sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O Pálido Olho Azul

Tudo o que amei, amei sozinho.

Não recordo o nome da primeira mulher que me levou para cama. Eu era um moleque sebento e ela uma coroa divorciada com tetas enormes. Acredito que sua tara eram novinhos. Não recordo porque tanto faz. Foi apenas mais uma dentre tantas mulheres em minha vida. Mas nunca esqueci quando conheci Edgar Allan Poe. Foi na coleção Para Gostar de Ler, empreitada da editora Ática reunindo vários contos e crônicas de autores nacionais e estrangeiros. No caso, foi no Volume 11 - Contos Universais (v. capa abaixo). Ali, conheci O Retrato Oval e O Coração Delator, ambos do gênio do mistério. E foi paixão à primeira lida. Lembro que reli O Coração Delator dezenas de vezes e, depois, catei uma antologia de Poe na biblioteca perto de minha casa, lida de cabo a rabo.

Ainda adolescente, já tinha lido muito do escrito pelo exímio autor americano. Não recordo qual foi a editora responsável pelos livros, mas integravam uma coleção em capa dura com tecido, volumosos e enormes (livros maiores que os convencionais), salvo engano em três volumes. Devem se encontrar ainda hoje na biblioteca José Condé, na cidade onde cresci, totalmente mofados. Depois, tomei conhecimento que existiam filmes baseados em suas obras. Cheguei a ver, ainda jovem, Histórias Extraordinárias (1968), filme que não me agradou, mas chamou atenção pela beleza de Brigitte Bardot com cabelos negros. Também vi alguns filmes mais vagabundos por aí, mas ainda bem que mal os recordo. E, claro, como esquecer quando levaram o próprio Poe para o cinema, enquanto protagonista, em O Corvo (The Raven, 2012), filme mediano com um Poe, francamente, nada a ver. E eis que nos chega, agora, O Pálido Olho Azul pela Netflix, com um jovem escritor ali retratado que, deveras, convence.

O filme é baseado na obra homônima de Louis Bayard e dirigido/adaptado por Scott Cooper, o qual já trabalhou com Christian Bale em dois filmes que passaram desapercebidos pela maioria, mas que me agradaram: Tudo por Justiça (2013) e Hostis (2017). E O Pálido Olho Azul tem muito em comum com as produções anteriores: a geografia cruel, quase inacessível. São elementos como luz e clima refletindo as [e nas] ações humanas.

Harry Melling convence como seria o jovem Poe, enquanto ainda cadete na prestigiada academia militar de West Point. Fisicamente, o ator se parece bastante com o escritor, além da expressão taciturna, melancólica e assombrada. Seria um jovem E. A. P. em fase embrionária, aprendendo sobre o mundo para, posteriormente, retratá-lo em sombras. E também quedou bem no papel pela grande sacada da história: não colocá-lo como protagonista. Este seria o detetive Augustus Landor (Christian Bale).

A trama se passa em 1830. Um cadete da West Point é encontrado morto em circunstâncias bizarras e, para solucionar o caso, chamam Landor, detetive calejado não apenas por sua vasta experiência, mas também pelas agruras da vida. Para ajudá-lo na empreitada, o aluno Edgar Allan Poe. Aparentemente, tudo levará a crer se tratar de um caso envolvendo ocultismo e rituais mágicos. Mas o desenrolar mostrará que estamos errados em tais suposições e que fomos levados a assim pensar pelas circunstâncias expostas. E isso tem muito das obras de Poe, como em O Escaravelho de Ouro - onde a resposta estava o tempo todo num pedaço vagabundo de pergaminho que envolvia o artefato caríssimo, e não neste em si. Aliás, o próprio título "O Pálido Olho Azul" é, creio, referência direta ao conto O Coração Delator. Também há um esboço do que viria ser o poema O Corvo, através do nome Lenore (em português, Lenora ou Eleonora, conforme a tradução, embora a que eu mais goste seja de Fernando Pessoa, o qual não cita nomes).

Não falarei mais tanto sobre a trama, pois pode estragar a experiência de quem ainda não viu. Mas, realmente, é um filme bacana que vale a pena ser visto, especialmente pelos fãs de Edgar Allan Poe. No entanto, claro, não chega a ser um filmão e deixou acontecimentos mal amarrados, que não se encaixam tão bem.

Gostei bastante de rever Gillian Anderson como a véia maluca e macumbeira. Dana Scully traz sempre boas recordações.

Fico por aqui. Abraços sombrios e até a próxima.



12 comentários:

  1. Não conheço muito de filmes. Christian Bale conheço mais do Batman e daquele filme que ele é um maluco todo nos trins, que o pessoal faz vários memes (não recordo o nome agora). Certa vez vi um filme que ele havia feito após o Batman em que ele ficava super magro, achei interessante a mudança, mas achei o filme meio tedioso.
    Sobre Poe, li algumas partes de sua mitologia, mas nunca fui a fundo. Tenho em casa um livro que comprei com todos os escritos de uma editora americana, uma napa de centenas de folhas. Ainda lerei mais Poe, assim como pretendo ler Lovecraft.
    Abraços!!

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  2. Oi, Matheus.
    Ele engorda, emagrece, fica musculo etc. Acho exagero. Para essas coisas, há maquiagem e efeitos visuais. Vc se refere a Psicopata Americano e a O Operário.
    Quando ler, comenta algo no blogue se puder.
    Abraços

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  3. Coloquei o filme ontem na minha lista. Hoje, acabo de assistir a série Watchmen (que, pra dizer a verdade, não tô achando grande coisa) e amanhã vou assisti -lo. Rapaz, não conhecia essa vertente do Para Gostar de Ler. Li muitos deles, mas todos de contos e crônicasde autores nacionais.

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    1. Ainda não vi a série Watchmen. Ando sem disposição para novas séries em minha vida. A maior parte decepciona. Talvez eu assista a The Last of Us, que irá estrear em breve. Mas farei isso apenas por curiosidade. Abç

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Olha, Pateta, não acredito mais que nenhuma movimento pacífico dê cabo a essa escalada autoritária da extrema esquerda aliada ao STF. Quanto ao domingo, eles só querem mesmo uma desculpa. E, se não houve esta, inventam alguma. O Xandão já mandava prender sem motivo mesmo. Agora ao menos tem alguma motivação mais concreta.
      Quando puder, menciona que coleção é essa.
      Abraços!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Edições lindas em papel grosso, com fonte grande e boas margens! Para legar à descendência.

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  5. vi hoje
    bem legal o filme

    vai ler o livro?

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    1. Acredito que não. Comprar, acho que não. Talvez um dia possa ler no modo gratuito. Mas é que não me empolguei mesmo a ponto de querer conhecer a obra escrita. É um filme bom. Mas... para ir atrás de mais, eu precisaria achá-lo excelente, no mínimo.
      Abraços!

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  6. Edgar Allan Poe é americano? Poxa, pensei que ele era inglês já que tem "cara".

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    1. Já o Christian Bale é inglês, tem cara de americano, jeito de americano e treinou o sotaque para falar igual a americano.

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