domingo, 14 de outubro de 2018

1000 Tattoos Taschen


A agulha abre um buraco 
A velha picada familiar

Curto metal. Ainda hoje emprego algumas horas de minhas semanas a ouvir "clássicos" do rock. Tive minha fase headbanger até os 16 anos, quando ingressei na faculdade e precisei cortas as longas madeixas e abandonei as roupas rasgadas. Confesso que as roupas rasgadas nem eram tanto por estilo. Eram porque eu não ligava mesmo para quase nada. Tive uma calça jeans onde ficava costurando os rasgos feitos pelo uso, por exemplo. Eu mesmo costurava de qualquer maneira. Me sentia muito à vontade sendo assim como, penso, nunca mais me senti na vida.

Não cheguei a furar as orelhas porque dizíamos ser coisa de "fresco". Bobagem nossa, obviamente. E, quanto à tatuagem, jamais eu poderia fazer, em casa, antes de completar dezoito anos. Então o tempo foi passando e eu, que sempre quis fazer ao menos uma tatuagem, não a fiz. Até que um dia, já velho, vi uma garota com 16 anos de idade sendo tatuada por um profissional conhecido meu, com autorização dos pais, estando a mãe ao seu lado. E pensei: "Cara, afinal, o que estou esperando?". Aí comecei a fazer as minhas e, atualmente, tenho 26 desenhos gravados em meu corpo, que me acompanharão até o dia de minha morte. E não me arrependo de nenhum. Cada uma possui um significado para mim, nada foi à toa ou pensando somente em preenchimento estético. Um dia, talvez, escreva algo sobre cada uma e poste aqui.

No momento em que estou na sessão de tatuagem, não sei explicar bem, mas é como se aquela picada despertasse uma parte primitiva em mim, algo selvagem, uma dor edificante. Penso que tatuagem é viciante por essa dor, por este momento, e não pelo resultado final, não porque você achou a primeira bacana e quer outra que lhe pareça igualmente legal. Penso que nos tatuamos para nos ferirmos, em parte. E a marca que ficará é a recordação daquele momento de dor, enquanto tantos acontecimentos presentes e passados percorrem nossa mente. É algo mais ou menos como Hurt - canção de Nine Inch Nails, que se tornou um grande sucesso na voz já decrépita (e ainda bela) de Johnny Cash.

Certamente acho muito bonitas as tatuagens modernas, com traços cada vez mais elaborados, técnicas caprichadas de pontilhismo e sombreamento, entre outras coisas. Mas minha paixão é mesmo algo mais vintage, e sempre optei por desenhos simples e com tinta apenas negra, nunca colorido. E, por esse gosto pessoal, adquiri há pouco tempo o volume 1000 Tattoos da Taschen. Como tudo o que vem da editora alemã fundada por Benedikt Tashen, o livro é um mimo: papel similar ao cuchê com elevada gramatura, capa dura texturizada emulando encadernação em tecido e sobre capa. São 544 páginas no formato de 14 x 19.5 cm, que já se tornou marca da empresa.

A obra conta com texto trilíngue de Henk Schiffmacher sobre história e técnica da arte de tatuar. As imagens foram selecionadas do The Amsterdam Tattoo Museum e organizadas da seguinte forma: étnicas, clássicas, anteriores à década de 80', japonesas e contemporâneas.

Para quem gosta de arte e tatuagem, é um ótimo volume para folhear nas horas vagas.


4 comentários:

  1. de tatuagem não sei nada: acho que combina com os outros e não comigo.

    das clássicas que admiro tem aquelas orientais como um dragão que começa no calcanhar e termina nas costas, como do personagem da dc comics "lady shiva", em:
    http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/cacadores-os-n-1/cd00301/5131


    As dos yakuzas clássicos também são interessantes, mas me parece uma falta de inteligência um grupo criminoso adotar um mesmo estilo de tatuagens.

    abç!

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    1. kkkk

      recordei dessa notícia: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2018/01/11/chefe-de-yakuza-identificado-por-tatuagens-e-preso-na-tailandia.htm

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    2. caramba, não conhecia, mas a yakuza deveria aprender a ser mais discreta.

      andar com essas tatuagens e cortar os dedos é como carregar uma placa dizendo: "sou mafioso, prendam-me."

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    3. Basta vir ao Brasil e fundar um partido progressista. Aí além de convencer no discurso que não é bandido, ainda consegue uma militância gratuita.

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