Seriam sincronicidades da vida ou meras coincidências. Há postagem aqui de março de 2021 onde destaquei que os dias andavam chuvosos e que eu estava lendo e relendo trabalhos de Charles Burns. Estes dias novamente andam chuvosos. Chuvas fortes, torrenciais. Aqueles dias onde é melhor nem se arriscar a sair de casa para não ficar ilhado por aí devido a alguma inundação temporária. E, curiosamente, ontem, reli Sem Volta, daquele mesmo autor. Aparentemente, chuva me leva a caras como ele. Há fenômenos que não sabemos explicar.
Dessa vez, além de chuva, li-o ao som de um riacho turbulento. Devido às fortes chuvas, o riacho quase virou um rio de águas violentas e barrentas. Até troncos leves de árvores foram arrastados e um carro. Sim, um carro. Por que alguém deixaria carro estacionado no leito do riacho, nem imagino. Talvez devido ao Q.I. nacional que já está abaixo do dos chimpanzés. Foi um alvoroço. A macacada que habita o matagal ficou gritando bastante, acredito que buscando abrigo ou até mesmo devido a membros das famílias primatas que podem ter sido levados pelas águas.
Quando escolhi este lugar para morar, o atrativo foi a mata ao lado. O apartamento era de uma amiga e a propaganda dela foi justamente a mata e o riacho a poucos metros. Nunca morei ao lado de um riacho. Mas é realmente interessante ouvir o correr das águas ao lado de onde moramos, junto com o canto de pássaros, marrecas e guinchados de macacos. O receio é sempre com jiboias e jacarés. Mas ficamos de olho nisso regularmente. Vale o preço de ter um riacho nas imediações. Deve ser interessante crescer perto de algo assim, tendo o som das águas como elemento de recordação afetiva, como canta Manuel Bandeira, meu poeta preferido, no poema Velha Chácara, acima.
É isso. Assim como em março de 2021, este dias estão chuvosos. Ando relendo algumas coisas, passando o tempo com as alegrias e os problemas familiares, com meus gatos idosos e na santa e graciosa paz de Deus. A vida é muita curta para não tentarmos aproveitar o mero cotidiano, sem remoer águas passadas e possíveis enxurradas que podem nos espreitar no porvir. Sigamos nesta vidinha besta de cada dia.
Abraços lamacentos e até a próxima.