quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Histórias atualmente impublicáveis do Chico Bento


O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem
(Heráclito de Éfeso)

A Turma da Mônica não é mais a mesma etc etc. Sei que, às vezes, somos apenas saudosistas pela ideia de alegria que sentimos quando recordamos nossa infância. É mais ou menos como aquele poema de Fernando Pessoa, onde se conclui: "Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora". Mas, no caso da Turma, não é só isso. É um trabalho simples de comparação. Pegue histórias da fase Abril e parte do publicado pela Globo e leia bem. Repare na arte, também. Depois, confira algumas edições da Panini. É como comparar ouro com bosta. E o pior: quando republicam histórias antigas em coletâneas, alteram os roteiros e a arte para que se adaptem à política do "politicamente babaca" de hoje. Para mais sobre isso, recomendo a matéria no site Arquivos Turma da Mônica.

É curioso isso: numa época violenta, onde alunos espancam professores, mães colocam filhos em caixas de sapato e a garotada de treze anos de idade promove festinhas regadas a sexo e a drogas, os quadrinhos do MSP cultivam a ideia de que vivemos no mundo do pirulito. É legal essa atitude dos Estúdios? Claro que não; pois, além de alienante (totalmente dissociada da realidade), acaba gerando péssimas HQs, insossas, sem nenhuma graça. As mensais atuais da TM são produtos para pessoas com certa lentidão mental (penso). Sei que há quem goste etc. Respeito o ponto de vista de cada um. Cada um faz o que quer com seu tempo e dinheiro, desde que não prejudique outrem. Se o cara quer aproveitar seus lazer com algo de qualidade, ótimo; se quer ler HQs mensais da Mônica, fazer o quê, né?

Esses dias, estive lendo os gibis # 21 (Eu guardo o que é meu) e # 25 (Tudo que é demais) do Chico Bento (ed. Globo) e vi histórias divertidíssimas que, hoje, não seriam publicadas. E justamente as histórias de abertura: curtas, inteligentes e com ótimo humor. Resolvi até compartilhá-las aqui, para que vocês tirem suas conclusões. Acredito que a primeira seria impublicável por, na cabeça de alguém do MSP, insinuar "pedrophilia" ou outra forma de sacanagem, apenas porque a Rosinha mostra a xana ao Chico e, mais à frente, os garotos ficam-na secando apenas de biquíni. A segunda trama também não encontraria espaço atualmente por ser, eventualmente, taxada de "escatológica"; pois, após encher a cama de mijo, o Chico ainda despeja um barro nas calças, dentro da sala de aula, no último quadrinho da história.

Recordo de uma tirinha onde Chico pede um beijo a Rosinha, não o ganhando porque esta diz ter vergonha. Ele diz "tudo bem" e a chama para nadarem no riacho. No último quadrinho, os dois estão pelados, pulando dentro da água. É isso: ingenuidade, falta de segundas intenções. No universos pueril da Vila Abobrinha, quem eventualmente possui a mente suja é o leitor. Sacrificar boas tramas em nome de fricotes é enterrar belos personagens, criados e amadurecidos ao longo de décadas.

É isso. Não posso postar as histórias na íntegra porque o Blogger não aceita. Mas compartilho os trechos abaixo. Divirtam-se com tramas assim e, depois, chorem pelo que a turma do Maurício se tornou.

Qui cherinho di mijo é esse?


Adonde ocê vai assim pelada?



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