quarta-feira, 30 de março de 2022

Assim é a vida, Doug Funnie


Paty, você é minha Maionese
Paty é o picles da minha salada
Paty é o açúcar do meu chá
Você é o molho do meu cachorro quente
Paty, você é minha Maionese

Não recordo exatamente o ano em que conheci Doug, cultuada animação do canal Nickelodeon criada por Jim Jinkins. Acho que eu estava na sexta série. Mas talvez tenha sido na sétima. Logo, foi entre os anos de 1993/1994. Mas recordo bem quando, numa manhã, dois colegas conversavam sobre o desenho, que podia ser assistido antes de O Mundo de Beakman (ou seria logo após?). Entrei na conversa e, na mesma noite daquele dia revelador, conheci estes dois programas então marcantes na minha infância. Na época, eu tinha o privilégio de possuir uma TV 14" com controle remoto em meu quarto, apenas para meu uso exclusivo! Eu era, então, um jovem magnata. Então podia ver o início de noite da Tv Cultura livremente, sem atrapalhar novelas e telejornais da família.

Assim, assisti à vida de Douglas Funnie à exaustão, com episódios repetidos até o cansaço. Já "adulto", meio afastado daquele mundo dos desenhos animados, descobri que a Disney havia comprado a série. Descobri que isso ocorreu em 1996 (!). Pois é... as novidades tardavam a chegar antes da era da banda larga. E apenas este ano assisti a alguns episódios da fase Disney. Por acaso, o encontrei na grade da Disney+ com minha filha. Então sentamos uma tarde para assistir. Não gostei tanto. Não era o mesmo Doug. Mas a Disney, logo no primeiro episódio, deixou claro que o mundo muda, nada é como antes e que, possivelmente, aquele Doug não seria para mim.

No primeiro episódio, a vida do jovem careca e barrigudo (Charlie Brown?) está de pernas para o ar. Seus poucos fios de cabelos estão compridos e ele não decide que corte melhor combinaria com sua nova idade. A lanchonete preferida fechou. Sua escola foi arruinada e outra está sendo construída. O Prefeito agora é o novo Diretor do colégio. Sua banda preferida - Os Beets - anunciam o fim. No cinema, o superagente que ele admira se tornou um bobalhão (algo como de Roger Moore a Mr. Bean). Paty, Judy,  Skeeter e todos os seus amigos estão diferentes: amadurecidos. E Doug nos diz que queria apenas seu mundo de volta, como era antes. Para finalizar, sua mãe anuncia que está grávida!

Num momento do episódio, Doug delira relembrando a escola antiga: que a merenda era deliciosa e ele sempre queria repetir a "carne mágica" e que o antigo diretor Lamar Bone era bastante camarada. Skeeter interrompe seus devaneios e lhe recorda que a "carne mágica" era um grude intragável e que o Sr.º Bone era o maior carrasco. Logo, Doug se perde nas enganações da nostalgia de que "na minha época era melhor".

Se a palavra "emblemático" aplica-se bem a algo, é a este episódio de Disney's Doug. O mundo gira, o homem não é o mesmo homem nem o rio etc etc. Doug Funnie nos mostra isso de maneira didática, ao mesmo tempo em que a Disney nos diz: "não venha chorar aqui, seu velho reclamão".

Abraços funnies e até a próxima.

10 comentários:

  1. Comecei a assistir a Doug nesse período da cultura. Era um desenho que gostava, assim como o fantástico mundo de Bobby. Me lembro que depois passou a ser exibido no SBT, no CRUJ.
    Eu cresci lendo turma da mônica. Tenho uma grande memória afetiva pelos personagens, então nessa época de politicamente correto, de bullying e micro agressões, prefiro não ler uma revista e correr o risco de ver os personagens descaracterizados.

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    1. Fala, Dedé!
      Há alguns anos descobri que somos o que poderiam chamar de "old boy", aquele sujeito que vai envelhecendo apegado às memórias mais pueris, quase sempre ligadas a produtos culturais. Acho que o "rótulo" nos serve.
      Fico de boa me mantendo ali, no passado, relendo a mesma coisa de sempre, revendo filmes e até mesmo descobrindo realizações da época, mas que me passaram batidas.
      Meu irmão em chamava de Bobby (cabeção).
      Abraços!

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  2. Olá, Neófito.

    Lembro de Doug, mas não me recordo muito bem. Na época não me sensibilizou, acho. (eu era muito criança ainda)

    "deixou claro que o mundo muda, nada é como antes e que, possivelmente, aquele Doug não seria para mim." Você têm razão, uma vez me disse em um post, se me recordo, que a nostalgia pode ser nociva dependendo do ponto a que chega.
    Eu sou mais novo mas já tenho sentimentos de nostalgia de quando era menor. O mundo anda mudando muito rápido e até as coisas chatas de antigamente parecem ter um brilho especial.
    Acho que devemos nos adaptar (seremos forçados, em última instância). O que passou, passou.
    Assim como o Doug, a maioria dos amigos se foram, em suas jornadas pela vida. Coisas que fazíamos não são mais possíveis. Marcas sumiram do mercado. Pessoas morreram. Tudo que sobra somos nós e nossas famílias e os contatos de amizade que ainda vemos de vez em quando (e os gatos e cachorros, se não se foram. Estes estão sempre lá)

    Mas não seria isso a vida? Acho que, independente da época, tudo sempre foi igual. Seres humanos são iguais, só tentam parecer diferentes.
    No final, tudo que resta é pó.

    Abraços!!!


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    1. Olá, Matheus.

      Não acho improvável que alguém se feche tanto sobre as recordações do passado que esqueça de viver a vida “do agora” e cuidar do futuro. Então, daí, o que começou como nostalgia pode se tornar algo perigoso à nossa existência saudável.

      E vale a pena tentar conhecer o novo, claro. Sempre estamos topando com algo interessante. O problema é o tempo empreendido para filtrar tanta informação. No meu caso, cedo com parcimônia ao novo, mas estou sempre rememorando as boas realizações do passado. No caso de leitura, isso é até justificável, já que dificilmente apreendemos tudo o que já lemos. Muitas vezes, um gibi lido há cinco anos já se foi em grande parte de nossa mente. A solução está sempre no tal do “equilíbrio”.

      Acho que tudo foi meio igual por muito tempo, lá atrás… Um sujeito crescia e chegava à morte sem ter visto grandes transformações. Hoje, como você bem disse, tudo muita rápido demais.

      “tudo que resta é pó”. Sim!

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  3. Na memória, a chama nunca cessa. Exceto em casos de demência...

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  4. "A casa é minha"

    Sorte a sua. A minha é de minha esposa e de minha filha. kkkk

    Belo poema.

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  5. otimo texto
    serei old boy até a morte
    doug era muito bom

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    1. A vida é curta. E há muita coisa boa do "passado" para se descobrir e revisitar. Logo, a matemática fecha. A oferta cultural do passado nos supre até a morte. Aliás, em Old Boy (filme), há uma canção sobre "sempre old boy até o fim".

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