!

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    2. "e-mail ameaçador do Google."

      é muita liberdade de expressão ahahahahaha

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    3. Como diz o Jaiminho, quero evitar a fadiga. Se derrubarem, ok. Já tenho até outro blogue pronto, privado no momento, com tudo respostado e um canal no Rumble com TUDO igualmente replicado (e o Rumble faz isso de forma automática, por meio de sincronização). Espero que o e-mail tenha sido algum erro de robô. Mas vai se saber... A mensagem citava violação de termos por postar conteúdo sexual PROIBIDO POR LEI. O que seria isso? Esta conta tem esse blogue e o canal. No drive, não há nada. No Fotos, nada tb. Tudo é em função do blogue. Não compartilho foto nem de nudes! Aliás, nem sei quem guarda pornografia nos dias de hoje, com tanta opção on line e banda larga para acesso. Isso tá com cheiro de ação humana para derrubar a conta. Se for, o ativista por trás da medida talvez não tenha podido fazer isso sumariamente porque esta conta é premium e tb paga um domínio com renovação anual. É mixaria para o Google? Sim. Mas acho que a empresa deve ter regras mais rígidas para excluir quem paga algo. Só estou especulando, mesmo. Mas, para evitar, meti esse aviso inicial, o qual acho uma bobagem.
      Apagar conteúdo é coisa de anta. Derrubam um site e no dia seguinte ele está noutro lugar. Canais, há opções diversas. Demorei um pouco para chegar, hj, aos 12 mil acessos por mês. Ainda não é o que era antes. Mas, se cair, o próximo site em algum tb tb começará a ter acessos. Essas pessoas têm cocô na cabeça.

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    4. Cara, me explica, se não for incômodo, essa coisa de terem derrubado seu blog. Quem derrubou? Por quê?
      E o que é e como funciona esse Rumble?

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    5. O Rumble é um serviço de streaming igual ao Youtube, mas com mais liberdade, menos regras estapafúrdias.
      O blogue começou a ter o alcance reduzido. Eu falava bastante sobre a delinquência esquerdista e isso com cultura pop como pano de fundo. Então um dia o Google removeu tudo sem explicação. Acho q nao foi obra de robô. Foi ação humana. Talvez da "sala MarieleFranco" da empresa. Sabia q os funcionários dao nomes aos ambientes do Google e há espaços assim, com nomes de agentes da extrema esquerda ultraradical? Pois é. Não posso te dizer de certeza o que houve, pois não me disseram... mas eu vinha cumprindo todas as regras.

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