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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Miran, 20 Anos de Desenho Gráfico [ Portfólio ] e Um Rapaz de Fino Traço [ Antologia de cartuns ]


Retomando as postagens acerca de livros de arte. Desta vez, apresento o portfólio do trabalho gráfico de Miran (Oswaldo Miranda). Conheci este artista por seus cartuns. Entretanto, internacionalmente, ele se destaca mais em razão de sua atuação no design. Este belo livro foi editado pela Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná, em 1987. A brochura possui capa cartonada e papel cuchê de elevada gramatura. Mas o miolo pesado não resistiu muito tempo à cola. Esta ressecou e as folhas despencaram. Mandei restaurar. Toda a cola velha foi retirada, as páginas foram devidamente sucadas e receberam costura dupla (interna e aparente). Mantive as capas originais (obviamente) e protegi o volume com uma capa dura. Acredito que a projeção de Miran deve-se, ainda mais especialmente, ao seu esmerado trabalho em tipografia. Não é à toa que este volume traz comentários de Herb Lubalin, Saul Bass e Olaf Leu. Acerca do livro de cartuns, falarei mais à frente.








Fortuna, O Cartunista dos Cartunistas [ Livro de Arte, Catálogo, Antologia ] [ Republicação de postagem de 08/17/14 do Blog do Neófito ]


Imagem de meu exemplar.
Sempre senti falta de um grande volume reunindo a obra de Fortuna. Sei que o cartum já passou da fase de moribundo e está morto há algum tempo, aguardando apenas que lhe joguem a última pá de terra sobre a carcaça. Mas ainda há muitos fãs dessa forma breve e certeira de expressão - a melhor forma (ainda) de expressão gráfica de uma ideia. Escrever é até fácil. Fazer quadrinhos, é difícil. E elaborar um cartum inteligente, ainda mais sem texto ou com a pouca necessidade deste, é para poucos. Reginaldo José Azevedo Fortuna foi um desses poucos, ao lado de gênios do traço e das ideias como Jaguar, Ziraldo, Vagn, Millôr, Henfil, Claudius entre outros que marcaram mais do que uma época específica de nossas imprensa inteligente e das artes gráficas. E que felicidade foi topar com o livro Fortuna, O Cartunista dos Cartunistas, pela Edições Pinakotheke, com seleção e organização do gênio da caricatura Cássio Loredano.

A obra não é uma mera reunião de trabalhos. Trata-se de um documento com toda a evolução gráfica do artista, ao longo de décadas. Os "capítulos" são divididos de acordo com sua participação em publicações diversas e ano de ingresso em tais periódicos, além de livros com seu trabalho. Tudo cronologicamente editado. É interessante notar que seu traço, durante anos, foi muito bem elaborado; entretanto, similar aos padrões comuns, coisa bem "cara de The New Yorker". Depois, precisando de linhas rápidas, encontrou seu estilo próprio e, daí em diante, fez escola. Continuou com um traço primoroso; entretanto, único. A ênfase do livro é a republicação de quase toda a produção de tiras de Madame e Seu Bicho Muito Louco. Além da generosa reprodução de cartuns, tirinhas, capas para livros e revistas. Vale muito a pena, também, a leitura de artigos escritos por Ferreira Gullar, Antônio Callado, Felipe Fortuna (filho do autor), Jaguar, Álvaro de Sá e P.M. Bardi.

O acabamento do livro é digno de reverência! São mais de 250 páginas em papel cuchê fosco de elevada gramatura e capa dura. O formato de 22,5 x 27,5 chama atenção, mas foi subaproveitado. É que sobrou muito espaço branco nas páginas. Algumas margens ficaram exageradamente grandes. O livro possui um caráter documental. Assim, as páginas das revistas e dos livros foram lançadas como imagens. Visualmente, isso importa bastante, além de proporcionar ao leitor a fruição dos trabalhos como originalmente publicados. Entretanto, por vezes, isso causa problemas: algumas reproduções ficam pequenas e a letras tornam-se liliputianas. Há trechos onde a arte está porcamente reproduzida (pela baixa resolução) e o texto quase impossível de se ler. Isso seria facilmente resolvido com a inversão da reprodução: ao invés da posição "retrato" em algumas páginas, a "paisagem". Assim, haveria melhor aproveitamento das páginas grandes.

No geral, entretanto, essa edição é excelente e merece a estante de quem é fã de cartuns e artes gráficas em geral, bem como quem possui uma quedinha em conhecer, com bom humor e perspicácia, a História de nossa republiqueta.





