quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Monty Don na Netflix [ Jardinagem ]


Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão.)

“Leilão de jardim” de Cecília Meireles

Em momentos sombrios, sempre é bom nos apegarmos às coisas que mais amamos para seguir em frente sem sairmos das dificuldades aos pedaços, impossibilitados de nos remontarmos. No meu caso, gosto de comer, beber, ler, me deleitar com a beleza feminina e - e isso está em mim desde garoto - de plantas. Onde morei, sempre busquei ter plantas. Já fiz dois jardins a partir do nada. O primeiro deixei de presente para o novo proprietário de uma casa que construí e posteriormente coloquei à venda. Pelas informações que me chegaram, ele continua cuidando muito bem das plantas. Atualmente, estou com outro, misturando entre plantas ornamentais que gostem de sol pleno e várias frutíferas. É um típico terreiro nordestino, sem grama, de chão duro varrido e com direito a galinhas ciscando.

Adoro meu atual jardim. Ele é simples e está localizado entre minha garagem e o espaço para churrasco e fogão à lenha. Totaliza em torno de 40 metros quadrados Tenho podocarpos, dracenas, bougainville, árvore-mastro, jasmim manga, palmeiras phoenix, romã, coqueiro, limoeiro, acerola, ata (pinha ou fruta-do-conde) e laranja comum (tipo pera). Tudo foi plantando por mim através de mudinhas bem pequenas. Comprei há uns três anos o terreno onde se encontram. A área estava atulhada de pedras e mato. Para limpar e nivelar o terreno retirei em torno de cinquenta carrinhos de mão de entulhos. Foi uma ótima e solitária atividade física. As pedras deram muito trabalho. O solo é bastante argiloso e preciso trabalhá-lo com adubação e calagem. Resido no Piauí e as plantas sofrem com o calor intenso, de maneira que preciso dar-lhes o melhor noutros aspectos; e o principal, claro, é o solo. Sem esquecer de bastante água.

Plantas são essenciais à minha vida. Gosto de sentar à mesinha quando o tempo está bom e tomar café, chá, cerveja ou vinho, curtindo cada pedaço verde do espaço agressivamente modificado por minha ação, em pleno semiárido. Um dos livros mais importantes em minha vida é O Jogo das Contas de Vidro de Hermann Hesse. Eu já sabia racionalmente de meu amor por plantas quando o li -pois me conheço e busco cada vez mais me conhecer - e me identifiquei imediatamente com José Servo, protagonista deste romance colossal, que sempre buscava aproximação com jardins em Castália nos momentos de dúvida e busca por paz.

Recentemente a Netflix incluiu programas com o famoso jardineiro Monty Don. Em dois deles, nos apresenta célebres e centenárias criações na Itália e na França. Gostei bastante das incursões pelos jardins franceses, pois não ficamos tanto nos monumentais jardins formais edificados às custas de décadas de trabalho e grana quase sempre roubada de cofres públicos pela nobreza. Também tivemos espaços para os jardins mais despojados, os modernos e os culinários. A outra série - Big Dreams, Small Spaces - nos dá, em cada episódio, Monty ajudando família a realizar seus sonhos de jardinagem em pequenos espaços residenciais. Já sem Monty, também está na grade o Love Your Garden, apresentado pelo horticultor Alan Titchmarsh.

Gostei e estou gostando de todos estes programas. Certamente, não trazem dica valiosa alguma para mim, que cultivo plantas de forma simples e rústica no árido deserto piauiense. Contudo, vale por isso: informações históricas e culturais, belas imagens e, especialmente, pela declaração de amor à jardinagem.

Abaixo, os deixo com algumas imagens do atual jardim que planejei e busco cuidar por todo santo dia. Peço a Deus vida longa com paz e saúde para que possa continuar me dedicando cada vez mais a ele e que possa, com o tempo, despertar o gosto de minha única filha pelas plantas e seu cultivo.

Meu jardim ainda não está totalmente da maneira desejada. Penso em modificar algumas coisas, caprichar na poda e mantê-lo cada vez mais limpo e organizado. Nas imagens parece meio "sujo" porque estava justamente realizando a adubação semestral. Contudo, penso que nenhum jardim ficará cem por cento "pronto", por assim dizer. Sempre esperaremos mais e mais dele. E a graça está justamente aí: nesse esforço diário, nessa troca de afeto.

Abraços ornamentais e até a próxima.