terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Os Espiões de Luís Fernando Veríssimo



"O que amarei se não for o enigma?"
Giorgio de Chirico, em epígrafe ao romance de Veríssimo

"Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer". Assim começa o romance Os Espiões, do gênio do humor e socialista bon vivant Luís Fernando Veríssimo. Conheço mais o trabalho deste gaúcho por suas crônicas (ou seriam contos?). Entre seus romances, já havia lido Borges e Os Orangotangos Eternos, O Clube dos Anjos e O Opositor. Estava devendo a mim mesmo a leitura deste livro mais recente (lançado em 2009), o único do gênero que ainda me aguardava na prateleira, para ser devorado, ao lado de O Jardim do Diabo. Fiz isso há dois dias.

Na trama, o protagonista (seu nome nunca nos é dito) é um frustrado na vida profissional (funcionário de uma pequena editora, chefiada por seu antigo amigo Marcito, o sujeito mais fominha com o qual ele já topou) e na doméstica: em casa, todos deixam de falar com ele, de sua esposa a seu filho até o cachorro Black. Mas... certo dia, chega à sua mesa, para análise, um envelope branco: são manuscritos (mal escritos) atribuídos a uma certa Ariadne (com florzinha no lugar do pingo do "i"). A história - provavelmente verídica - cativa o protagonista e seus fieis colegas de biritas, que se unem e articulam um jogo de espionagem no "pior estilo" John le Carré para encontrar a linda escritora em perigo. Na mitologia grega, Ariadne - filha do rei Minos - ajuda Teseu a sair do labirinto após o embate com o Minotauro. Na trama de Veríssimo, como sempre, referências à erudição servem para destilar bom humor de qualidade e dar alma a personagens instigantes pela falta, justamente, de quaisquer aspectos instigantes: cidadãos como nós ou nossos estúpidos amigos mais próximos, que trabalham a semana inteira enquanto aguardam o final de semana para falar bobagens numa mesa de bar.

Dos romances acima mencionados, achei este o mais "fraco". Às vezes, parece haver muito excesso numa trama que poderia ser mais curta. Além disso, o final deixou a desejar. Enquanto esperamos uma grande surpresa para toda a rede de mal-entendidos, ficamos com aquela sensação de "que besteira, é só isso?" ao concluir a leitura. No saldo geral, entretanto, é um "bom" livro. E serve bem para entreter de forma inteligente, apreciando as remissões debochadas - de alguns bebuns frustrados - à Arte e à Literatura. São 144 páginas no formato 15,0 x 23,4 cm, em brochura com orelhas, fonte generosa e papel ótimo à leitura, amarelado, similar ao pólen bold, pela editora Objetiva/Alfaguara.


Livros e quadrinhos de Luís Fernando Veríssimo por kleiton-alves

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