sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Recado telefone sem fio a Adolf

 

Valorize seu dinheiro.


Não se pode traduzir sem dignidade.
Millôr Fernandes

Antes de mais nada, para quem desconhece a brincadeira telefone sem fio, onde a informação se perde em sua transmissão, confira a Wikipédia.

Acho que poucos se recordam, mas a editora Pipoca & Nanquim nasceu como um portal, há alguns anos. Em seu primeiro ano de funcionamento, fui colaborador do espaço, chegado a publicar algumas matérias, ali, sobre cultura pop em geral. Era o melhor site do gênero. Tenho saudades, especialmente, da seção Minha Estante, onde alguns leitores mostravam suas prateleiras e rememoravam histórias de leitor/colecionador de quadrinhos e apontavam aquelas edições mais especiais.

Hoje, o P&N é uma editora que capricha em suas publicações, totalmente voltada ao público endinheirado, colocando à venda publicações caras e caprichadas, com excelente acabamento e projeto gráfico "do bão". Sou grande defensor do capricho editorial. Falei bastante aqui que, em tempos de leitura digital gratuita e com a oferta de dispositivos cada vez melhores e mais acessíveis para ler scans, o material impresso deve atrair pela qualidade gráfica. Obviamente, estou inserido no que chamam de classe média e posso pagar por isso em modestas parcelas no cartão de crédito. A maioria, não. Contudo, penso que o discurso hoje difundido por editoras como a P&N não condiz com seu público pagante, tampouco com o poder financeiro que certamente a empresa possui e o quanto seus donos lucram com isso. Não me estenderei muito sobre tal assunto. Acerca disso, recomendo a postagem Ayako, O Relatório de Brodeck e o ceticismo.

Acredito que, cada vez mais, os admiráveis mundos previstos por George Orwell e Aldous Huxley podem ser ser vistos em diversas esferas da informação. Nos quadrinhos, gosto bastante de usar como exemplo o que se tornou a Turma da Mônica, e.g.. No romance 1984, por exemplo, o vocabulário é flexível de acordo com aspectos sociais para atender à agenda do totalitarismo socialista ali descrito. Exemplo: não existem palavras como ótimo ou excelente. Você utiliza fórmulas que laceiam a mente humana (novilíngua). Se algo é ótimo, seria plusbom. Excelente? Dupliplusbom. E por aí vai. As histórias também são reescritas, das mais banais aos cânones. Assim, na criação de Maurício de Sousa (grande representante, hoje, do progressismo extremo em ação), não existe a palavra “azar”, por exemplo, mas, sim “má sorte”. Os requadros são modificados e armas desaparecem, dentre outros objetos. Houve uma história em especial onde o Dudu brincava com arma de brinquedo. Apagaram a pistola de plástico e ele, então, estava disparando água pelos dedos (!). A coisa é por aí, ladeira abaixo e sem freios. É supernormal, numa sociedade desmiolada, garotos disparando água pelos dedos, quando brincam de caubóis, e com medo de falar a palavra "azar".

Recentemente, a P&N chegou ao cúmulo de editar Recado a Adolf com falas inventadas, com o único intuito de atacar o Presidente da República, sendo notório o engajamento político de alguns do pipoqueiros com outras ideologias. A infeliz fala do Presidente da República, ao citar seu histórico de atleta, está agora inserida na obra monumental de Osamu Tezuka, falecido em fevereiro de 1989, que nunca conheceu Bolsonaro e, aliás, sempre se mostrou simpático ao conservadorismo norte-americano, que de certa forma apressou a modernização do Japão quase feudal quando da ocupação do território nipônico. Foram os valores ianques pró indivíduo (não coletivistas) que precipitaram o fim de oligarquias caquéticas. Recordo que, quando pressionaram a ex companheira de Tezuka para que processasse a Disney por o Rei Leão (plágio de seu Jungle Taitei), a mesma recusou-se e afirmou que Osamu se sentiria honrado com tudo, entusiasta que era da cultura americana, seu povo e, especialmente, de Wall Disney.

Além dos aspectos politiqueiros dos editores, o viés ideológico medonho presente nessa infeliz "tradução" também pode ser visto num mero acesso ao Twitter da tradutora. E olha que foi a mesma tradutora responsável pela coleção Adolf da Conrad.

A fala escolhida a dedo pela tradutora foi colocada especificamente na boca do moribundo Kauffmann, diplomata nazista residente no Japão cuja fidelidade canina ao Partido é irreprochável. E, como sabemos, o Presidente Bolsonaro já foi até mesmo rotulado de nazista por essa turma por tomar um copo de leite durante evento de streaming. Um dia, talvez, os aguerridos "progressistas" conhecerão o que foi o nazismo, seu nacional socialismo não-marxista, planificação econômica e domínio do Estado sobre todos os aspectos da vida mais privada do cidadão. Até lá, infelizmente, continuarão fazendo lambança até mesmo na publicação de meros gibis.

