terça-feira, 1 de junho de 2021

Outlast, fé e conspiracionismo [ Postagem atualizada ]

 

Zerei em dois dias Outlast e sua DLC (uma espécie de conteúdo extra) The Whistleblower. E que joguinho legal. No jogo principal, encarnamos o repórter Miles Upshur que, após denúncia anônima, dirige-se ao manicômio Mount Massive para descobrir se, realmente, estranhas experiências ocorrem em suas dependências, sob o controle do império financeiro Murkoff. E a resposta é: sim. Logo ao ingressarmos nas dependências, nos deparamos com carnificina, malucos mutilando a si mesmos e aos demais, estupros, pessoas que se tornaram criaturas estranhas e todas as formas de horror.

Não há uso de armas em Outlast. Não temos sequer um canivete. De cara, surge a mensagem inicial na tela: "Você não é um super-herói". O negócio é se esconder e sebo nas canelas quando necessário. A única "arma" é a visão noturna da câmera digital, para enxergarmos nos locais de escuridão absoluta. E precisamos catar baterias por todo o cenário, para abastecê-la. Juntando documentos e ouvindo relatos, descobrimos que grandes conspirações (MK Ultra, Paperclip etc.)  convergem para o Projeto Walrider, com resultados quase sobrenaturais. O experimento russo do sono talvez seja o mais comum, no local, até mesmo pela resultante aparência dos pacientes. Quanto a este experimento, há divergências acerca de sua existência. Os demais citados ocorreram em nossa vidinha real, evidentemente. Mas, durante anos, foram operações consideradas meros delírios de teóricos da conspiração. Assim como, até poucos meses atrás, quem acreditava que o coronavírus é cria do Instituto de Virologia de Wuhan, era apenas outro terraplanista na fila do pão. Como disse certa vez Olavo de Carvalho, o sujeito se acha ixpertinho porque descarta teorias "conspiratórias", mas abraça todas as teorias das meras coincidências com bastante alegria.

Caríssimos, quando leio qualquer notícia, associo logo a uma conspiração. O mundo fundou-se em conluios, até mesmo sobre os inexistentes que surtiram efeitos concretos pela mera especulação, como nos diz Umberto Eco em romances como O Pêndulo de Foucault e O Cemitério de Praga.

Na DLC Outlast: The Whistleblower, jogamos com o denunciante anônimo da história principal (o engenheiro de software Waylon Park), onde nos aprofundaremos ainda mais nos horrores escondidos em cada recôndito sombrio do vasto asilo. O vídeo que gravei abaixo foi justamente dessa DLC, onde infelizmente levei uma surra por incomodar um dos lunáticos enquanto tocava sua punhetinha sobre cadáveres trucidados.

Ainda acerca do conteúdo extra, achei interessante que, ao encontrarmos um guarda delirando escondido num cômodo, ele fica repetindo (referindo-se à tecnologia ali desenvolvida, chamada de Motor Morfogênico): "O doutor me disse certa vez que se você mostrasse a um homem das cavernas nossa tecnologia, ele pensaria ser magia. E se você mostrasse esta "magia" a um homem moderno, ele pensaria ser tecnologia. Temos fé em todas as coisas erradas. Isso nos destruirá.". Achei interessante salvar esta passagem, pois resume bem a ambiguidade presente nos experimentos ali realizados, capitaneados por um ex Oficial nazista levado à América pela Operação Clipe de Papel: sistemas mágicos se imiscuíam em todos os assuntos do Reich, até mesmo nos científicos.

Comprar estes jogos foi um bom investimento. Outro gratificante survival horror que me deu boas horas de sufoco e, ao mesmo tempo, alegrias.


U p d a t e

Concluí Outlast 2 em tempo bem maior do que o primeiro jogo, também no modo "normal". Ele não possui nenhuma relação com a trama do primeiro jogo. Ao menos, aparentemente. Se possuir, desconheço. Pode ser algo bem velado. A mecânica, claro, é a mesma: câmera na mão para enxergar no escuro e "pernas pra que te quero". Na trama, Blake Langermann (cinegrafista e jornalista investigativo) acidenta-se com sua esposa sobre um inóspito vilarejo com a queda do helicóptero que os transportava. Logo, nos deparamos com o usual da franquia: ambientação angustiante, acontecimentos misteriosos e corpos despedaçados para todo lado. E sangue, rios de sangue. O sangue, aliás, nos indica por onde devemos seguir, como uma trilha mórbida, ao invés da trilha com pedacinhos de pão ou fio de lã.

