quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

PC Siqueira se matou em 2023... maspoxavida!


Oi, como vai você?
Paulo Cezar, 1986-2023

Descobri PC Siqueira na MTV em seu programa PC na TV. O nome do programa já era legal em si, pois brincava com PC (Paulo Cezar e personal computer) na televisão, visto que sua projeção se deu em algo então ainda novo: o YouTube antes dos smartphones, a partir do canal maspoxavida. Depois, o próprio youtuber brincou com isso e criou um novo formato dentro de seu canal, chamado PC no PC, mas não acompanhei porque não tinha mais interesse em seu conteúdo há anos. Não que eu tenha mudado tanto. Quem mudara foi o Paulo Cezar. E como mudou!

É bom lembrar que, naquela época, a MTV era um canal divertido. O único que eu ainda assistia. Às vezes, também via a Globo à noite por causa de Jô Soares. Mas só. Televisor, para mim, só servia para ver filmes e seriados em DVD ou baixados via torrent, quando eu tinha saco para ficar caçando produções em sites como Pirate Bay etc. O poder da internet ainda era embrionário diante das grandes corporações de mídia. Mas casos como o do PC Siqueira já demonstravam que bastante coisa mudaria. A bem fornida MariMoon também foi uma dessas: migrou para a MTV diante do sucesso de seu Fotolog. É interessante pensar em como tudo mudou em tão pouco tempo, graças à banda larga. Hoje, a TV é relativamente insignificante e migrou para a internet.

Mas voltemos ao PC. O cara tinha um conteúdo interessante. Lembrava Seinfeld (sem o humor) num ponto: começava falando sobre nada e concluía chegando a lugar nenhum. Era só isso. O PC não gostava de gente descolada, pessoas engajadas, playboys e patricinhas, baladeiros, drogados etc. Era autodidata em tudo, especialmente por não ter se integrado ao sistema de educação formal. Seria um exemplo a milhões de jovens frustrados com a vida: que, realmente, tanto faz o mundo à nossa volta - para nós, nos bastávamos. Mas o tempo e o sucesso mudaram o Paulo. Bastou ter acesso à fama e à grana a rodo que se jogou no mundo que tanto criticava. Deixou até de ser vesgo, aliás, e correu para cobrir a careca quando a maturidade chegou - queria validações sociais, enfim. Nesse meio tempo, se entupia com drogas lícitas e ilícitas e dedicou a vida a defender ideologias genocidas para fazer parte da turma dos guerreiros da justiça social. Dizia-se comunista, embora desfrutando de todos os mimos do regime de mercado.

Um dia, o PC caiu para nunca mais se levantar. Foi exposto ao público que suas piadinhas sobre "pizza sabor criança" não eram meras piadinhas. E as pessoas toleram tudo, menos sacanagem com crianças e crueldade com animais. Foi a cereja no bolo de merda que o PC vinha confeitando há anos. Migrou para o buraco financeiro, mas livrou-se do xilindró por sorte, diante do retardo nas investigações. Salvo engano, a polícia só foi ao seu apartamento, conferir seus computadores e demais dispositivos, após quase um mês. Se havia mais algo além do "aroused", já era, ninguém saberá. Ao menos morreu como inocente, aos olhos da Justiça.

PC sempre se queixava da "vida dura e do mundo cruel". Sim, a vida é difícil e às vezes nos perguntamos se a vida não seria longa demais. Coleciono alguns colegas suicidas, como falei na postagem "Boa noite e que Deus os abençoe". Nunca entenderemos os motivos reais, concretos, se é que existem. Às vezes, estava tudo dentro da cabeça do suicida, em abstrato. No caso do youtuber, ele segurava bem a barra: dormia com belas mulheres, seguia viajando e curtindo, enchendo a cara e usando suas drogas recreativamente. Mas bastou a fama acabar (restando apenas a má fama) e todos os seus amigos barbudinhos sumiram, assim como o gordo saldo bancário. Ficou seu grana e se matou. A falta de dinheiro mata, para quem o tinha. É a cena clássica do gordo burguês que estoura os miolos na sua cadeira de mogno maciço, quando sua empresa chega à falência definitiva, sem chance de retorno.