Esta é a verdadeira História do Paraíso [ por Millôr Fernandes ]



Já comentei um portfólio de Millôr Fernandes aqui no blogue. Sou grande admirador desse artista de inúmeras facetas e de seu refinado bom humor. Sua perda foi lamentável; mas, ao menos, não prematura. Aproveitamos muito de seu talento, em sua extensa produção artística e literária. Desta vez, quero mostra minha edição de Esta é a verdadeira história do Paraíso, uma narrativa ilustrada que toca na sensibilidade religiosa de muita gente e que, no passado, levou a um grande desentendimento entre o Millôr e a revista O Cruzeiro que, no desenrolar de tudo, acabou envolvendo ainda dezenas de profissionais da área de comunicação. Sobre o fato, transcrevo palavras do próprio autor, abaixo.
A Verdadeira História do Paraíso foi escrita aos poucos, ao acaso, frases soltas, conceitos ocasionais que me ocorriam enquanto fazia, semanalmente, através dos anos, na revista O Cruzeiro, a seção humorística O Pif-Paf ("Cada número é exemplar. Cada exemplar é um número").
Um dia, no fim da década de 50, não me lembro exatamente quando, num programa de televisão que eu apresentava pessoalmente em Belo Horizonte, estimulado por meu fraterno amigo Frederico Chateaubriand, contei, ilustrando com desenhos, a história completa pela primeira vez. Não sei se houve algum protesto, há sempre, mas a TFP não se desmoronou, o país continuou a avançar nos seus precários trilhos (bitola estreita), e o sol prosseguiu nascendo e morrendo a espaços aproximados de 12 horas.
Posteriormente, a história foi apresentada, também, na TV Tupi do Rio, e num espetáculo teatral, Piftac-Zigpong, antes de ser vendida como matéria especial com contrarecibo e pagamento adiantado, pois eu conhecia bem a administração da empresa, para a revista O Cruzeiro, em maio de 1963. A revista, creio que por motivos de programação, só publicou a história seis meses depois, em outubro, ocasião em que eu viajava pela Europa. Uma noite, estando numa festa em Lisboa, me lembro de que havia, na festa, uma ilustre companhia, desde a senhora Princesa da Fátima à não menos senhora condessa de Paris, pois eu, Proust e Ibrahim Sued estamos sempre nessas, o cantor Juca Chaves se aproximou de mim com aquele ar satânico de quem vai anunciar a repetição do terremoto de 1755 e perguntou: "Você viu o que O Cruzeiro escreveu contra você?" Vi no dia seguinte, na embaixada.
Na primeira página da revista, na qual eu tinha trabalhado 25 anos (seis meninos, tínhamos elevado a vendagem da revista de 11.000 a 750.000 exemplares semanais, a maior da imprensa brasileira em todos os tempos) havia um incrível editorial contra mim, naturalmente não assinado, no qual se dizia que eu tinha publicado a história, dez páginas em quatro cores (!), sem conhecimento da redação, da secretaria e, conseqüentemente, da direção do semanário. Acho que o fato é inédito na história da imprensa e da pusilanimidade internacional e só foi mesmo possível devido ao caos moral em que se transformaram os Diários Associados, desagregação essa que, pelo gigantismo da organização, influenciou, e influencia ainda hoje, no pior sentido, a imprensa brasileira.
Não houve nada mais deletério, mais deliqüescente, do que aquele espírito jornalístico, que continua, como um miasma, a atuar sobre a presente geração. O editorial mandado publicar contra mim na revista O Cruzeiro, por seu diretor Leão Gondim de Oliveira, causou tal indignação nos meios profissionais que produziu efeito contrário ao esperado: num jantar de desagravo que me foi oferecido compareceram, representando oficialmente as empresas que dirigiam, os diretores e presidentes dos maiores veículos de comunicação do país: rádios, tevês, jornais, sindicatos, revistas, editoras e mais de duas centenas de jornalistas e escritores do Rio e de São Paulo. Uma demonstração maciça de imprensa contra imprensa quase impossível de se repetir.
Por que a revista O Cruzeiro escreveu o editorial contra mim? Simples; publicada na revista a história deste livro, aliás ainda mais inocente, pois fiz, no livro, algumas alterações, coisa natural, vividos tantos anos de permissividade, a empresa sofreu uma certa pressão de alguns carolas do interior, exatamente 36, como consta do processo trabalhista, o suficiente, porém, para apavorar a proprietária da revista, dona Amelia Whitaker Gondin de Oliveira, carolíssima. Não tendo argumentos com que apaziguar os pobres diabos que passavam, para ele, por "representantes da igreja" - isso mesmo, como Cristo e como o Papa - o diretor da revista achou mais fácil me atacar à distância, servindo-se de minha ausência. Típico. Como típico também, com referência à igreja de então, caindo pelas tabelas de gagá, é o fato de, no meio de 112 artigos escritos indignadamente contra o semanário associado, no meio de centenas de telegramas de solidariedade, no meio de incontáveis demonstrações pessoais de apoio, eu não ter recebido nem uma palavra favorável de um líder, um prelado ou um pensador católico.
Conto isto como um simples e necessário registro, pra que o leitor conheça a origem deste texto, as vicissitudes por que já passou, conto, em suma, a história desta istória. Ganhei, naturalmente, a ação judicial que fiz contra O Cruzeiro. A violência evidente teve que ser reconhecida até pela burocracia seiscentista da trôpega justiça trabalhista brasileira. Por isso continuo aqui, gordo e feliz (mentira, só feliz) enquanto a revista e seus editores morriam de cirrose ética dois anos depois. Moral, meus filhos: a justiça farda, mas não talha.
O rebuliço tem sua razão de ser. Durante toda a história, encontramos “um Deus” guiando sua criação da maneira menos sensata possível. Por que criar a vida tão bela que pode ser destruída de maneira tão cruel e sofrida até por seres microscópicos como vírus e bactérias, por exemplo? E os desastres naturais? Nas ilustrações, “Deus” sempre está mascarado. Embora sua face seja a de um bom velhinho, vemos, por trás de sua cabeça, o barbante que a amarra. Ao final do livro, o autor conclui:
De qualquer forma, porém, dentro e fora do Paraíso, o Mundo não foi realmente uma criação sensata, feita com estudo e cálculo. Tem lá seus momentos de magnífica inspiração, tem lá seus pôr-de-sol, suas auroras, mas o Senhor, de modo geral, fez tudo precipitadamente, num terrível exemplo de improvisação, de deixa-que-é-mole, de jeitinho, que até hoje os urbanista, prospectistas e futurólogos continuam imitando. No caso do Todo-Poderoso porém não há qualquer justificativa. Ninguém lhe deu prazo, ninguém lhe encomendou nada, não tinha data de entrega.
Após esse trecho, Millôr aponta para “Deus” e faz a acusação final: “Essa pressa leviana / Demonstra o incompetente: / Por que fazer o Mundo em sete dias / Se tinha a Eternidade pela frente?”. Após isso, o Senhor sai de cena desconfiado e, escondido de todos, retira a máscara: era, todo o tempo, o Diabo fantasiado. Ainda não sei como algo tão bobo pode ferir a sensibilidade de tanta gente. O objetivo não foi atacar o deus de nenhuma religião; mas somente criticar algumas "inconsistências" de nossa existência tão obscura e, até mesmo, alfinetar o "tinhoso".

