Descobri PC Siqueira na MTV em seu programa PC na TV. O nome do programa já era legal em si, pois brincava com PC (Paulo Cezar e personal computer) na televisão, visto que sua projeção se deu em algo então ainda novo: o YouTube antes dos smartphones, a partir do canal maspoxavida. Depois, o próprio youtuber brincou com isso e criou um novo formato dentro de seu canal, chamado PC no PC, mas não acompanhei porque não tinha mais interesse em seu conteúdo há anos. Não que eu tenha mudado tanto. Quem mudara foi o Paulo Cezar. E como mudou!
É bom lembrar que, naquela época, a MTV era um canal divertido. O único que eu ainda assistia. Às vezes, também via a Globo à noite por causa de Jô Soares. Mas só. Televisor, para mim, só servia para ver filmes e seriados em DVD ou baixados via torrent, quando eu tinha saco para ficar caçando produções em sites como Pirate Bay etc. O poder da internet ainda era embrionário diante das grandes corporações de mídia. Mas casos como o do PC Siqueira já demonstravam que bastante coisa mudaria. A bem fornida MariMoon também foi uma dessas: migrou para a MTV diante do sucesso de seu Fotolog. É interessante pensar em como tudo mudou em tão pouco tempo, graças à banda larga. Hoje, a TV é relativamente insignificante e migrou para a internet.
Mas voltemos ao PC. O cara tinha um conteúdo interessante. Lembrava Seinfeld (sem o humor) num ponto: começava falando sobre nada e concluía chegando a lugar nenhum. Era só isso. O PC não gostava de gente descolada, pessoas engajadas, playboys e patricinhas, baladeiros, drogados etc. Era autodidata em tudo, especialmente por não ter se integrado ao sistema de educação formal. Seria um exemplo a milhões de jovens frustrados com a vida: que, realmente, tanto faz o mundo à nossa volta - para nós, nos bastávamos. Mas o tempo e o sucesso mudaram o Paulo. Bastou ter acesso à fama e à grana a rodo que se jogou no mundo que tanto criticava. Deixou até de ser vesgo, aliás, e correu para cobrir a careca quando a maturidade chegou - queria validações sociais, enfim. Nesse meio tempo, se entupia com drogas lícitas e ilícitas e dedicou a vida a defender ideologias genocidas para fazer parte da turma dos guerreiros da justiça social. Dizia-se comunista, embora desfrutando de todos os mimos do regime de mercado.
Um dia, o PC caiu para nunca mais se levantar. Foi exposto ao público que suas piadinhas sobre "pizza sabor criança" não eram meras piadinhas. E as pessoas toleram tudo, menos sacanagem com crianças e crueldade com animais. Foi a cereja no bolo de merda que o PC vinha confeitando há anos. Migrou para o buraco financeiro, mas livrou-se do xilindró por sorte, diante do retardo nas investigações. Salvo engano, a polícia só foi ao seu apartamento, conferir seus computadores e demais dispositivos, após quase um mês. Se havia mais algo além do "aroused", já era, ninguém saberá. Ao menos morreu como inocente, aos olhos da Justiça.
PC sempre se queixava da "vida dura e do mundo cruel". Sim, a vida é difícil e às vezes nos perguntamos se a vida não seria longa demais. Coleciono alguns colegas suicidas, como falei na postagem "Boa noite e que Deus os abençoe". Nunca entenderemos os motivos reais, concretos, se é que existem. Às vezes, estava tudo dentro da cabeça do suicida, em abstrato. No caso do youtuber, ele segurava bem a barra: dormia com belas mulheres, seguia viajando e curtindo, enchendo a cara e usando suas drogas recreativamente. Mas bastou a fama acabar (restando apenas a má fama) e todos os seus amigos barbudinhos sumiram, assim como o gordo saldo bancário. Ficou seu grana e se matou. A falta de dinheiro mata, para quem o tinha. É a cena clássica do gordo burguês que estoura os miolos na sua cadeira de mogno maciço, quando sua empresa chega à falência definitiva, sem chance de retorno.
A bancarrota era notória, aliás, desde o momento quando o "influenciador" passou a pedir pix em seu canal e no Instagram, além de surgirem cobranças contra ele por despesas condominiais e o mesmo alegar situação de pobreza para não custear advogado e emolumentos. Poderia ter ido morar com os pais, ou num espaço mais modesto. Mas não. Optou por encarar a manutenção de um estilo de vida ainda caro, mesmo havendo se mudado do apartamento anterior, ainda mais caro. Acredito, realmente, que ele poderia ter dado a volta por cima. Não tendo mais o prestígio de outrora. Mas levando vida modesta, concluindo seu curso de tatuador e monetizando, mesmo que bem menos, seu canal no Youtube. Curiosamente, nenhum amigo riquinho do PC se ofereceu para ajudá-lo, como contaram pessoas próximas e mais íntimas do cara.
Tomei conhecimento de sua morte quando estava viajando. Achei seu final triste e trágico. Exibiram seu velório em diversos veículos: duas dúzias de anônimos, nenhum famosinho, com sua mãe chorando na cadeira de rodas e falando sobre "amor" e "eternidade". PC dizia que no seu enterro haveria uma festa cheia de gente legal, maneira e descolada, frisando até mesmo que "nenhum batizado" estaria lá, só a turma sem crenças, super moderna. Pelas imagens, só vi tios e tias do "é pavê ou pra cumê". Assim que soube de sua morte, lembrei de como era legal o PC na TV e de como passei a desprezar aquele mesmo cara que tanto me divertia. Mas realmente não quis escrever nada a respeito, pois nem com computador estava no momento e meu descanso estava de boa.
Esta postagem não é um R.I.P. PC Siqueira, pois ele odiava a ideia de vida eterna e sempre demonstrou ter nojo das tias das cantinas que vão à igreja com a Bíblia sob o sovaco. Não podemos deseja "boa noite e que Deus te abençoe" a quem afirmava odiar a ideia do Deus de Isaac e Jacó. E, além de tudo, também não sou religioso. Esta postagem é apenas para relembrar como o PC parecia ser um cara legal.
Abraços trágicos e até a próxima.