terça-feira, 4 de outubro de 2022

Baile Perfumado [ 1996 ]


Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis
Vapor Barato - Waly Salomão

Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por uma questão de classe! - Nação Zumbi

O comerciante Benjamin Abrahão Botto imortalizou-se na História devido às fotografias e filmagens com o bando de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, Rei do Cangaço. Para quem esqueceu as aulas de História, cangaço foi um movimento de vanguarda: quando ainda não se falava em facção criminosa (CV, PCC etc.), o banditismo já encontrava-se hierarquicamente organizado no semiárido nordestino. Curiosamente, quando eu era criança, pintavam cangaceiros qual revolucionários. Lampião seria um Robin Hood disneyano em plena caatinga. Lego engano de professores acéfalos que nos doutrinavam a todo custo: foi apenas um marginal excêntrico, entusiasta de simbolismo sincrético, joalheria (colares, broches, pingentes e anéis), boa comida e perfumes caros.

O povo fodido sempre comeu o pão que o Diabo amassou. Não bastando o Estado corrupto e nossos governantes gângsteres, o sertanejo ainda tinha que suportar marginais com roupas espalhafatosas roubando, estuprando e pregando toda forma de terror. Nós, sertanejos, nos acostumamos tanto a tomar no cu que tomamos gosto e, hoje, damos quase 70% de nossos votos a Lula e à sua ideologia macabra. Na falta de Lampião, buscamos outro algoz. Freud talvez explicaria...

Voltemos ao filme. De certa forma, Benjamin Abrahão teve papel importante na derrocada do cangaço. Suas imagens mostravam cangaceiros armados com punhais e armamento ultrapassado. Não havia motivos para o Estado não dar fim a tudo aquilo, com estratégia e armamento de guerra. O que houve já sabemos: numa emboscada bem sucedida no sertão de Sergipe, a maior parte do bando foi trucidada e suas cabeças removidas para exposição itinerante.

E Baile Perfumado é um filme sobre Benjamin Abrahão e sua sanha para conseguir os célebres registros históricos dos cangaceiros, adentrando em mata braba, costurando acordos com coronéis sorrateiros e, quando possível, comendo esposas alheias. E, como também nos diz a História: acabou executado por 42 perfurações à faca.

Assisti a este belo filme há anos e anos, por força de exigência escolar. Gostei do fato de não terem enfeitado os bandidos como se boas pessoas fossem, conquanto recordo bem de professores dando auras místicas ao bando de maloqueiros que viviam entocados no mato igual a animais peçonhentos. Depois, já adulto, o revi. E revê-lo pela terceira oportunidade, após tantos anos, me fez perceber como se trata de produção resistente ao tempo e, mesmo com as limitações técnicas e orçamentárias de época, ainda vale mais a pena do que obras endinheiradas como Bacurau.

Fico por aqui. Abraços marginais e até a próxima.



8 comentários:

  1. Não creio ser um problema nosso, brasileiro. O mal sempre está à espreita. O coração humano é mesquinho. Apenas com meditação nos iluminamos. A erva daninha cresce naturalmente. Abraços.

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  2. Não me refiro à turma da ioga new age descolada. Por meditação falo de jornada intropesctiva. Tentar ser alguém melhor etc.

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  3. professores de história amam bandidos, hehe

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    1. ps - dá uma olhada:
      http://blackzombie.blogspot.com/2022/10/Only-at-Red-Lobster.html

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    2. E hj apanham e são roubados em sala de aula. Não tenho pena.

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    3. Desconhecia esse cineasta de curtas. O cara sepultou o próprio trabalho por medo de processo? E pq raios gravou? Kk

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    4. " pq raios gravou?" talvez porque a ideia era boa demais pra deixar passar.
      a pirataria vai manter o curta vivo pela web

      abs!

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    5. Tá correto. Foi força se expressao. Mas ele tb pode dar uma força à pirataria, semeando seu trabalho em HD.

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