quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

As Melhores Histórias de Wolverine de Todos os Tempos

Recordo bem este gibi à venda em bancas de revista, logo um ano após o início da temporada que dei sem ler quadrinhos. Durante uns sete anos, não li nenhum gibi e ainda por cima negligenciei vários que possuía, quase todos formatinhos da Abril. Recordo, por exemplo, que numa mudança esqueci alguns gibis num móvel velho e sequer retornei para pegá-los. Entre eles, havia Desafio Infinito (revistas lindas, em três partes, com lombada quadrada e papel similar ao LWC) e os dois números de Drácula Versus Heróis Marvel. Me arrependi, claro. Mas, na época, nem liguei mesmo. Espero que alguém os tenha achado e lido, ao menos isso.

Gibis sempre foram caros. Os da Abril mais ainda. A editora retirava o couro do leitor de quadrinhos e o tratava como cocô. Basta lembrar que formatinhos em papel jornal pagavam as despesas doutros setores falidos da empresa. Assim, enquanto víamos revistas luxuosas de "casa, jardim e fofoca" nas bancas, nossos gibis só não eram impressos em bosta prensada porque, creio, as autoridades sanitárias proibiriam. E quando havia algo melhorzinho, tacavam lá um "edição de luxo para colecionador" e custaria o supermercado da semana (ou do mês). Durante décadas, aliás, foi comum a expressão "o pato paga" na boca do então chefão Victor Civita. Quando editavam porcarias com luxo e requintes gráficos para nichos, sabendo que seria roubada, o publisher aquietava os ânimos com isso: os gibis Disney cobrirão os prejuízos.

Em 2001, o gibi acima com meu amado/odiado Wolverine custava R$ 23,90. É um encadernado meio vagabundo, com miolo em jornal e impresso em P&B. Numa atualização monetária, desconsiderando fatores como inflação real, custaria em torno de R$ 80,00, hoje. Eu cursava Direito em 2001, e com essa grana comprava algum romance, livro de contos ou poesia. Ou usaria a bufunfa em coisas essenciais, como comer e me locomover.

Sempre achei Logan um personagem subaproveitado. Compreendo que seu aspecto selvagem e "fodam-se todos" cativou jovens leitores e, atualmente, atrai milhões de pessoas que nunca leram um gibi mas estão nos cinemas, com camisetas de super-heróis e se dizendo super fãs de Batman e Homem-Aranha. E que bom. É ao menos um mercado funcionando, pois o dos quadrinhos está no limbo e só colhe as migalhas dos estúdios de cinema. Mas, felizmente, vez ou outra topávamos com histórias mais introspectivas com o carcaju. Eram poucas, mas recordo bem a alegria quando lia, num formatinho de Wolverine, alguma trama sobre ele enquanto um homem que caminha com seus pensamentos e tem a alegria de topar com algum canalha azarado cruzando seu caminho.

O encadernado relido esta semana não reúne as melhores histórias de Wolverine de todos os tempos. Esses títulos eram abobrinhas do marketing Civita. Mas reúne boas histórias com a fase Madripoor, cidade fictícia muita parecida com a Casablanca do cinema, onde Logan transita incógnito, com tapa-olho, sendo reconhecido pela alcunha de Caolho. Em 370 páginas, temos ótimas histórias com roteiros de Chris Claremont e Peter David; e arte magistral do finado John Buscema na maior parte dos capítulos. E, para dar aquele gostinho de nostalgia, a letras são de Lilian Mitsunaga. Neste volume, temos um Wolverine que poderia ter dado certo, ser melhor aproveitado sem representar apenas um nanico peludo porra-louca que dá sopapo para todos os lados enquanto mostra os dentes. Destaque para a história 24 Horas, abordando a antiga relação do protagonista com Victor Creed.

Em 2017, a Panini lançou Wolverine: Antologia. Não cheguei a comprar e lhe desconheço o conteúdo. Fiquei tentado em adquirir. Quem sabe até compre um dia. Mas me ressinto mesmo que, até hoje, nenhum grande escritor tenha recebido aval da Marvel para escrever algo mais denso para o velho Logan. É impossível, acho, encher um encadernado de 400 páginas com histórias excelentes de Wolverine.

Snikt!