terça-feira, 9 de outubro de 2018

Dylan Dog e Ocultismo

Dylan Dog por Mike Mignola
Essas semanas andei me deleitando lendo e relendo diversas edições do investigador do pesadelo Dylan Dog, ex investigador da Scotland Yard, abstêmio, clarinetista e pegador. Nem seu colega britânico do MI6 traça tantas mulheres por história quando Dylan. Sempre acompanhado de seu inseparável factótum Groucho Marx, nunca teve uma publicação ruim ostentando seu nome no título. Sem dúvidas, é uma das poucas HQs que, sempre, será garantia de bons momentos.

Ando lendo novas HQs e relendo outras até então inéditas para mim, no meio eletrônico. É prático e barato. Perdão pelos scans, grande Tiziano Sclavi, mas o mercado nacional não anda nos dado muitas opções, com tiragens caóticas ao sabor do momento e, quase sempre, a preços absurdos. Acredito que algo como a edição norte americana The Dylan Dog Case Files, por exemplo, teria público certo aqui, em tiragem elevadíssima.

Nas tramas, o oculto sempre é discreto nas entrelinhas e cotidiano. Mas está sempre lá. Você percebe em Dylan Dog que o sobrenatural está nas ruas e em nossas casas, naturalmente. O sobrenatural é tão natural como toda a realidade física com a qual estamos acomodados. Essa, penso, é a grande sacada do título. E nunca há espaços para explicações mirabolantes ou clichês enfadonhos. Tiziano Sclavi nos deu "drops" de ocultismo em formato de entretenimento domingueiro. E conseguiu.

O enigmático vilão da série, por exemplo, chama-se Xabaras, um anagrama com a denominação do demônio Abraxas. Além de demônio, também foi uma dividade gnóstica e entidade do aeon pagão. A palavra mágica abracadabra tem sua origem, igualmente, neste mesmo vocábulo e funciona como encantamento para proteção, significando, essencialmente, "não me toques". É um nome estranhamente comum mas pouco "percebido" em obras culturais - um paradoxo, de certa forma. No filme basco Errementari - disponível na Netflix -, por exemplo, o demônio Sartael, ao tentar fugir pela segunda vez do ferreiro, o amaldiçoa em nome de Abraxas.

Por isso sempre digo: é interessante compreender o pensamento mágico. Não porque necessariamente você se autoproclamará um mago. Afinal, nem todo bacharel em Filosofia é Filósofo. Mas, sim, porque, na cultura pop, de forma proposital ou não, o ocultismo deixa seus rastros.