terça-feira, 24 de maio de 2022

Love, Death & Robots

Assim que lançaram Love, Death & Robots na plataforma Netflix, assisti no primeiro dia. Como rejeitar uma antologia de animações curtas, eu que gostava de acompanhar no Vitrine ou Metrópolis da TV Cultura matérias sobre o Anima Mundi, apenas para ver segundos dos trabalhos ali inscritos? Fora os DVDs que catava por aí, custando os olhos da cara - ainda hoje guardo a antologia original Memories de Katsuhiro Ôtomo e minha cópia pirata de Animatrix.

Se a primeira temporada de LD&R foi maravilhosa, a segunda foi broxante. Realmente fiquei meio bolado como a qualidade de algo poderia ter caído de forma tão abissal. Eis que surge o terceiro volume e, colegas, que maravilha. São nove episódios curtinhos com de tudo um pouco: o bom humor dos três robôs da primeira temporada fazendo um tour pela Terra pós apocalíptica, desta vez tirando sarro dos sobrevivencialistas e dos mega ricos em búnqueres; a poesia sci-fi d'O Mesmo Pulso da Máquina, onde Io, lua de Júpiter, nos é mostrada como uma grande máquina, numa trama que parece misturar um pouco de 2001: Um Odisséia do Espaço e Solaris; a beleza macabra na obra-prima digital Fazendeiro, onde fiquei pasmo com uma CGI daquele porte, quando em tempos atuais a Marvel divulga o trailer ridículo de Mulher-Hulk com recursos gráficos bisonhos; e narrativas inteligentíssimas em aventuras como Viagem Ruim (que ganhou direção de David Fincher - O Clube da Luta e outros).

É difícil dizer qual o melhor episódio, porque gostei de todos, inclusive dos bem-humorados. Mas me divido entre Viagem Ruim e Fazendeiro. No primeiro, marinheiros navegam águas distantes (creio que num novo mundo, numa possível colonização espacial humana ou no multiverso), quando topam com um crustáceo gigante (thanapod) perfeito em todos os aspectos da sobrevivência: resistente, ágil, habilidoso e inteligentíssimo. Torrin é o marinheiro herói e anti-herói da trama, belo exemplo de honradez, astúcia e força, capaz de tomar as decisões mais cruéis pelo bem maior, com risco à sua própria vida. Mas a beleza macabra de Fazendeiro mexeu profundamente comigo. Neste último episódio, uma sereia cujas escamas são de ouro e pedras preciosas se apaixona e é imolada nas mãos desta paixão - o único homem que não sucumbiu ao seu canto (pois é surdo). Fiquei imaginando um jogo de videogame com CGI tão bela e avançada quanto aquela (para jogar num PC da NASA, creio). Da paisagem natural eletronicamente construída à concepção dos personagens e à poesia de uma trama sem diálogos, tudo ali é uma obra de arte refinadíssima. Roteiro e direção por Alberto Mielgo. Ele também foi responsável pelo episódio A Testemunha da primeira temporada, de maneira que há semelhanças claras entre a protagonista daquele episódio e a sereia-cigana de Fazendeiro.

Em resumo: valeu a pena dar uma chance a este volume após a decepção com o anterior.

Abraços e até a próxima.

Resumo de Fazendeiro

Resumo de Viagem Ruim