A situação fica mais medonha quando, logo na primeira página do primeiro volume, vê-se a seguinte observação: "Devido à sua natureza histórica, todas as expressões usadas na época e retratadas aqui forma mantidas em respeito ao autor, levando-se em consideração seu contexto histórico". Poderiam ao menos ter a hombridade de alerta justamente sobre o contrário: que o texto modificar-se-ia ao sabor do mero querer dos envolvidos. No discurso do Führer, ainda, deram um jeitinho para incluir a expressão "cidadão de bem", em típico ataque aos eleitores do atual Presidente desta republiqueta. E abro aqui parênteses para destacar essa aversão da turma do progresso a tal expressão. Para tais pessoinhas cujas mentes foram laceadas por ideologias macabras, não há distinção entre o jovem incel classe média que passa o dia em frente do Playstation e o guri, no morro, traficando drogas com fuzil nos ombros e uma dúzia de mortes nas costas.

Aliás, falando em citação infeliz do Presidente, me pergunto, hoje, onde ele errou, a não ser no tato grosseiro. A nova doença está aí, matou e continuará matando como tantas outras. Eu e toda a minha família já tivemos covid-19, inclusive meu pai septuagenário. Para nós, foi como uma gripe. Para mim, uma gripe de três dias. Pessoas morreram neste planeta? Sim. Doenças matam. Da China virá, talvez, a Covid-20-21-22-etc. Preparem-se. Mas o que estamos fazendo agora? Tudo o que fazíamos antes, especialmente nos amontoados em eventos políticos municipais, mesmo sem vacina e tampouco cura. Os bares estão funcionando, academias e tudo mais. Não mudou porcaria alguma a não ser a fraldinha inútil na cara. Estrangulado, o mercado precisou retornar à rotina. Apenas servidores públicos estão ainda se dando o luxo de não trabalhar, em algumas esferas. Ou fingindo que trabalham.

Enfim... Não importa se alguém saudará a mandioca, falará sobre marolinhas econômicas ou estocagem de vento. Não se deve alterar o texto de um autor (especialmente falecido), com nítido afã de fazer proselitismo politiqueiro, seja para qual lado for. Foi apenas um requadro (um mero balão), por enquanto. Contudo, eu que não pagarei para ver até onde essa insensatez editorial chegará. Falei antes e repito: poupem sua grana, dentro do possível. Meditem bem se gastarão com papel impresso. Tudo é entulho e a vida é curta. A grana aportada em obras impressas podem verter em passeios, idas a restaurantes e até mesmo numa reserva emergencial. As editoras não respeitam seus leitores, nunca fizeram isso. Hoje, há muita oferta de leitura “de grátis” por aí. Sempre fui contumaz consumidor de papel e, hoje, consegui reverter isso. Há poucos meses ainda cheguei a comprar alguns títulos físicos, mais para matar a saudade de comprar em livrarias, pois efetuei algumas viagens a outros Estados e, nelas, dei aquela velha conferida nas megas e pequenas livrarias por aí, cada vez mais em frangalhos. Via de regra, hoje, prefiro investir meu suado dinheirinho num café de qualidade para acompanhar a leitura de livros e HQs no meio digital, no Kobo e no tablet. Ou num bom charuto. Não posso comer, beber e fumar no meio virtual. Mas ler, posso.

Este é o meu breve ponto de vista sobre o assunto. Mas, se você quer comprar cada vez mais papel para dentro de sua casa, vá fundo. Eu seria hipócrita se fosse incisivo em contrário, considerando que, aos poucos, ainda compro. Contudo, trabalho nisso: cada vez mais comprar menos e menos, até parar definitivamente. Como dizem os engajados esquerdinhas: "menos é mais". Sigam essa regra.

Abraços espúrios e até a próxima.


11 comentários:

  1. Olá Neófito. Este é um tema que adoro, se livrar de papel; rs!!

    Nestes últimos meses venho fazendo uma faxina mental do desapego. Conforme disse em algumas postagens, venho me desfazendo de alguns livros. Comecei por alguns mangás que não estavam completos e que, até onde sei, não mais lerei. Depois fui para alguns livros que não achava dignos de estante, apesar de já ter lido anteriormente. Deixei somente aqueles com quem tive uma conversa digna, que me trazem uma lembrança boa e uma vontade verdadeira de ler.
    Depois fui para os livros didáticos. Guardei uma penca deles durante a faculdade, acreditando que um dia seriam úteis (física,química, matemática, e alguns de português para concurso que nunca toquei). Mas como (se esse dia fatídico chegar!!) os usarei somente para consulta, baixei versões online dos mesmos e criei uma biblioteca virtual num HD externo.

