domingo, 2 de junho de 2024

Te ver é uma necessidade, Vamos fazer um filme

O cinema nos dava grandes cenas, memoráveis. Eram aqueles momentos inesquecíveis e marcantes, onde tudo se encaixava à perfeição, desde as boas atuações até câmera, fotografia, cenário, produção de arte e com uma trilha sonora feita sob medida, como que por um alfaiate. De supetão me recordo agora da escadaria em Os Intocáveis, os créditos iniciais de Apocalypse Now, as lágrimas na chuva de Rutger Hauer em Blade Runner, com Vangelis ao fundo, a pluma de Forrest Gump, a sacola de Beleza Americana (assim como seu desfecho trágico e belo), Jack Nicholson manco com um machado em mãos no hotel Overlook, macacos pulando em torno do monólito na aurora dos tempos, Tom Cruise caminhando no meio da rua com seu irmão Raymond - ou Rain Man -, Matthew Broderick dançando Twist and Shout numa avenida da belíssima Chicago e Hannibal Lecter se salpicando de sangue enquanto desce o cassetete num guarda inocente. Se for para elencar tudo, hajam dias. Mas enfim: deu para entender. Havia a "marca da cena". Aquela Cena!

Já comentei aqui que acho todos os filmes mais recentes praticamente iguais. Fica a sensação de que é tudo a mesma coisa e confessei que, após alguns dias, até esqueço quase tudo o que vi. É um alzheimer cinematográfico. Nada marca, nada impacta. Até mesmo bons filmes - como o Duna de Denis Villeneuve - não deixam mais momentos marcantes, pelos quais a obra será rememorada. Me parece que tudo é feito apenas para preencher telinhas, e nada mais. Tudo elaborado a toque de caixa, igual a vacina "contra" o vírus chinês. Não existe mais o suor, a dedicação, aquele esforço de equipe por apoteose, mesmo que por meros dois minutos.

Pensando nisso, compartilho a cena acima. Estrada para Perdição é um filme excelente baseado numa boa HQ. Recordo bem quando o vi, no lançamento, em DVD. Foi minha ex esposa quem pegou na locadora. Na época, éramos apenas namorados de faculdade. Ela chegou com o filme, olhei o título e não me interessei. Ainda comentei com ela que deveria ser uma bosta. Assistimos no dia seguinte. E que filme, senhores. E nem é tão antigo. Foi lançado ontem, praticamente. Mas ainda havia coisas assim brotando para nosso deleite. Há várias cenas icônicas, nesta obra. Mas a de cima serve bem para ilustrar o que tento exprimir: Michael Sullivan (Tom Hanks) executando todos os seus ex parceiros mafiosos para, finalmente, poder encarar aquele que lhe era como pai, com o semblante resignado de lástima da então lenda ainda viva do cinema Paul Newman. Chuva, slow motion, rajadas de tiros em meio à trilha melancólica de Thomas Newman etc. Mais uma obra de arte de Sam Mendes.

É isso. Abraços saudosos e até a próxima.

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quarta-feira, 29 de maio de 2024

Navio de Sangue [ Filme, 2019 ]

Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder. 

- Dilma Rousseff, petista profissional

Navio de Sangue é um filme ruim que é bom, porque é ruim sem se propor a ser bom e quer apenas isso: ser um filme ruim, meio que resgatando o antigo formato de cinema de terror/horror/suspense feito sob medida para a TV no passado. Se lançado há algumas décadas, seria mais um made for TV banal. Se mais curto, poderia ser um episódio de Contos da Cripta. Mas tem potencial para ter sido um ótimo filme, acaso tivesse recebido mais atenção dos realizadores. O mote é bacana! Vamos lá com alguns poucos spoilers.

Não é novidade para ninguém que, no Reich bigodista, havia a trupe da macumba. Oficias nazistas que se dedicavam ao ocultismo e, talvez, tenham pesquisado maneiras de utilizar forças sobrenaturais ao seu favor. Aliás, França e Inglaterra não ficavam atrás - os aliados eram nações racistas, supremacistas e cheias de líderes satanistas. Não pensem que aquele "V" de vitória comumente utilizado por Winston Churchill era à toa. De resto, este Admirável Mundo Novo que herdamos foi graças aos Aliados, pessoas nem tão nobres assim. Ademais, "arianos" não eram apenas loiros de olhos azuis. Várias raças se dizem arianas. O nome Irã (antiga Pérsia) não é à toa: trata-se do lugar reconhecido como de origem dos arianos. Muitos indianos e africanos se identificam com arianismo e o misticismo em torno disso. Todo mundo quer se sentir especial, quase um elfo do cu rosa. Supremacismo e suas mandingas não foram exclusividade do bigodismo, em resumo. O quadro da Segunda Grande Guerra era esse: basicamente, estávamos naquele dilema do matuto "se correr o bicho pega e se ficar o bicho come". Entre seis e meia dúzia, herdamos essa ilusão de "democracia liberal" que não tem nada de democracia nem de liberal. Mas o nome é bonito e causa impacto, mesmo que nossa liberdade seja menor que a de um camponês no sistema feudal.

Mas voltando ao assunto: macumbeiros nazista, ao retornarem de uma expedição na Romênia, levariam à Alemanha seus achados. Dentre estes, três urnas fúnebres. Isso descobrimos nos primeiros minutos do filme, quando pessoas num bote "multiculturalista" à deriva (americano, inglês, inglesa, australiano e soviético) conseguem subir a bordo do navio agora abandonado, apenas com cadáveres para todos os lados. Então já sabemos o que virá: vampiros em alto mar. Algo como a passagem de Drácula a bordo do Demeter, na obra de Bram Stoker - que aliás inspirou o filme sofrível Drácula - A Última Viagem do Deméter. Em Navio de Sangue, descobriremos que Drácula (seja lá qual for seu nome, chamado apenas de strigoinão está de carona. Ele na verdade foi pego, dentro das urnas, pela expedição nazista; e acompanhado de sua família - esposa e filha (seriam elas strigoaică?). O problema é justamente que a filha libertou-se e matou toda a tripulação antes do bote com os náufragos da diversidade subirem a bordo. O objetivo da moleca sapeca é libertar toda a sua família.

Gostei bastante do fato de Drácula e familiares serem representados como criaturas grotescas (strigoistrigoaică?). Não que "estão naquela forma", mas que seriam antigas entidades malignas que, naturalmente, são monstruosas. E pela primeira vez vi um Drácula "homem de família", orgulhoso pai de uma pequena demônia e casado com uma jararaca.

O filme pode ser visto no serviço Prime da Amazon ou no YouTube, tanto de maneira paga (aluguel) ou de graça, pois há vários uploads de usuários por lá, tanto dublado quanto legendado.

Abraços sanguinolentos e até a próxima.

  • Título original: Blood Vessel
  • Sinopse: em 1945, uma balsa salva-vidas fica à deriva no mar, e nela os sobreviventes de um navio-hospital: sem comida, água ou abrigo, até que um navio alemão abandonado lhes dá uma última oportunidade de sobreviver. Porém, o local está repleto de vampiros.
  • Data de lançamento: 11 de outubro de 2019 (mundial)
  • Diretor: Justin Dix