No local, descobrimos a existência de culto mórbido, chefiado pelo putanheiro Papa Knoth, Comedor-Geral de todas as mulheres da região, Vetor-Mor de doenças venéreas e líder do processo de infanticídio ali ocorrido. Todas as crianças da vila foram executadas pelo próprio Papa, seus asseclas e demais moradores. Eles, assim, evitariam o nascimento do anticristo que nos levaria ao Apocalipse. O jogo, ademais, é divido em seis capítulos com nomes de livros bíblicos: Gênesis, Jô, Apocalipse etc. E, sempre retornamos às memórias sombrias da infância do protagonista, quando foi aluno de uma escola católica e testemunhou o falecimento de sua amiga Jessica. Logo, religiosidade e exploração humana pela fé são os núcleos do enredo. A pretexto de evitar o fim, fazemos nossos pequenos Armagedons.

Obviamente, qualquer mídia contemporânea faz questão de atacar a fé alheia (desde que não seja a islâmica, porque esta tem licença para matar) e associar crentes a pessoas más. No jogo [spoiler] descobrimos que o Papa Knoth aproveita o sacerdócio para passar o rodo nas beatas e, no passado de Blake, chegamos à revelação de que Jessica não se matou enforcada; mas, sim, quebrou o pescoço ao tentar fugir do estupro perpetrado pelo professor, Padre Loutermilch. Contudo, durante a campanha, descobrimos que a esposa de Blake (a repórter Lynn, então sequestrada primeiramente pelo bando do Papa Knoth e depois pelo grupo antagônico dos hereges que querem o fim dos tempos) está realmente grávida e que este filho poderia ser o anticristo mencionado nas profecias locais. Meio como no filme Ex Machina (2014), vivemos para descobrir que o vilão não era tão vilão assim. Os cultistas estavam corretos: uma criança traria o final dos dias e seria justamente a do protagonista, chegada até ali por mero acidente.

Como falado mais acima, não fica claro que este segundo jogo tenha relação com o primeiro. Se sim, então poderíamos estar diante de experimentos da corporação Murkoff junto aos habitantes do povoamento bem escondido nos rincões do Arizona. Tudo não passaria de insanidade coletiva, diante da exposição das pessoas às tecnologias do grupo. E a própria gravidez de Lynn poderia ser imaginada. De qualquer maneira, optei por acreditar que concluímos o jogo com o Apocalipse e que tudo foi pro beleléu.

Gravei os últimos cinco minutos do jogo. Achei a conclusão tocante e, mesmo mostrando a realidade de padres pedófilos e extremistas religiosos, nos mostra a Fé como ferramenta de conforto ao medo, ao sofrimento e à desolação.

Abraços sincréticos e até a próxima.

8 comentários:

  1. Olá, Neófito.

    "O negócio é se esconder e sebo nas canelas quando necessário" Isso me lembra no resident evil 4, quando jogamos com aquela garotinha cujo nome não me recordo. Tenho que dizer que prefiro muito mais descer o cacete nesses caras (hahaha). Nesse punheteiro pervertido, mesmo, com uma pistola já teria desmiolado o cara num joguinho desses (hehehe).

    "Caríssimos, quando leio qualquer notícia, associo logo a uma conspiração." O mundo está bastante complexo, não me surpreenderia se essa histórias que o Olavo mesmo contava fossem verdade, e existisse mesmo um grande grupo, ou grupos, por trás dos acontecimentos do mundo.

    "..o sujeito se acha ixpertinho porque descarta teorias "conspiratórias", mas abraça todas as teorias das meras coincidências com bastante alegria" Acho essa frase fabulosa. Entretanto, as pessoas são assim, é mais fácil para a maioria digerir que tudo de ruim aconteceu por acaso, uma curva na reta do tempo, simplesmente. Assim, não há muito no que pensar, e podem continuar a se concentrar nos problemas diários, como contas e aparelhos quebrados que precisam de conserto. A culpa é do acaso, não há como personificar. Entendo o lado do Olavo, o filósofo, mas a real é que ele mesmo sabe que ele ensina pra uma minoria, para uma pequena parte de letrados. A maioria não quer nem saber de filosofia, nem de Olavo, nem de teorias malucas.

    Abraços!!

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  2. Olá, Matheus!