Já encontrei uma brochura do ano de 2006, editada pela Desiderata, para a venda. Meu exemplar é uma edição de 1972 em capa dura da Livraria Francisco Alves Editora S/A, com diagramação e supervisão gráfica de outro grande artista gráfico: Caulos. As páginas, não numeradas, tem ótima impressão em razão da elevada qualidade do papel. Tamanho: 21,0 x 28,0, com prefácio do próprio autor (o texto reproduzido acima!). Se você encontrar esta publicação em sebo, compre. Vale a pena.






Livros de André Dahmer [ e considerações sobre as HQs nacionais ]



O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
(Carlos Pena Filho)

André Dahmer é um sujeito integrado à paranoia digital e ao consumismo desenfreado onde vivemos. Desde o ano de 2001, possui site dedicado à divulgação de suas tirinhas de maior sucesso: Malvados. Além disso, mantem contas em Twitter e Facebook, onde dissemina seus trabalhos e nos alerta acerca das novidades, como, por exemplo, o lançamento de seu mais recente livro de reunião de tiras: Vida e Obra de Terêncio Horto, pelo selo Quadrinhos na Cia. Se você quiser, pode acessar sua lojinha eletrônica e adquirir canecas e cinzeiros com seus personagens estampados por um precinho até salgado. Ou pode lhe comprar originais, serigrafias ou telas por valores que oscilam de R$ 300,00 a uns R$ 850,00. Mas, em seu trabalho, Dahmer procura nos deixar bem claro que é avesso a tudo isso: vida digital em demasia, consumo, lucro etc.. O artista, em seus quadrinhos, nos diz que tudo isso não presta e nos mostra todo um estado negativo de entropia. Ele quer lagar tudo e morar no mato, vivendo de luz e paisagismo.

