Dois caçadores dividem uma barraca. Um deles pergunta:
-E se aparecesse uma onça agora?
-Eu dava um tiro nela.
-E se você estivesse sem arma?
-Usava o facão.
-E se você estivesse sem facão?
-Subiria numa árvore.
-E se não tivesse árvore?
-Correria.
-E se você estivesse paralisado de medo?
-Pô, você é meu amigo ou amigo da onça?
Olá, coleguinhas. Como é bom ler os clássicos. Não apenas da literatura, mas também das HQs. Ontem, fiquei com O Amigo da Onça, obra imortal de Péricles, publicada durante mais de duas décadas na revista O Cruzeiro. O álbum que tenho é da editora Busca Vida (extinta), publicado em 1987. Apenas algumas ilustrações foram coloridas. A maioria foi adaptada para "tons de cinza", a fim de economizar. Este livro tem prefácio de Millôr Fernandes (um dos craques de O Cruzeiro) e um belo trabalho abordando vida e obra do autor, assinado por Jota. Na introdução de Jota, há depoimentos de Ziraldo e Fortuna. E é impressionante como o Ziraldo sempre parece esnobe, quando lemos seus comentários acerca de qualquer assunto. Mas tanto faz, mais esnobe que ele foi o Millôr. Sou amante da arte, não de artistas que nunca vi nem nunca verei. Aonde vai a relação entre os dois, não sei e é assunto para Filosofia que não me interessa.
Voltemos a O Amigo da Onça. O personagem foi chupado de El enemigo del hombre, da revista argentina Patoruzu. Por sua vez, esta revista pegou a ideia da Esquire americana, que publicava The enemies of man. E, no final das contas, quem não conhece a velha piada acima? Não se nega que, naquela década de '50, os cartuns de péricles fossem os trabalhos de humor mais conhecidos de nossa republiqueta. O sucesso foi instantâneo e duradouro. Infelizmente, a família dona d'O Cruzeiro, como se sabe, costumava foder seus artistas e escritores, e o Péricles (carinha genial que veio do Recife sem saber a glória que teria no Rio de Janeiro) nunca teve o retorno financeiro devido. De acordo com Millôr, a revista não apenas nunca foi solidária com o artista, como "ajudou a esmagá-lo, até mesmo lhe negando a possibilidade de explorar comercialmente sua criação". Ficou famosa a última frase escrita, quando suicidou-se inalando gás de cozinha em seu apartamento; na porta, mostrando-se como o oposto de sua célebre criação, advertiu: "Não risquem fósforos". O verdadeiro Amigo da Onça, teria dito: "Acabou a luz; acendam um fósforo", penso.
Os cartuns de Péricles são recheados de muita ironia, sarcasmo e bastante humor negro. É curioso que o desenhista tenha se matado, pois abunda tal tema em seus trabalhos. Um grande talento que, infelizmente, nos deixo cedo, no dia de réveillon de 1961. Quando puderem, confiram trabalhos do autor na internet.
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