segunda-feira, 3 de maio de 2021

Dois Mil e Um Chopes, HQ de Thiago Ossostortos

 


Só depois de muito tempo
Comecei a entender
Como será meu futuro
Como será o seu...

Ira em Dias de Luta

Quando eu era guri, meu tio Dorival comprou um MP Lafer em bom estado. Hoje, sei que esses carros são caros. Mas ele sempre soube ganhar dinheiro com facilidade. É daqueles homens sem o primeiro grau escolar concluído e cheios da grana, pois sabe se dar bem em todos os negócios onde investe. Cheguei a ver este mesmo tio vendendo urgentemente um de seus empreendimentos (restaurante) porque o local deu tão certo que vivia cheio de clientes ao ponto de estressá-lo devido à logística. Ele também possuía um belíssimo Fusca Baja superequipado e penso que apenas aqueles pneus traseiros dariam para comprar meu carro atual. O MP Lafer acabou ficando direto com minha prima mais velha, Deise, que o pintou de rosa-choque e passou a chamá-lo de Astrogildo, devido à telenovela global onde tal carro fazia sucesso com este mesmo nome.

Em Dois Mil e Um Chopes, o autor/protagonista nos diz que seu pai possuía veículo idêntico. No final da história, há até fotografia "de prova". Além disso, como tudo em Ossostortos, somos inundados por recordações daquela época quando o mundo parecia mágico e constantemente inovador. Está tudo lá: videolocadoras movimentadas com pôsteres de Matrix, A Vida É Bela e O Troco ou, na banca de revistas usadas, os formatinhos de Arma X e Batman Lobo. Curioso: o cara cresceu em São Paulo (Capital e interior) e sua vidinha besta não foi diferente da que tivemos no interior de Pernambuco. A fórmula mágica do quadrinista deu certo novamente neste gibi em formato de cardápio de choperia (livreto com bolacha de chope inclusa): espremer suas memórias, compartilhá-las conosco e nos levar ao passado (nem tão perto, nem tão distante).

Na trama, o candidato a quadrinista narra período de sua vida onde precisou residir em São José do Rio Preto e como saiu de lá para, sozinho, para tentar a sorte em Sampa, indo morar na pensão de Azani, personagem essencial de sua HQ anterior Mjadra. Certamente, seu Messias (pai do Thiago) também é figura relevante. Não com tanto destaque como em Os Últimos Dias do Xerife, certamente. Mas é que, aos poucos, todos esses quadrinhos compõem um grande mosaico da vida do artista. De certa forma, ele está escrevendo sua autobiografia em pedaços e técnicas variadas (lápis e nanquim tradicionais, guache, rabisco-decó colorido etc.). E vem sendo agradável acompanhar tudo. Torço para que continue produzindo por anos a fio, pois seu trabalho foi uma grata surpresa para mim, leitor. E pensar que cheguei a comprar seu primeiro gibi porque o confundi com outro autor de quem, há anos, comprei um fanzine.

Num dado momento, Thiago vê Guns N' Roses tocando no Rock In Rio 2001 e mostra sua estranheza com a nova formação. Foi o mesmo sentimento que tive quando assisti (pela TV) e vi aquela banda capitaneada por um Axl Rose bizarro e, no lugar de Slash e Izzy Stradlin, o medonho Buckethead.

São muitos momentos condensados em poucas páginas, mas todos onde pude me localizar. Recomendo bastante este lançamento para quem pretende dar chance à produção nacional (a qual, em maior parte, anda uma lixeira). Além das HQs acima mencionadas, sugiro também Kombi 95. Aliás, no acervo de meu tio Dorival também havia uma Kombi!

Fico por aqui. Abraços tortos e até a próxima.




5 comentários:

  1. Olá Neófito, tudo beleza?

    Não sou da época em que MP Lafer andava na rua. (Na verdade, nem sabia que carro era esse, pesquisei e vi que parece com aquele carro do ZZ Top). Também nunca fui muito ligado em carros, mas alguns trazem um pouco de nostalgia.

    Meu pai tinha um Kadett quando eu era pequeno, sempre gostei muito desse carro, pois era curtinho e tinha um ar esportivo, apesar de não ser um possante dos mais caros. Antes desse tivêmos um Opala. Meu pai comprou um usado quando eu nasci, para não precisar ir de ônibus me buscar no hospital. Engraçado que esses carros, que ficamos muito tempo conosco, acabam se tornando meio que parentes. Tem um algo a mais de importância.

