quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Nesses confins do mundo, nada vai me assustar

- Êpa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez! ...

E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.

- O gostosura de fim-de-mundo!...

Guimarães Rosa, em A Hora e Vez de Augusto Matraga

Ando tão por fora do mundo televisivo que nem sabia da existência do remake de Renascer. Para mim, esta foi a obra-prima de Benedito Ruy Barbosa e talvez a segunda melhor realização da teledramaturgia brasileira, logo atrás de Roque Santeiro. Acompanhei a jornada de José Inocêncio, no sul baiano, do primeiro ao último capítulo, de quando fechou seu corpo com o facão na raiz do pé de jequitibá até sua morte e o legado ao filho enjeitado, João Pedro.

Quantos personagens instigantes foram ali construídos, dentre jagunços, fazendeiros, políticos, ralé e até mesmo playboys que residiam soberbamente na "capitar" graças à grana do cacau. Tião Galinha que queria um pedacinho de terra pra mode de plantar; a nem homem nem mulher Buba, interpretada pela então belíssima Maria Luísa Mendonça; Jacutinga, dona do cabaré local; Damião, pistoleiro que gostava de pão com mortadela mais do que a massa de manobra lulopetista etc.

A trilha sonora foi escolhida a dedo, tanto a nacional quanto a internacional, onde destaco:

  1. "Confins" - Ivan Lins Com Participação Especial de Batacotô (tema de abertura)
  2. "Lua Soberana" - Sérgio Mendes (tema dos extratores de cacau)
  3. "Me Diz" - Fagner (tema geral)
  4. "Parabolicamará" - Gilberto Gil (tema de locução Bahia)
  5. "Ai Que Saudade De Ocê" - Fabio Jr
  6. "Essa Tal Felicidade" - Tim Maia (tema de Zé Augusto)
  7. "Sete Desejos" - Alceu Valença (tema de Eliana e Damião)
  8. "Joaninha" - Ithamara Koorax (tema de Joaninha)
  9. "Mentiras" - Adriana Calcanhotto (tema de Mariana)
  10. "Palavra Acesa" - Quinteto Violado (tema de Tião Galinha)

Renascer tinha cheiro de suor e sangue. Acho que borrifavam óleo no elenco e depois lhe jogavam massapé, de tão encardidos que ficavam os atores e figurantes. O mundo, ali, era duro e cruel, com direito à redenção apenas no finalzinho. Tocaias sempre iminentes e encantos de proteção contra morte matada e morte morrida. É realmente curioso como levarão uma história tão crua e densa para a TV pasteurizada atual. Provavelmente, o jagunço Damião - que comia Eliana, interpretada por Patrícia Pillar no auge da sensualidade - será não-binárie e dirá que palavras machucam mais que balas; João Pedro será um jovem revolucionário pretendendo repartir o latifúndio do pai entre o MST; e Jacutinga não terá mais um brega cheio de quengas, mas, sim, venderá conteúdos no OnlyFans.

Acho que Renascer foi a novela que deu projeção definitiva a Adriana Esteves, interpretando Mariana, neta do antigo desafeto de José Inocêncio - o temido coronel Belarmino. E o momento em que ela surge na novela, descoberta por João Pedro, foi bastante marcante e ainda o é para os dias de hoje, tudo embalado por Mentiras de Adriana Calcanhotto: eu vou mergulhar sua guia...

Certamente não verei esta nova versão, pois não tenho saco nem disposição. E, como falei em postagem anterior, abandonei as novelas em 2004, com Da Cor do Pecado e Celebridade. Há algum tempo, aliás, ando cansado até de seriados, quem dirá acompanhar uma novela inteirinha. Acho até estranho quem faz isso nos dias de hoje. Mas gosto é gosto!

Abraços saudosos e até a próxima.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Barrados no Funeral

A guitarra na vinheta era legal. 👆

Eu não gostava de Barrados no Baile e ainda hoje não gosto. Sempre achei um seriado bobo, chato, cheio de pessoas de caras e bocas irritantes. Quando eu era guri, aquele seriado já me irritava, especialmente por atrasar a exibição de programas que eu queria ver. Recordo, por exemplo, uma época quando era exibido no domingo e eu ficava de orelhas em pé para quando acabasse, e assim a programação chegasse logo ao filme de Temperatura Máxima.

Se uns não gostavam, outros, sim. Eram minhas primas Deise e Denise, por exemplo, que ficavam grudadas na telinha, delirando em sonhos românticos - e quiçá sexuais - com Dylan e Brando. Acho que eu era muito jovem para me interessar pelos temas ali abordados. Hoje, sinto vergonha alheia com os trejeitos daqueles personagens descolados. Além de tudo, as ambientações de alto luxo nunca me atraíram, pois prefiro estéticas mais rústicas. Se bem que nada é tão rústico, hoje em dia, quanto a Califórnia, com suas ruas entupidas de cracudos e mendigos defecando ao ar livre em frente à Rolex. É impressionante até para mim como a extrema esquerda ianque tornou o Estado mais rico dos Estêites uma pocilga a céu aberto.

Confesso, no entanto, que, enquanto os marmanjos aproveitavam umas olhadinhas no seriado para admirar a beleza sedutora de Brenda Walsh, eu ficava mais encantado com Kelly Taylor! E lembrei dessas belas garotas diante da notícia que Brenda está morrendo. A atriz que lhe deu vida, Shannen Doherty, está com câncer em estado avançado e não terá jeito: vai pro paletó de madeira em breve. E assim é a vida. Ao menos deve ter tido um vidão e isso que importa. Aparentemente, ela está organizando como será seu funeral e, creio, quer torná-lo um evento "top", algo típico de subcelebridade ou de alguém que esteve no auge e hoje é insignificante no show business. Quem realmente está por cima da carniça procura ser reservado ao máximo e jamais ficaria tentando "farmar" sobre as próprias desgraças, a exemplo de uma morte próxima com bastante sofrimento, sendo devorada por uma doença escrota. Procurem saber algo sobre a vida íntima de Tom Cruise: é quase impossível, pois ele não se expõe além do necessário.

A Brenda/Shannen aliás está preparando uma lista de Barrados no Funeral, gente que ela não quer bisbilhotando seu corpo em estado de putrefação mantido à força por formol. Será sua última satisfação: "não ver" pessoas sendo barradas na entrada do velório: "Sinto muito, senhora, seu nome está na lista de persona non grata, de acordo com a vontade do defunto esverdeado que ali repousa".

Luke Perry, Comedor-Geral de Beverly Hills 90210 (título original da série), não teve tempo para essas futricas. Simplesmente bateu as botas rapidinho, devido a um AVC. Mas essencialmente é isso. Seu corpo pifou de vez, algo repentino e sem sofrimento (ainda foi mantido em coma induzido uns dias) e foi para o beleléu. Se tivesse sido devorado por câncer, AIDS ou alguma outra doença cruel, acredito que não gastaria seus últimos dias com essas babaquices típicas no imundo show business.

Enfim, é isso. Que postagem foi essa? Apenas fofoca. Para mais notícias fresquinhas sobre os babados dos ricos e quase famosos, continuem acompanhando esta página. Abraços podres de rico e até a próxima.