terça-feira, 5 de agosto de 2025

Taffman-EX

Quando eu era guri, meu pai estacionava em frente de nossa casa, buzinava e saíamos para um passeio — quase sempre aos sábados, pela tarde. Ele, em regra, nos levava à banca de gibis do terminal rodoviário, a maior da cidade, onde comprávamos quadrinhos variados (meu irmão escolhia os de heróis; eu, os da Mônica, Recruta Zero produzido nos estúdios da Globo, Turma do Arrepio etc., com raras edições da Disney). Também podíamos pegar um salgadinho Elma Chips e alguma bebida. Nesse ponto, minha mão ia direto para um frasco de Taffman-EX, o hidromel da criançada.

Meu pai não podia entrar na casa que ele mesmo comprou com o suor do rosto, porque havia sido esfaqueado por minha mãe e, desde então, não falava mais com ela — uma senhora narcisista e borderline que nos apresentou o Quinto dos Infernos desde que nascemos. No máximo, ele se sentava na calçada e jogava alguma conversa fora. Ainda hoje está vivo, com 82 anos e bastante saudável — exceto pela perna direita, que nunca mais foi a mesma desde que a fraturou em um tombo. Trata-se de um homem admirável, que passou fome na infância, dormiu nas ruas e, já jovem adulto, edificou o que chamam de império. Mas o decurso do tempo e as circunstâncias acabaram por nos transformar, com o passar dos anos, em quase dois estranhos.

O Taffman-EX é uma bebida dita funcional — seja lá o que isso signifique — criada no Japão pela Taisho Pharmaceutical, com o objetivo de aumentar a energia e o bem-estar. Contém ingredientes como ginseng, cafeína e vitaminas do complexo B. Chegou ao Brasil por meio da Yakult, do mesmo grupo empresarial. Seria uma alternativa leve aos energéticos tradicionais, numa época em que ninguém ligava para energéticos e eu só via Red Bull em comerciais da TV - Red Bull te dá asas... Ganhou público entre a molecada que fazia das tripas coração para comprar um reles vidrinho daquele néctar azedinho que descia tão gostoso e era degustado molhando a língua aos pouquinhos.

Fazia meses que eu não comprava Taffman-EX. Não chegou a completar um ano, mas passou perto disso. E, para minha surpresa, a Yakult mudou a embalagem de vidro para plástico. Ficou estranho, parecendo bem menor (algo que já era pequeno, com seus míseros 110 ml), e o rótulo parece deslocado e enrugado. Foi ao pegar aquele frasco empobrecido, sem o charme do vidro — material destinado a uma “bebida de verdade, nobre” — que percebi como elementos da minha infância realmente se tornaram pó. Pelo menos, o sabor continua o mesmo.

Mas a passagem do tempo também nos traz bons frutos. A Yakult nos maltratava bastante, com seu mini frasco caríssimo de leite fermentado com lactobacilos vivos. No Orkut, quando eu já era adulto, havia até uma comunidade pedindo por Yakult de dois litros. E isso nunca surgiu. No entanto, hoje, temos várias marcas com litrões de leite fermentado de boa qualidade, como a Betânia e a Flamboyant. Chupa, Taisho Pharmaceutical! Agora é só esperar o plágio do Taffman-EX em galões de cinco litros e, finalmente, podermos dormir de alma lavada.

Abraços vitaminados e até a próxima.


quinta-feira, 17 de julho de 2025

Necrófilos

Blogueiro velho desperdiçando tempo. Imagens geradas por I.A.

Vi uma postagem interessante no blog do Fabiano sobre ter ou não domínio próprio. O post surgiu a partir da indagação do Marreta sobre se pagar por um domínio próprio valeria a pena. Deixei lá minha resposta, defendendo que sim, é um investimento que vale a pena, diante do valor exíguo cobrado — dependendo do plano (anual, plurianual etc.).

Quando falo em investimento, não é necessariamente esperando retorno financeiro, mas sim investindo em algo que você gosta de fazer: manter um blogue. No entanto, pode, sim, haver retorno financeiro, caso você opte por monetizar. Fiz o teste de monetização por duas vezes, sendo uma pelo próprio Google AdSense — e não gostei. Muita poluição visual para um retorno pífio. Então, desisti. Mas o blogue continua aprovado para esse fim (monetização), caso eu mude de ideia.