Pergunta-se: André Dahmer é a Luciana Genro das HQs? Luciana, aquela presidenciável que seduz os incautos que desconhecem noções de Estado, Política e História, uma “garota” bem criada na nata da sociedade, que se tornou esquerdinha que come caviar e arrota comunismo e, de quebra, ainda engrupiu alguns bobos ao levantar a bandeira do aborto e da “causa gay” – embora não reconheça publicamente que, no regime de Estado por ela defendido, o aborto é aplicado até forçadamente e homossexuais são os primeiros a queimar na fogueira. A resposta é: não sei. Não vou adentrar nesse aparente paradoxo do autor. Não sei se ele realmente se acha um subversivo imberbe que luta com sua arte contra o sistema cruel e opressor. Pode ser que ele seja um autocrítico; ou pode ser que doe toda sua grana para o Greenpeace ou abrigo de idosos mais próximo. Vai-se saber.

Mas vale a pena ler suas obras? Sim. Da nova leva de cartunistas, André Dahmer é um dos bons, com seus personagens bem construídos, humor negro, diálogos ácidos e repúdio ao enjoativo politicamente correto implantado em nosso País há exatos doze anos. Claro, ser um dos bons, atualmente, não é grande coisa. Explico: é que o cartunismo jovem é um lixo em comparação aos medalhões que já “tivemos”: Ziraldo, Jaguar, Millôr, Fortuna etc.. Ainda temos gente de naipe produzindo, como Laerte e Angeli. Glauco foi assassinado por um lunático que hoje talvez viva bem neste País de impunidade institucionalizada. Caras como Adão, Galhardo, Nani etc., não andam lá com essa bola toda, produzindo apenas material “meio boca”. Laerte só pensa em HQs sobre travestis e, quanto a Angeli, vivemos de seu passado (de ouro, diga-se). Essa turma nova - a exemplo de Dahmer e Allan Sieber - é muito legal para entreter, justamente pela ausência de pudores. Mas são meio “adolescentes”. Escrevem como se estivessem dando uma grande sacada acerca da vida contemporânea ou analisando o complexo ser humano, em grupo ou individualmente. Entretanto, suas tirinhas divertidas não passam de material que dificilmente ficará para a posteridade, recheado de frases feitas e lugares comuns. Vale a pena comprar livros desses caras? Ratifico: sim. Só que não esperem nada de extraordinário.

Enfim. Do Dahmer, tenho os livros das imagens desta postagem: O Livro NegroMalvados e A Cabeça É A Ilha. Também tenho seu ótimo livrinho de poemas, pensamentos e ilustrações Minha Alma Anagrama de Lama. Sobre este, vale destacar: foi elaborado a partir da digitalização de um caderninho do autor, e editado o mais próximo possível do original. É como se o autor multiplicasse seu caderno com os leitores. Os poemas têm qualidade e encontram ressonância – penso – em Ferreira Gullar (só que mais comprimido) e Paulo Leminski (aliás, citado em epígrafe à obra). O título foi retirado da quadra de sua autoria: “Depois de morto / renascer na grama / minha alma / anagrama de lama”, com um Superman estampado logo ao lado. Acho uma grande sacada o aproveitamento do espaço pelo artista. Assim, por exemplo, os versos se deslocam de uma linha horizontal para outra vertical, de cima a baixo, de acordo com a ideia de movimento ou posição necessária. Ao final do “caderno”, ganhamos um galeria com desenhos. Gosto dos “bonecos” de Dahmer: parecem pessoas vindas de outro planeta, com gigantismo ou elefantíase; são apenas seres humanos entortados. É um artista que, em muitos momentos, encontra “seu traço próprio”.

Se encontrar livros do autor por aí, compre. Será diversão garantida. Se você tiver pudores com certos temas e abordagens, nesta atualidade artificialmente antisséptica e maluca, continue sendo isso: um bobo cheio de frescuras e “politicamente correto” e não invista sua grana nessas páginas negras. Na lojinha eletrônica do autor dá para encontrar livros seus editados pela Desiderata. O de poemas e desenhos pode ser comprado direto pela Mórula Editorial com frete grátis. Ainda acredito na sobrevivência do cartum. Espero que o sucesso editorial de caras como André Dahmer estimulem a produção nacional e, um dia, nos apresente à luz gênios à altura de Ziraldo, Henfil, Borjalo ou o precoce Vagn. Sou um homem de fé (embora limitada, diante da inflação da babaquice e do “bundamolismo” nacional que nos assola).

