Cavalo de Fogo é um enigma sem resolução aparente que, mesmo nesta condição, ratifica como nossa infância foi mágica com tão pouco. Explico: o desenho foi exibido à exaustão, durante anos a fio, no SBT, e não perdíamos um episódio. A jovem heroína Sara – olhaí a representatividade feminina sem forçação de barra – montava seu corcel encantado e, assim, partia do rancho terreno onde vivia com seu pai e, após um grande salto no portal aéreo, chegava ao reino de Dar-Shan, onde enfrentava, todas as vezes, as malfadadas trapaças dos diabretes leais à sua própria tia: a maquiavélica Diabolyn, uma espécie Perpétua Esteves (a tia de Tieta) do universo colorido.
Mas qual o mistério desse desenho oitentista? É que ele teve apenas 13 (treze) episódios. Ficamos anos e anos revendo os mesmos episódios sem nos entediarmos. Outro grande exemplo é o magnífico Nossa Turma, onde animais antropomórficos do Bem reúnem-se num vagão de trem (o clubinho) e enfrentam as idiotices da dupla de jovens rebeldes Catchum e Leni. Para mim, o desenho seria infinito. Mas a internet me disse, eras após, que foram apenas 13 episódios (divididos em dois segmentos, o que daria o dobro de histórias, por assim dizer).
Pensei nisso porque minha filha começou a se interessar pelo animé One Piece e cogitei lhe dar uma força, assistindo junto. Mas então vi que há mais de 1000 (mil) episódios e, na minha idade, é inviável acompanhar algo assim. Também pensei como crianças e adolescentes processarão tanta informação despejada de maneira tão veloz de forma incessante. Não dá para processar! Víamos e revíamos as mesmas coisas repetidas vezes. Como o acesso a gibis era restrito, por exemplo, relíamos os mesmos diversas vezes, até virarem pó. E fazíamos o mesmo com os poucos filmes e séries (animadas ou não) ofertados na TV aberta. Daí nossa memória tão forte com aqueles produtos culturais. Esses dias percebi que não adianta eu ver filmes e séries em serviços de streaming, porque após uns dias não lembro quase mais nada, apenas de fragmentos. É tudo muito “tanto faz”. A limitação no consumo de informação é imprescindível! Aliás, este é um dos motivos porque estou revendo filmes e relendo livros e gibis, evitando coisas novas.
Em tempo: a abertura de Nossa Turma nunca teve versão em português, nos fazendo cantar “guerealonguem” todos os dias. E Cavalo de Fogo teve uma versão marcante, na voz da falecida dubladora Maria da Penha Esteves, que também dublava o cavalinho Brutus no desenho (v. Wikipédia).
Vou ficando por aqui. Abraços guerealonguens e até a próxima.