    Cada vez mais enxuta ficam minhas prateleiras. Os livros que pretendo adquirir sempre procuro na internet primeiro. Gosto de ler na língua materna dos autores, e vira e mexe a tradução é horrível. Prefiro não entender muito bem o verdadeiro que ser enganado pelo mentiroso. A título de exemplo, estava querendo ler um livro do psicólogo Jordan Peterson: maps of meaning (que escreveu o livro "12 rules for life", que gostei bastante e li online). Procurei na amazon e estavam pedindo a bagatela de 500 reais. Procurei na internet e achei grátis em pdf. Ainda não o li, mas já está nos próximos da lista.

    E o dinheiro arrecadado nessas economias, apesar de não ser muito, dá pra fazer algo de diferente. Talvez comprar um café ou assistir um filme no cinema, quando esta loucura passar.

    É interessante como alguns livros bons são mal traduzidos de propósito. No caso que você coloca, acho que foi orquestrado colocar a fala do presidente, mas acredito que muitos livros são mal traduzidos pois os autores carregam seus preconceitos para a tradução. Acho que é normal, mas se não se adéquam aos meus, me sinto lesado por não gostar de um autor por motivos além da sua escrita, tal como a visão de mundo do tradutor.

    Quanto ao Covid, acho que foi uma das maiores histerias da história. Nada mudou e nem mudará. As tecnologias avançam, as cidades mudam, mudam-se os produtos vendidos, as lojas, os bares, os prédios, as arquiteturas, mas não muda o fato do ser humano ser dependente de contato e falar besteira para os outros. O ser humano, em sua grande maioria, é um animal arrogante, acredita piamente que sabe tudo por ter visto notícias, e que os outros estão sempre errados.
    O mundo continua o mesmo, só vai mudar se cair um meteoro, como aconteceu com os dinossauros.

    Inclusive, esse é um passatempo bem interessante, imaginar outros meios que a natureza teria para destruir este planeta. Um dos mais divertidos são os super vulcões, que se entrarem em erupção, farão a terra congelar. Uma ironia, pois estamos aquecendo ela com o famigerado fervilhamento global e os buracos no ozônio. Fico imaginando esses ativistas, se algum sobrevivesse, vivendo neste mundo gelado com o céu branco de fuligem.

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    1. Olá, Matheus. Como está? Espero que bem.

      A gente se ilude sempre achando que releremos tudo, ou então caímos no engodo de que vale a pena guardar aquela edição mais importante às nossas vidas. Foi tanta coisa importante que nem sei como selecionar. É raro relermos algo. Esses dias, andei relendo Daniel Clowes. Mas fazer isso é algo bem pontual e nada impede que tal releitura se desse no meio eletrônico.

      Não busco repassar meus livros e gibis, hoje, devido a uma grande preguiça. Moro nos rincões e precisaria ficar enviando tudo via Correios, além de topar com gente chata oferecendo mixaria por coisa até difícil de encontrar e que custou até mesmo caro. Também passaria para frente alguns brinquedos, mas aí é pior ainda quanto à logística. Esses dias, um busto que custa quase quatro mil reais caiu no chão e se espatifou. Ao observar aquilo, percebi como alocamos grana em coisas frágeis. Era o busto sideshow do Exterminador.

      Sei que me mudarei para longe em algum momento e transportar tudo isso será problemático. Mas, se me mudar com tudo, farei questão de alocar algum local e pronto, só pelo trabalho dado. E possuo minha filha. Talvez ela se interesse. Ou, mesmo não se interessando, dê algum destino a tudo.

      Livros acadêmicos despachei há anos e anos. Doei. Livros pesados e desatualizados. Qualquer dúvida profissional, consulto o Google e pronto, problema resolvido.

      Tradução é técnica, é conhecimento profundo da língua, dedicação e honestidade. Recordo uma entrevista onde Millôr, também tradutor, destacou que não temos traduções, mas sim falcatruas. Há alguns anos pesquisei o assunto e me dei o trabalho de conferir alguns trechos de várias obras por vários tradutores. Me senti enganado.

      Sobre covid, uma médica conhecida nossa falou algo interessante há algumas semanas. De acordo com ela (grupo de risco, já teve câncer, vive sob medicação etc.), a loucura está matando mais do que o vírus, e citou alguns casos presenciados por ela, a exemplo de suicídios. Mas foi, sem dúvidas, o melhor instrumento de controle social nas mãos dos totalitários.

      Acho que, antes da fuligem bloqueando a luz solar, nos dizimaremos com algum patógeno surgido “por acidente”, de acordo com a OMS.

