quinta-feira, 13 de maio de 2021

O mundo ordinário em The Evil Within


☝ Quando vou ao açougue municipal. ☝

Ernest Hemingway escreveu certa vez: "O mundo é um lugar bom e pelo qual vale a pena lutar". Concordo com a segunda parte.

Somerset em "Se7en" (1995)

Como na postagem anterior citei algumas paisagens sonoras em videogames, achei interessante, agora, falar das belas trilhas que encontro em vários jogos. Gostei bastante, por exemplo, da trilha composta por Jeff Russo para What Remains of Edith Finch, joguinho recomendado já por mim. Além dessas trilhas originais, o uso de canções consagradas, quando apropriadas, também ajudam no clima de imersão. É mais ou menos como In Dreams de Roy Orbison no maravilhoso Alan Wake, mantendo completa relação com o enredo onírico. Aqui, quero destacar como ficou bacana a versão de Ordinary World no epílogo de The Evil Within 2.

Comprei, usados, os dois volumes deste survival horror e não me decepcionei. Que clima angustiante e claustrofóbico! Abordando um terror que poderia realmente acontecer num universo simulado, encarnamos o investigador Sebastian Castellanos adentrando em realidades onde toda a maldade humana é potencializada devido a pesquisas de um grande grupo econômico e sua tecnologia conhecida por STEM. A existência em The Evil Within é ordinária. Ao menos, claro, ordinária quanto aos aspectos semânticos de nosso vernáculo. Na língua inglesa, "ordinary" representa apenas o usual, o normal, o comum. Para nós, ordinário também pode ser referir ao normal, a exemplo do "rito ordinário" utilizado em meu cotidiano profissional, onde nada mais é do que ação judicial que tramita normalmente, sem procedimento especial. Mas usamos o vocábulo, em regra, para nos referirmos ao imprestável, ao imundo, ao inadequado. Exemplo: "90% de minha família é composta por pessoas ordinárias".

Ordinary World surgiu em 1993 e quase todo mundo a conhece. Recordo tocar sempre nas rádios e integrou o sétimo álbum da britânica Duran Duran. A versão para o game foi realizada pela produtora musical The Hit House e não deixou a desejar. Bem além disso, ficou ótima. E assim, considerando o mundo cada vez mais ordinário (no mau sentido) onde transitamos, bem como esse gancho de música/jogos eletrônicos deixado pela matéria anterior, achei bacana compartilhar aqui para quem a desconhece. Seguem, abaixo, o vídeo com trailer oficial e, logo depois, outro contendo a composição integral.

No final das contas, é uma canção de resiliência. Entretanto, penso que o personagem central da letra jamais encontrará este possível mundo normal (ordinary). Assim como no jogo eletrônico, ele se encontra em busca do usual, numa existência extraordinária. E, aliás, este é o planeta onde agora vivemos e não creio em mudanças positivas nos próximos longos anos: a era da escassez, inflação monetária global e da mãe de todas as bolhas financeiras. E isso tudo enquanto não eclode a próxima crise sanitária, com algum vírus de elevada letalidade, o qual já deve estar sendo devidamente analisado em algum laboratório subterrâneo.

Abraços ordinários e até a próxima.


8 comentários:

  1. Olá, Neófito. Tudo beleza??

    Essa frase do Somerset é muito boa mesmo. O filme é bom, mas o final é melhor ainda.

    Conhecia a versão do Duran Duran, mas nunca prestei atenção na letra. Talvez por ser uma canção "ordinária" nas rádios.

    Talvez o mundo mude, talvez não. Acho que, como as pessoas continuam as mesmas, o mundo continuará eternamente neste mesmo ciclo de vai e vens, sempre igual. Uma eterna sombra da qual não conseguimos escapar.

    De qualquer forma, precisaremos, enquanto tentamos caminhar em direção a esse mundo ordinário e simples, aprender a sobreviver.

    (Sempre penso que o mundo já é bastante ordinário, nós que tentamos deixá-lo mais apimentado criando coisas complexas e problemáticas, como objetivos grandes, sonhos inalcançaveis, entre outros. Seria melhor jogar no nível Easy e só ir pra frente com o básico. Mas insistimos em tentar o Hard e ganhar tudo)

    E, no fim, talvez tenha valido a pena lutar por esse mundo. E mesmo que não tenha, quem se importa?? Existiria alguém lá em cima olhando pra cá??

    Abraços!!

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    1. Olá, Matheus!

      E felizmente ainda temos essas canções ordinárias tocando em algum lugar, considerando o lodaçal cultural onde chegamos. Não é uma obra-prima, mas é uma bela música. Nem tanto pela letra, mas pela bela harmonia. Gosto de ouvir rádio à noite, quando dirijo. Ainda tocam as mesmas músicas de quando eu era guri e gravava K7.

      Em poucos anos, vi as pessoas desaprenderem a sobreviver. Fui testemunha disso. Via gente sabendo existir com pouco. Conheci casas com lamparinas, fogões à lenha e carnes de caça no dia a dia. Isso acabou-se. Claro, pessoas saindo da miséria. Que bom. Mas não restou nada de aprendizado. Se amanhã não houver energia elétrica, acho que metade das pessoas se matarão. Se não houver supermercado, vão-se mais 40%.

      Acho muito estranho conhecidos meus que têm grandes casas e não tem o que comer se não for comprando. Nem um pé de manga!