    Também sinto essa nostalgia com a forma de viver de antigamente. Creio que são os tempos que mudaram demasiadamente. Minha vida foi um trânsito entre o Nordeste e São Paulo e, nem lá, as coisas estão próximas do que eram. Nas cidades tudo mudou, as músicas que escutamos, as lojas, muita gente morreu, muitas quitandas fecharam, as locadoras sumiram e os computadores/celulares se tornaram máquinas presentes em todas as casa. Nem a forma de falar é a mesma. Cada vez a língua se torna mais um amontoado de gírias e fica cada vez mais difícil a comunicação com os mais novos, estes que estão em outro mundo. Imagino nossos velhos, o que pensam. Antigamente, ter um rádio era riqueza.

    PS: Coloquei seu blog numa página de blogs que acesso no meu blog. Não consegui montar um blogroll no wordpress e acabei optando por colocar uma página, como vi em outros sites por aí.

    Abraços.

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    1. Fala, Matheus!

      Já eu não sabia dessa banda ZZ Top e pesquisei agora. E também o carro deles: horrível!

      Quando eu era guri, salvo engano, não existia mais a fabricação do MP Lafer. Mesmo assim, como hoje, já era uma porcaria velha, com motor fraco, vendida por aí a quem tinha grana no bolso para queimar.

      Andei bastante em Kadett. Era um carrinho bonito, ainda mais o conversível. Uma carroça bonita, por assim dizer, como todos os carros brasileiros são até hoje. Claro, há carros bons, mas por algo em torno de R$ 150.000,00.

      O mundo mudou bastante nos últimos anos. Estamos mudando quase na velocidade da evolução dos microchips. Coincidência? Não sei.

      Valeu pela parceria. Fico grato por isso.

      Abraços!

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  2. Olá, meu amigo.

    Fico feliz que vc leia postagens assim, sobre quadrinhos fora dos nichos mais comuns consumidos por vc. Mas, na verdade, vc lê material fora da bolha, seja em prosa ou quadrinhos. E, claro, tb é um autor e quadrinista fora da bolha. Como vc sabe bem, gosto de sua prosa e de seus quadrinhos.

    Não acompanho BBB. Acho aquilo um pardieiro de pessoas escrotas. A Juliette me chamou atenção por sua beleza e seu jeito de ser, no entanto. Gosto bastante daquele "tipo de mulher". Me atrai sexualmente, aliás. Ao menos pessoas nocivas não levaram o prêmio.

    Belas palavras a sua, sobre ela. E a visão sobre o jogo e o programa em si.

    Abraços!

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  3. Assisti a boa parte do BBB 10, acompanhando a mãe de minha filha (na época, apenas uma namorada). Ela gostava e, todas as noites, eu via o programa. Achei interessante a vitória do Dourado, que ia contra toda a maré e não cedia ao discurso politicamente correto.
    Fiz, então, meu test drive BBB. Achei meio chato ficar vendo tretas e provas todos os dias. Talvez sirva como experimento social. Mesmo que ali existam personagens, com o tempo os participantes acabam se perdendo em suas criações e mostrando quem são realmente.
    Mas, enfim... BBB realmente não é minha praia. O tempo gasto eu empregaria em alguns seriados, por exemplo...

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  4. Acredito que há méritos, sim, no BBB: você pode observar uma dúzia de pessoas se perdendo no personagem. Isso é divertido. Quando vi o BBB 10, acho que o Dourado ganhou pela autenticidade. Foi mais ou menos como aquele Alemão, que foi o mesmo do início ao fim (pelo que vi a esmo, na época).
    Ando bem afastado da TV aberto. Há décadas, na verdade.
    Recorda quando eu disse que as últimas novelas vistas por mim foram Da Cor do Pecado e Celebridades? De programas domingueiros, passo longe. Cresci vendo Faustão e Gugu. Fez parte de minha infância. Me deu alegria. Era o que tinha. Mas, hoje, acho-os pavorosos. Infelizmente, não havia internet naquela época. E olha que eu nem assistia tanta TV no domingo, pois felizmente tive uma vida brincando em ruas e sítios.
    Há pessoas que consomem porcaria e xingam alguns programas que, na verdade, não diferem do que eles assistem.
    Enfim: BBB tem méritos e serve para entretenimento. No meu caso específico, queria ver mais alguns seriados e alguns filmes. E ando sem tempo para isso. Aí ando tentando equilibrar bem o tempo livre.
    Gosto muito do cinema trash, por exemplo. Algumas pessoas odeia. Para mim, é delicioso...
    Abraços!!

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