      Também ando me assombrando com alguns valores de livros importados. E olha que possuem imunidade tributária. Vi um de arte eletrônica, esses dias, por quase três mil e quinhentos na Amazon. Loucura.

      Possuo um débito com Jordan Peterson . Queria conhecer melhor seu trabalho.

      Abraços e bom fds!

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    2. Quanto ao Jordan Peterson, acredito que seja interessante começar pelo 12 rules for life (ou 12 regras para a vida, em português).

      O livro é bem fluido, fácil de ler, e interessante. Sempre gostei desse tipo de leitura psicológica, talvez por eu ser mais fechado e sentir dificuldades no contato direto com as pessoas, tentar entendê-las fosse um passo óbvio para alguém como eu.

      Não cheguei a ler o maps of meaning ainda, dizem que é a versão maior do 12 rules for life, onde ele fez a grande pesquisa dele, com várias referências mitológicas e bíblicas para fazer paralelos.

      Sempre achei o J.Peterson muito honesto. Ele não esconde que é depressivo, joga logo na cara que ele tem seus próprios problemas, e que quem lê também os têm, e que deve sempre tentar buscar uma solução, ainda que pequena, para trazer ordem ao caos, tal como a ideia de arrumar primeiro o próprio quarto.

      Gosto de recorrer a leitura deste livro quando me sinto meio mal, pois de alguma forma sei que alguém também já se sentiu do mesmo jeito em algum lugar e em algum momento, na verdade, muito provavelmente, alguém se sente pior e mascara.Traz uma leve sensação de pertencimento, que existe alguém com ideias parecidas em algum lugar do planeta.

      Não sei se você utiliza o libgen, mas é muito bom para achar livros. Lá você consegue achar os livros do Peterson em PDF e em EPUB (as vezes). Não sei se conhece a ferramenta, por isso vou deixar o link abaixo:
      http://libgen.rs/
      Só colocar o nome do autor ou do livro que, se tiver, já aparece.
      Valeu, abraços e um ótimo fds.

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    3. Não apenas não o utilizo como, até agora, desconhecia a ferramenta.

      Tenho um amigo de infância que é leitor de J Peterson. Já tentei convencê-lo a escrever algo aqui para o blogue, ficar mantendo alguma espécie de coluna. Além de grande conhecimento sobre diversos autores e filosofias (e teologia), é uma das pessoas que conheço que melhor sabem escrever. Espero que um dia ele aceite o convite.

      Abraços!

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    4. Poxa, uma coluna assim seria uma boa! Eu gostaria de ler. Espero que ele aceite algum dia.

      Quanto ao Libgen, guarde nos favoritos kkkk tem quase todo livro lá, de todos os tipos. Tem até HQ, mas muitas não ficam legal pra ler se não for em PDF, então precisaria converter.
      vou deixar outra também, onde dá pra achar os clássicos, que já não tem mais direitos autorais:
      https://www.gutenberg.org/
      Dependendo do livro tem até Audiobook. São boas ferramentas para o leitor assíduo fugindo de altos custos kk

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    5. Ah, o projeto Gutenberg conheci há anos e anos, não desde que nasceu, mas desde que passou a ser divulgado em revistas como Veja, IstoÉ etc., quando o acesso à internet ainda era precário e eu mesmo precisava de conexão discada!

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  2. cofrei a edição , mas achei absurda essa liberdade de tradução

    continuo consumindo scans e minha melhor opção atualmente é o hub (mochileiroshqs.duckdns.org:1209) dos mochileiros dos quadrinhos (http://mdhq.blogspot.com/)

    para livros prefiro outro site:

    https://b-ok.lat/s/?language=portuguese&extension=mobi&order=year&regionChanged=&redirect=38690490

    abs!

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    1. Olá, Scant!

      É uma bela edição. A editora capricha em todos os seus trabalho. Nunca vi edição capenga da Pipoca. Mas alterar diálogos ao querer de um grupelho... Cada vez mais entendo Millôr Fernandes quando afirmava que consumíamos falcatruas, e não traduções.

      Chegará um momento onde terei medo de ler qualquer HQ do Pipoca porque não sei se estou lendo uma tradução ou os devaneios dos tradutores.

      Em regra, o LeLivros me supre, diante das banalidades que baixo. Mas a sugestão está anotada.

      Quanto a HQs, vou catando livremente por aí...

      Abraços!

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    2. Aliás, vai que até eu compre, percebendo que está sobrando grana no final do ano e pq adoro o autor. Aliás, Ayako foi um dos melhores gibis q ja li e lerei novamente. Mas a mensagem do post é essa: cautela com essas editoras.

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  3. Comentário certeiro! O que posso dizer!

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