      Lembrei agora de minha avó materna que, quando queria comer uma pamonha, colhia o milho, peneirava, espremia tudo à mão numa saca, embrulhava na palha e cozinhava. Cara, isso não se vê mais em quase residência alguma.

      Sobre o “ganhar tudo”, as pessoas hoje precisavam estar ligadas em gurus espirituais, físicos, amorosos e financeiros, poupando grana para a sonhada IF e comendo granola. Elas precisam de tudo! E agora lembrei de meu avô, que só queria fumar seu tabaco de corda, umas lapadas de cana, tocar o dia com algumas horas de trabalho e dormir em paz (ele gostava de rede) após dar uma passadinha em algum puteiro (algumas vezes no mês, claro). Ele sempre me pareceu feliz até à morte. Não endosso a mediocridade. O problema é pensar que pessoas que viviam como ele eram medíocres.

      A existência é absurda demais para não haver “algo mais”. É o que penso.

      Abraços!

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    2. Ah, gostei deste vídeo do Epifania: https://youtu.be/NVyzvo_pnf8

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    3. Quanto à sobrevivência, acho que as pessoas se acostumaram a facilidade. Ir ao campo, colher, peneirar, amassar no pilão, cozinhar no fogo a lenha (depois de cortar a lenha), isso é coisa de velho, de quem não tem tecnologia, eles pensam. Mas nunca pensam que a tecnologia pode sumir também. Tento aprender algumas coisas, mas nem no campo mais as pessoas fazem isso (exceto os mais velhos e puristas), os mais novos pelo menos não fazem. Eles já estão aprendendo na escola que o tempo é importante, seja lá pra que.

      Vi o vídeo, e é bem isso mesmo. Estamos vivendo num vórtex criado por alguns, como se o objetivo dessa vida fosse ter sucesso e dinheiro. No fim, ainda prefiro a vida do seu avô, que também era a vida do meu. Uma vida simples, com algumas pequenas regalias.

      O mundo deles era pequeno, por isso pouco importava o mundo como um todo. O nosso é grande demais para nossas mentes, mas não conseguimos entender que somos só partículas no universo. Talvez nada importe, no fim, para dar tanta importância ao sucesso ou ao dinheiro em excesso.

      Abraços!

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    4. Bem lembrando o pilão. O pessoal usava regularmente. E uma pedra de mó para milho. Comi muito cuscuz moído assim, quando ia à casa de uma tia, onde a vizinha moía grãos em casa.

      Sobre "O nosso é grande demais para nossas mentes", me deu o que pensar aqui.

      Ando numa fase da vida onde quero paz e saúde. O dinheiro é para os "boletos" pagos e aquele conforto bacana. Se sobrar para excessos, melhor ainda. Sucesso, para mim, é ver minha filha crescer com saúde e dignidade. Esse é meu pensamento "pequeno burguês". Ou melhor: pequeno operário. E tô de boa com isso.

      Abraços!

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  2. Olá, Fabiano.

    Sei que você é grande fã de Roxette. Chegamos a ter dois álbuns em casa: o branco greatest hits e Tourism. Via tanto a capa deste último que ainda recordo dos detalhes, após tanto tempo. Falo sério.

    Come Undone não esteve em noitada minha, porque eu não as tinha. Só vim ter noitadas após os 20 anos de idade, quando estava saindo da faculdade. Aí o negócio era tão maluco que nem sei o que tocavam direito. Alguma merda qualquer que eu nem ouvia. Mas é uma canção que tínhamos em nossos K7s. Tb gosto do vídeo oficial. E foi justamente Duran Duran que “inaugurou” o vídeo clipe como ele é hoje: elaborado. Isso logo no nascimento da MTV.

    Ah, o câncer. Tem um pouco a ver com o que falei mais acima, em resposta ao Matheus. A vida é curta. Perdemos muito tempo querendo tudo perfeitinho. Quando uma amiga minha teve câncer de pulmão mesmo sem nunca ter fumado, aos 38 anos, percebi mais ainda isso.

    Acho que você gosta das postagens sobre jogos porque não sou “gamer”. Tô apenas aproveitando o lado lúdico (às vezes profundo, também) da coisa. Gamer quer troféu (os consoles dão troféus virtuais e os caras valorizam muito isso) e falar sobre algo bem técnico da coisa. É mais ou menos isso.

    Abraços!

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  3. "não creio em mudanças positivas nos próximos longos anos" - acho que a humanidade está doente demais para perceber que está doente, tipo estado terminal mesmo de insanidade
    há quem acredite que estamos no final de um ciclo de destruição (nesse sentido Monir Nasser falando de Rene Guinon).
    sigo no aguardo de um novo mundo onde serei apenas poeira cósmica, hehe

    "toda a maldade humana é potencializada devido a pesquisas de um grande grupo econômico e sua tecnologia" lembrei dos japoneses fazendo experiências com chineses e, claro, dos alemaes com os judeus

    abs!

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    1. Olá, Scant.
      Acredito que a "pandemia" apenas precipitou algo inevitável: o crescimento do poderio de grandes elites que querem tocar o mundo à sua maneira.
      Vem aí a nova era de hiperinflação global, falta de produtos, crescimento das maiores fortunas do planeta e Estados totalitários.
      O que posso fazer é tocar o dia a dia e aguardar essa refundação do mundo. Cedo ou tarde, todos seremos poeira cósmica, mesmo.
      Sobre a maldade potencializada no game, é interessante. Trata-se de uma simulação. E nos mundos simulados, a merda é maior.
      Abraços!

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