    Gostei bastante de RE4, mesmo sendo mais um joguinho de aventura do que de terror. É um jogo diferenciado, que não seguiu a essência dos primeiros, mas mesmo assim conquistou muita gente. A garota é chata mesmo, gritando "Leon, Leon" o tempo todo. No RE6 jogamos com ela, já adulta, em parte da campanha. Dizem que não é ela. Mas acho ainda hoje que se trata da mesma personagem, com o nome Sherry Birkin, se passando por filha dos cientistas...

    https://residentevil.fandom.com/pt-br/wiki/Ashley_Graham
    https://residentevil.fandom.com/pt-br/wiki/Sherry_Birkin

    A sacada de Outlast em não te dar armas foi bacana por isso: você não tem meios de defesa a não ser correr e se esconder. No jogo, somos apenas o que somos, zé ruelas desarmados com medo de tudo e todos. Gostei bastante de cada minuto no jogo. Há momentos horríveis, bem piores do que isso que capturei.

    Muitas teorias de gente com papel alumínio na cabeça vem se mostrando comum atualmente. As maiores fortunas do planeta não escondem mais o que querem para nosso futuro e como farão isso. Klaus Schwab está aí, falando abertamente sobre tudo o que quer para nós. Soros não disfarça mais quem é bancado por seu bolso. Gates se torna o maior fazendeiro do planeta, aos poucos, querendo impor o veganismo, embora tenha almoçado gordos hambúrgueres durante toda sua vida.

    Até mesmo gente esperta tem muito medo de assumir, publicamente, certas dúvidas, pois pode ser rotulada de terraplanista, olavista, negaciosnista, faixista etc. Há o povão que assiste a programas como Jornal Nacional porque são isso: povão. Outros, evitam assumir que há sim grandes forças econômicas que se esforçam contra nossa liberdade, apenas pelo medo de serem a associadas a trumps e bolsonaros...

    Abraços!!!

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  3. Até aceito a possibilidade de teorias conspiratórias das mais diversas serem verdades, pois, pra mim, indivíduo insignificante,sem poder pra conduzir políticas públicas, nao faz diferença

    A corda sempre arrebenta na mao do mais fraco, eu. Seja se o vírus veio da natureza ou do instituto de wuhan

    Na prática, conspirações podem demorar várias décadas (alguns amantes de teorias conspiratórias de "raiz" falam de conspirações que atravessam milenios) para serem desvendadas e até posso estar morrendo ou já defunto muito antes

    O nazismo foi bem bagunçado em termos ideológicos. Essa mistura de rituais magicos com ciência me parece uma ressurreição da alquimia

    Pena q hellboy não apareceu, de verdade, nessa época

    Abs!

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    Respostas
    1. Fala, Scant!

      Podem até não ser conspirações tão antigas, mas que se tornaram conspiração no decorrer dos tempos. Como exemplo, eu citaria os manejos de famílias como Rockefeller e Rothschild.

      Com a família Rockefeller isso fica mais evidente. Inicialmente, seus membros nem ligavam para política local, quanto mais global, até que atos políticos começaram a ameaçar seu poderio econômico. Daí, passaram a atuar nos bastidores da política global, por meio de "ações sociais do bem" e pró socialismo, porque eles amam o povo!

      Quanto a milênios, até para mim parece exagero. E olha que gosto de força a imaginação. Mas...

      Rapaz, lembrei de Hellboy quando escrevi este post!

      Abraços!

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    2. por coincidência achei esse vídeo hoje os nazistas(https://www.youtube.com/watch?v=t3zYwx9vkcQ&ab_channel=Vem%26V%C3%AATV-Acervo)

      de conspiração recente temos "The Family - Democracia Ameaçada (2019)", que virou documentário

      abs!

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    3. Vi uns trechos do vídeo e recordo que vc recomendava bastante Caio Fabio. Acho q já vi esse doc mencionado por ele.

      Quanto a The Family, preciso ver.

      Falando em teorias malucas, hj estão fritando gente por microondas a distância...

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    4. não sei se é esse o caso (https://canaltech.com.br/inovacao/arma-de-micro-ondas-criada-nos-eua-e-capaz-de-derrubar-drones-em-pleno-voo-182847/)

      quando chegar a versão bélica aqui no RJ, vão deixar de usar pneus para carbonizar corpos e usar esse canhão, hehe

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    5. O microondas do tribunal do crime é mais eficiente.
      Sobre a arma, pesquisa "Síndrome de Havana".

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