segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A bela ópera inspirada em Dante Alighieri e que nunca existiu

 

Estatística mais recente deste blogue

Vide cor tuum / E d'esto core ardendo / Cor tuum

Vide Cor Meum de Patrick Cassidy


Magoado e só, / - Só! - meu coração ardeu: 

/ Ardeu em gritos dementes

Epígrafe de Manuel Bandeira

Faz mais de seis meses desde a última postagem nesta plataforma defunta. Ainda gosto deste espaço e as estatísticas me indicam que, por incrível que pareça, ainda há bons acessos. No último mês, foram quase cinco mil. Então é um site que merece permanecer de pé, mesmo que a maioria das pessoas prefiram redes sociais variadas - a exemplo do Instagram - e vídeos curtos como no YouTube, TikTok etc.. Então, enquanto houver acessos, manterei o blog. Mas não me vejo mais no ritmo do passado, com postagens regulares, ao menos semanais. De qualquer forma, pode ser que isso mude. Vai que eu sinta ímpetos, mais à frente, de escrever regularmente? Pode ocorrer. Muitas vezes, não estamos empolgados com algo (música, filme, leituras, escrita e hobbies diversos, v.g.) e, de repente, nos damos bastante a algo até então anestesiado.

Mas vamos lá. Esses dias, reli todos os livros de Thomas Harris onde encontramos o vilão Hannibal Lecter: Dragão Vermelho, em 1981; O Silêncio dos Inocentes, 1988; Hannibal, 1999; e Hannibal - A Origem do Mal, de 2006. Releituras em regra são proveitosas e deveras encontramos no texto - e nas entrelinhas - novas percepções passadas incógnitas à primeira vista. Dessas releituras, surgiram alguns vídeos postados no meu vlog. Então basicamente o objetivo desta postagem é fazer auto-jabá de meu conteúdo. Até porque só tenho a mim mesmo para me divulgar. Entretanto, há algo que queria compartilhar: uma belíssima peça que nunca existiu.

Tanto no romance quanto no filme homônimo - dirigido porcamente por Ridley Scott -, Hannibal assume a vida de Dr. Fell, curador da biblioteca do Palazzo di Gino Capponi. Ali, ele se interessa ainda mais por Dante Alighieri e a obra Vita Nuova é citada algumas vezes. No livro, Hannibal, sob seu disfarce de curador, realmente encontra o casal Rinaldo e Allegra Pazzi numa apresentação pública. Não há detalhes sobre a peça executada, mas passar-se-ia no Teatro Piccolomini, com a Orquestra de Câmara de Florença. Como Allegra observa bastante o libreto, Hannibal/Fell lhe oferece um pergaminho escrito à mão, do Teatro Capranica, de 1688, o ano em que ela teria sido escrita. No cinema, inventaram algo sobre a passagem de Vita Nuova, quando, entre sonhos e suas interpretações, Dante se questiona sobre Beatriz a lhe devorar, literalmente, o coração. A aria Vide Cor Meum foi brilhantemente composta e executada por Patrick Cassidy. Sem saber, ele nos deu alguns minutos da mais bela ópera que nunca existiu - foi tudo criação do compositor, exclusivamente para o filme.

É isso. Só queria movimentar este blogue pelo qual mantenho bastante carinho e dar impulso ao meu conteúdo no YouTube.

Abraços canibais, bon appétit e até a próxima.



sexta-feira, 26 de julho de 2024

O inferno íntimo de Angela Orosco


 - Era como se eu visse o futuro. E o futuro não fizesse nenhum sentido.

 Black Hole de Charles Burns

- O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui.
 
 A Tempestade, Ato I, Cena IIWilliam Shakespeare

- O mundo é o inferno, e os homens dividem-se em almas atormentadas e em diabos atormentadores.

As Dores do Mundo de Schopenhauer

O remake de Silent Hill 2 está prestes a sair do forno e já falei aqui acerca de meu apreço por essa obra prima eletrônica. E andei recordando a personagem Angela Orosco - que aparece pouco durante a campanha, mas cuja triste história nos toca a cada momento.

Assim que começamos a jogatina, tentando encontrar um caminho para entrar na cidade amaldiçoada, passamos pelo cemitério, onde Angela observa as lápides, possivelmente em busca de informações sobre seus parentes: mãe, pai e irmão. Ela nos diz o caminho que devemos tomar. Logo após, a encontramos deitada no chão de um apartamento, segurando uma faca. Esta faca, aliás, nos será entregue e não terá função alguma a não ser permanecer em nosso inventário. Dizem que, se o jogador olhar bastante para a faca, ele terá um final específico dentre os seis disponíveis. No meio do jogo, encontramos novamente a misteriosa mulher e precisamos defendê-la do espectro de seu próprio genitor, cuja forma emblemática remete a abusos sexuais sob cobertas, numa cama estreita. Pior do que essa descoberta é saber que ela também era abusada por seu irmão; e sua mãe lhe atribuía a culpa por tudo.

Já próximo ao final, Angela nos confronta nas escadarias em chamas do Hotel Lakeview. Ela pede a faca de volta, não sendo atendida por nós quanto a isso. Reclama do calor e concluímos que o fogaréu não é físico, mas espiritual, pois James também o sente, sem reparar no possível evento físico à volta. Como na cidade de Silent Hill todos são convocados para confrontar a si mesmos, na vez de Angela, esta não encontrou redenção, apenas entregando-se ao triste fim do inferno íntimo eterno, às chamas da danação.

Silent Hill foi realmente uma grande franquia de jogos eletrônicos. Ao menos é o que posso falar pelos três primeiros volumes. Uma pena que a Konami não se importe com seu legado. É o que parece, após anos e anos sem nada útil do título, o insosso The Short Message (que pelo menos foi disponibilizado de graça) e, agora, com algo que parece um remake mal feito do excepcional Silent Hill 2.

Aguardemos o que está por vir. Vou ficando por aqui. Abraços condenados e até a próxima.

Postagens sugeridas:

a) Silent Hill, culpa e punição

b) O puzzle do piano e gritos de dor