A bancarrota era notória, aliás, desde o momento quando o "influenciador" passou a pedir pix em seu canal e no Instagram, além de surgirem cobranças contra ele por despesas condominiais e o mesmo alegar situação de pobreza para não custear advogado e emolumentos. Poderia ter ido morar com os pais, ou num espaço mais modesto. Mas não. Optou por encarar a manutenção de um estilo de vida ainda caro, mesmo havendo se mudado do apartamento anterior, ainda mais caro. Acredito, realmente, que ele poderia ter dado a volta por cima. Não tendo mais o prestígio de outrora. Mas levando vida modesta, concluindo seu curso de tatuador e monetizando, mesmo que bem menos, seu canal no Youtube. Curiosamente, nenhum amigo riquinho do PC se ofereceu para ajudá-lo, como contaram pessoas próximas e mais íntimas do cara.

Tomei conhecimento de sua morte quando estava viajando. Achei seu final triste e trágico. Exibiram seu velório em diversos veículos: duas dúzias de anônimos, nenhum famosinho, com sua mãe chorando na cadeira de rodas e falando sobre "amor" e "eternidade". PC dizia que no seu enterro haveria uma festa cheia de gente legal, maneira e descolada, frisando até mesmo que "nenhum batizado" estaria lá, só a turma sem crenças, super moderna. Pelas imagens, só vi tios e tias do "é pavê ou pra cumê". Assim que soube de sua morte, lembrei de como era legal o PC na TV e de como passei a desprezar aquele mesmo cara que tanto me divertia. Mas realmente não quis escrever nada a respeito, pois nem com computador estava no momento e meu descanso estava de boa.

Esta postagem não é um R.I.P. PC Siqueira, pois ele odiava a ideia de vida eterna e sempre demonstrou ter nojo das tias das cantinas que vão à igreja com a Bíblia sob o sovaco. Não podemos deseja "boa noite e que Deus te abençoe" a quem afirmava odiar a ideia do Deus de Isaac e Jacó. E, além de tudo, também não sou religioso. Esta postagem é apenas para relembrar como o PC parecia ser um cara legal.

Abraços trágicos e até a próxima.



terça-feira, 28 de novembro de 2023

Angeli, Bruce Willis e a afasia: resta ao menos o amor

Há pouco tempo, dois grandes nomes do entretenimento (e da arte/cultura) se retiraram da vida pública devido a problemas similares: Angeli e Bruce Willis, gigantes, cada um em sua área de atuação: cartunista e ator, respectivamente. Ambos divulgaram diagnósticos iniciais de afasia. No caso de Bruce Willis, sua família já esclareceu que, atualmente, ele se encontra num quadro de demência. A situação do mega astro, aliás, me recordou bastante os últimos anos de Charles Bronson, outra lenda de Hollywood. Falei sobre isso na postagem Era uma vez no Coração da América, acerca seu falecimento após os oitenta anos de idade, já demente. Bronson, como Willis, tiveram auges não apenas no estrelato, mas também físicos. Bronson, durante anos, ostentou um físico invejável, aliás, embora pouca gente mais jovem saiba disso.

Este mês, me surpreendi com duas postagens sobre os dias atuais desses caras que estiveram tão presentes em nossas vidas. A primeira foi pelo Adão Iturrusgarai, visitando Angeli, visivelmente fragilizado. O gênio criativo por trás de realizações como Rê Bordosa, Bob Cuspe e  Wood & Stock não estava mais ali, de certa forma. Depois foi a filha de Willis quem postou um curto vídeo do pai, distante, habitando outro mundo. Mas ambos pareciam ao menos bem cuidados pela família e, até onde se sabe, estão recebendo as atenções devidas e, mesmo habitando um mundo interior, bem escondido entre camadas e camadas de massa cinzenta, totalmente distantes da realidade à volta, têm o conforto do amor familiar.

Enfim, é isso: aproveitem a brevidade da vida enquanto têm saúde e cultivem o amor dos seus, pois é apenas isso que talvez reste no futuro sombrio que, quiçá, o esteja espreitando neste exato momento.

Abraços e carpe diem.