Sobre isso, estou tentando ver se consigo algo via YouTube, pois parece mais viável. Consegui monetizar o canal há pouco tempo e, aos poucos, vai pingando uns centavos. Se o canal sobreviver, poderei sacar uns trocados esporadicamente, a cada US$ 100,00 acumulados. Veremos... Talvez, em breve, até mesmo o Google vaze do Bostil, diante de tanta insegurança jurídica e até mesmo diante da alma podre do bostileiro. Esta várzea faliu, mas poucos perceberam.

De qualquer forma, tanto este blog quanto o vlog já me rendem uma grana. Explico: sem eles, acho que eu teria adoecido mentalmente em vários momentos. Blogar e vlogar são terapias para mim. Logo, talvez eu esteja evitando gastos com psicólogos (nos quais não confio), psiquiatras e medicações caríssimas.

A internet é tão saudável para mim quanto ler, jogar videogame ou ver um bom filme. E, no caso deste site, tenho um carinho enorme por ele. Então, vale sim o “investimento” em domínio próprio, por esse apreço que possuo. Para quem não sabe, aliás, esta é sua segunda versão. A primeira foi removida pelo Blogger. Eu tinha backup das postagens, mas perdi, com isso, todo o histórico de mais de um milhão de acessos acumulados — o que certamente influencia na indicação do site pelos buscadores. Mas estamos aí novamente, engatinhando.

Voltando à postagem do Fabiano: o Marreta nos chamou de necrófilos. Achei bacana a definição. Parece mesmo que quem mantém e consome blogues são necrófilos de uma mídia já não apenas putrefata, mas cujos restos mortais foram cremados e espalhados no ar binário ou no mundo quântico. Pensei até em trocar o nome do meu espaço para “Blog do Necrófilo”, mas aí parariam aqui uma penca de tarados em busca de imagens de defuntas gostosas.

Por que blogamos? Porque gostamos. Porque preenche um vazio específico em nós — algo que precisa ser exprimido — talvez para recordarmos os velhos tempos da internet discada, seus fóruns, Orkut, IRC etc., e, mais especificamente, o HpG — plataforma brazuca de criação de páginas pessoais gratuitas, popular nos anos 2000 e tralalá. Precisávamos montar a página por meio de FTP (File Transfer Protocol). O meu site, naquela época de acesso discado, chamava-se Miscelândia — neologismo com “miscelânea” e “lândia” (land, terra, lugar). Durou pouco mais de um ano, acho.

Então veio a tecnologia Blogger, e a achei excelente: prática e com bons resultados nas ferramentas de busca.

Blogo porque o instante existe / e a minha vida está incompleta. / Não sou alegre nem sou triste: / sou pateta.

É isso.

Curiosamente, pedi à Skynet que definisse o Blog do Neófito, e a resposta foi a seguinte:

O Blog do Neófito é um espaço pessoal dedicado à cultura pop com um toque de erudição. Lá, o autor compartilha reflexões sobre artes, cinema, literatura, quadrinhos, música, séries e outros assuntos variados — sempre com uma pitada de análise ponderada ou ‘verniz de erudição’.

Principais características:

  • Temas diversos: de resenhas de filmes e séries, passando por críticas de HQs e séries literárias, até reflexões sobre músicas, arte e cultura em geral.

  • Abordagem reflexiva: um olhar pessoal e crítico, muitas vezes carregado de digressões e opiniões sólidas, como mostrado nas postagens sobre quadrinhos ou música.

  • Formato misto: textos com profundidade, com publicações regulares que misturam análise, narração de experiências e sugestões culturais em diversos formatos — escritos ou com vídeos/vlogs.

É mais ou menos isso. Nem eu saberia defini-lo. Na verdade, é meu antigo Miscelândia do HpG, apenas numa plataforma diferente. Não dou mais a atenção devida a este espaço, deveras. Mas, mediante o canal no YouTube, consigo trazer gente para cá, mesmo que seja apenas para uma bisbilhotagem marota.

Além disso, falar merda no iutúbi está me servindo mais, emocionalmente, do que escrever. Pode ser apenas uma fase, acho. O tempo dirá.

É isso. Só groselhar um pouco aqui.

Abraços necrófilos a todos — e até a próxima.