Até a próxima postagem. Abraços.


Livros e HQs de André Dahmer por kleiton-alves

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Festa de Ziraldo



Em 05 de novembro de 1968, houve a quadragésima eleição dos Estados Unidos da América para escolha de seu Presidente. Três eram os candidatos: Richard Nixon (em busca da reeleição), Hubert Humphreye George Wallace. Não é preciso dizer que o republicano Nixon ganhou, para ver sua carreira política afundar, mais à frente, em razão do escândalo de Watergate. Na Embaixada americana em Brasília, na noite das eleições, houve uma festa, onde todos os convidados poderiam beber à vontade, comer cachorro-quente e votar de mentirinha para Presidente. Por telex, a contagem de votos nos EUA iriam chegando. Noutro ponto do Planalto Central, o Presidente da República receberia a Rainha Elizabeth II, no Palácios dos Arcos. Finda a recepção à Sua Majestade, boa parte dos convidados se dirigiram à comemoração norte americana. Ziraldo esteve lá e, em 1969, publicou o livro que compartilho nesta postagem.

Gosto de um pensamento de Saul Steinberg onde se diz que, se os escritores soubessem desenhar, não haveria literatura. Em A Festa, Ziraldo nos deu uma crônica divertida e inteligente daquela noite única ocorrida na Capital federal, apenas com desenhos e poucas palavras. Para entender melhor o momento, assumo que precisei pesquisar um pouco, pois não há muita introdução ao volume (apenas uma breve apresentação escrita por Steven Monroe e meia dúzia de palavras de Ziraldo). Mas, conhecido o momento histórico, é um grande prazer passear por aquela noite na companhia de Ziraldo, um grande humorista - segundo Steven Monroe, "um dos melhores do Brasil e do mundo".

Consegui meu exemplar em um sebo, autografado e com dedicatória. Acredito que ninguém se livraria de um volume desse. Creio que foi "pilhado" de alguma biblioteca após a morte do proprietário. Um livreiro esperto sem dúvida alguma compraria um "livrozinho encardido e sem importância como esse", certamente pagando uma ninharia. Uma pena o que fazem com livros de uma família, após os falecimentos de alguns de seus membros. Gostei, em especial, de ter encontrado o exemplar em muito bom estado, inclusive com a sobrecapa; e esta é importante, considerando que o encadernado não tem ilustração impressa na capa dura. O papel é de ótima qualidade e não amarelou demais com o tempo. Um jóia em minha coleção! Adoro essa obra magnífica de um autor genial.

Não vou escrever tanto aqui, pois noto que pouca gente se interessa por postagens longas. Assim, seguem imagens desse volume, onde algumas legendas explicativas se fazem necessárias. Sei que o cartum morreu, assim com a pubicação de livros de arte vem dando seus soluços finais. Mas recomendo conferir um pouco desse trabalho pontual de Ziraldo.






domingo, 19 de fevereiro de 2017

13 [ artbook de Gustavo Duarte ]



Gustavo Duarte era um artista bastante acessível no meio eletrônico. Acompanho seu blogue há anos. Sempre admirei seu traço, especialmente caricaturas. Quando passei a dar atenção a seu trabalho, ele já era bastante conhecido no ambiente jornalístico, em especial, por suas charges esportivas e políticas. Tive o privilégio de lhe comprar duas HQs diretamente, por e-mail, recebendo-as com dedicatórias e ilustrações exclusivas. Eram “edições do autor”, mil por centro independentes. Depois, o artista lançou a ótima Monstros! pelo selo Quadrinhos nas Cia. E tornou-se realmente conhecido do grande público por sua Chico Bento - Pavor Espaciar, da empreitada Graphic MSP.

Desde o final do ano passado, Gustavo Duarte anunciou seu primeiro artbook13. Esse título liga-se à sua carreira de treze anos, em São Paulo, como cartunista. De acordo com o próprio autor, ele teve a ideia do portfólio quando cavoucava arquivos artigos, à toa, e encontrou muitos trabalhos esparsos que poderiam ser apresentados em formato livro. A obra reúne charges, artes para cartazes e panfletos e até uma HQ curta que eu já conhecia e mencionei aqui no blogue: Sem Sal, publicada no primeiro número da péssima Fierro Brasil, uma versão brazuca do título argentino que tenho o desprazer, até hoje, de manter na estante, a título de mera curiosidade teratológica. Como fã do cara, quis esse portfólio. Mas como comprar? Só era vendido em eventos específicos. Algumas pessoas ainda perguntaram ao ilustrador se poderiam adquirir como antes, pelo sítio. Isso em 2013. Até hoje, esses fãs permanecem sem respostas. Enfim: Gustavo Duarte, agora, é um cara do mainstream, está mais badalado, publicando até pela Dark Horse. 

