domingo, 6 de dezembro de 2020

Pix e o imortal


Calma, John. É só um Pix.

No bobinho - porém, agradável - filme O Homem da Terra (2007), o protagonista que afirma viver há mais de 14.000 anos diz que era fácil sobreviver, desde que se mantivesse em constante movimento. John Oldman, contudo, passou a ter problemas com a burocracia do Estado moderno. Para se manter na obscuridade, necessitava de algo mais difícil do que enfrentar animais selvagens, tribos e guerras. Ele, agora, necessitava de papéis para tudo: identificação, trânsito, moradia e exercício profissional. Como pontuou Olavo de Carvalho em O Jardim das Aflições (não o livro, mas o filme de Josias Teófilo), qualquer governante contemporâneo possui mais poder de controle do que jamais sonharam Átila ou Gengis Khan.

Nossa moeda caminha para se tornar integralmente digital. Com o cadastro de chaves Pix, faremos transações rápidas e sem custo (em tese) a partir de smartphones, independentemente das instituições bancárias ou financeiras. Você comprará pipoca e bastará ler o QR Code do pipoqueiro. Praticamente todo mundo possui telefone celular. Resido em um bairro muito pobre, onde nasceu e cresceu minha esposa, mas desconheço, nele, quem não possua telefone celular (em regra, iPhone). O cadastro de chaves ainda não é obrigatório. Mas você acabará se rendendo a tal sistema de transação, a fim de facilitar sua vida e não se ilhar do mundo.

Algumas pessoas alegam que, com isso, o Governo controlará sua vida junto às corporações financeiras. Isso é óbvio. Mas me pergunto: e daí? Já sou totalmente controlado em meus rendimentos, dívidas e gastos. Não sobrevivo sem cartão bancário, de débito ou crédito. Meu imposto de renda é retido na fonte e preciso expor meus gastos ao Tesouro para tentar não pagar mais ou, quem sabe, ter uma merrequinha de retorno na restituição. Liberdade é ilusória, apenas engodo moderno. Apenas criminosos possuem algo próximo da liberdade, no mundo atual. Hoje, com "crise sanitária", Prefeitos querem nos proibir até mesmo de sentar no banquinho da praça para tomar sol. E mandam a guarda civil descer a lenha nos arredios. Contribuinte é capacho, simples assim.

O Estado hightech não é apenas empecilho para os imortais como John "Velhote". É para todos nós. De resto, adorei a vinda do Pix. Tenho minha vida controlada em todos os seus aspectos pela burocracia estatal e dependo das grandes corporações para sobreviver. Então terei ao menos uma ferramenta para transações, que poderá ser utilizada a qualquer hora do dia e, aparentemente, sem custo material. E sem o risco e a necessidade de andar com dinheiro em espécie. O imortal de O Homem da Terra também ficaria satisfeito, pois seria um problema a menos na hora de realizar TED ou DOC.

E, acerca de O Homem da Terra, há anos que o vi, tão logo fizeram certo hype quando de seu lançamento. Ao escrever esta postagem, verifiquei estar disponível, com boa resolução, no YouTube.

Abraços mortais e até a próxima.

2 comentários:

  1. "Apenas criminosos possuem algo próximo da liberdade, no mundo atual." verdade pura. ta complicado viver. somos presidiários fora das grades de metal, mas dentro de grades logarítmicas

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    1. "mas dentro de grades logarítmicas"

      Gostei da colocação.

      E ainda rolam sessões de abuso sexual cotidianas, com todo mundo querendo por no nosso rabo (sem cuspe).

      Abraços!

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