Pelo selo Quadrinhos na Cia também saiu seu segundo álbum: Có! & Outras Histórias. E que venham mais trabalhos editados. Como moro no fim do mundo e não pude comprar a independente 13 em algum evento, tive a sorte de encontrá-la num sebo, em ótimo estado e por preço abaixo da capa. Na página de guarda, há uma ilustração exclusiva e dedicatória: “Paulão, beijo grande do seu amigo Gustavo”. Acho que Paulão não gostou muito do livro e repassou para o sebo por uma mixaria, já que me venderam por R$ 25,00. E graças a Paulão Amigão posso ter este portfólio do Gustavo. Valeu, Paulão; beijo do seu desconhecido Kleiton.

Gustavo Duarte é muito bom. Ele encontrou seu espaço artístico traçando um caminho próprio, num traço específico. Que ele alcance ainda mais nichos, chegue mais longe e mantenha-se sempre em forma, surpreendendo a cada nova publicação. Acredito, todavia, que ele não manterá mais aquele contato bacana com seu público virtual, neste continental País. Quem tiver a sorte de encontrá-lo em eventos onde se promovam seus trabalhos, aproveite.

Abaixo, imagens de meu exemplo, com beijos ao amigo Paulo. :-)




Globe-Trotter e Catálogo de 2014 de Claudius S.P. Ceccon



Eu desconhecia qualquer livro de Claudius Ceccon reunindo seu trabalho maduro, a não ser os volumes de antologia do Pasquim. Reuniões de sua autoria exclusiva, nenhuma. Há bastante tempo esse arquiteto, desenhista e humorista co-fundador do Pasquim dedica-se mais a conteúdo voltado para crianças. Um dia, o Felipe Miranda - que às vezes comenta algo aqui no blog - indicou link com um "mini livro" chamado Globe-Trotter à venda, no Mercado Livre, por R$ 56,00 (além do frete de R$ 6,00). Fora de minha realidade pagar tão caro por um livreto, acabamento canoa de somente 60 páginas (aprox.). Até que, recentemente, por acaso, vi a mesma edição à venda num sebo por R$ 8,00 (oito reais). Comprei na hora. Trata-se de um livreto oferecido como brinde pela farmacêutica Pravaz Recordati Laboratórios S/A. Entre os cartuns em P&B e coloridos, encontramos cinco ilustrações publicitárias do artista para o produto Dinistenile B¹². 

Fiquei satisfeito com a aquisição, considerando o excelente estado para uma publicação de 1969. O único risco é a assinatura do antigo proprietário: um tal de Eduardo, residente em Poços de Caldas, que adquiriu o volume no ano de seu lançamento. Possivelmente, este livrinho era de sua coleção e, após seu falecimento, a família o vendeu a algum livreiro (suponho, apenas). É que, dificilmente, o verdadeiro proprietário de desfaria de algo assim por ninharia.

O título Globe-trotter remete ao típico viajante sem destino. Aquele mochileiro que, dado o primeiro passo, não sabe quanto tempo ficará em um determinado local e muito menos qual lhe será o próximo destino. E sua escolha não foi à toa. Os cartuns e quadrinhos curtos foram agrupados em seções de acordo com os locais que retratam: Rio de Janeiro, Bahia, Amazona, Paris, Londres e México. É o caderno de um viajante, suas anotações. A escolha da ilustração para a capa não deixa de ser emblemática, conquanto não reflita bem o espírito despojado de um verdadeiro "trotador global".

Mais recentemente (julho de 2014), a SESI-SP editora reuniu diversos trabalhados de Claudius com base em uma exposição retrospectiva do autor. O livro, basicamente, é o catálogo da exposição. Volume caprichado, em grande formato e com papel misto de excelente qualidade. Bom bom esquerda caviar que é o autor, a maioria dos trabalhos representa sua defesa ideológica - basicamente, pauta esquerdista - enquanto todos sabemos a lauta vida desfrutada pelo artista.

Página de Globe-Trotter com propaganda encartada.

Página do catálogo SESI-SP.