terça-feira, 24 de setembro de 2019

Crowdfunding no Catarse: Francisco Marcatti e Thiago Ossostortos


Imagem de mohamed Hassan por Pixabay

Há alguns anos participo de financiamentos coletivos que realmente me empolgam. Mais para quadrinhos, raramente para outra finalidade. Para cinema, mesmo, colaborei somente em O Jardim das Aflições de meu conterrâneo Josias Teófilo. Para quadrinhos, foram diversos projetos. Alguns infelizmente não vingaram e o artista devolveu a grana. Hoje, entrei em mais duas empreitadas artísticas.

A primeira é a publicação da nova HQ de Thiago Ossostortos, chamada Mjadra e que será realizada toda em arte pintada. Conheço tiras, o gibi Os Últimos Dias do Xerife e a arte em guache do autor. Logo, não poderia ficar de fora. Aliás, gosto tanto da arte do sujeito que lhe encomendei pintura em tamanho grande de minha família, recebida pelos Correios numa embalagem cilíndrica e emoldurada segundo minhas especificações, com direito a paspatur e vidro antirreflexo, para ficar na sala de jantar de minha residência.

A premissa da HQ do Thiago é interessante e encontrou ressonância emocional em mim: "Um ex-VJ de um canal musical, um quarto e um recomeço. E a suspeita de que roubaram sua juventude.". Cresci vendo MTV Brasil. Adulto, continuei acompanhando sua última grande fase antes do encerramento devido ao início da crise Abril. Vários VJs fizeram parte de minha vida e não raro me interesso em saber por onde andam. (Dizem que a MTV Brasil ainda existe, embora eu ache que não!) Além disso, à beira dos quarenta anos, também acho que alguém roubou minhas saúde e juventude. No entanto, ponho a cabeça no lugar e me lembro: apenas vivi esta última e envelheci, nada mais. Tudo passa, tudo acaba. Cada coisa a seu tempo e, hoje, ademais, consigo me sentir bem melhor com a vida do que aos meus vinte anos de idade. Acho que será um ótimo gibi...

O segundo trabalho é de meu amado Marcatti. Tenho algumas HQs desse cara, o qual leio desde criança; guri, mesmo, quando meu irmão trazia para casa algumas publicações mais maduras. Já havia escrito sobre Marcatti no blogue anterior e ficava curioso quando alguém comentava que o desconhecia, mesmo sendo leitor de quadrinhos. Acho isso uma pena. Curto tanto o trabalho dele - seus ótimos argumentos e arte única - que mantenho, sobre meu computador, quadro com print autografado. Desta vez, ele republicará A Relíquia, sua adaptação de Eça de Queiroz para os quadrinhos, anteriormente publicada pela Conrad num volume único em 2007. A nova edição trará a história em fascículos acondicionados numa caixa de MDF emulando caixa de charutos.

Recomendo a quem quiser conhecer melhor sua obra comprá-la no site do autor. Se existe um quadrinista puro em sentido estrito, este seria Francisco Marcatti. O cara escreve, ilustra, arte-finaliza, imprime tudo em off set dentro de sua própria oficina, refila, monta, cola, vende em seu site e te envia pelos Correios. Nunca li HQ sua ruim ou mediana. É tudo perfeitamente escatológico do início ao final. Indico sobretudo a graphic novel Mariposa, a qual teve republicação pelo próprio autor. A edição que possuo é da Conrad (2005) e afirmo ser um dos melhores gibis já lidos. Não apenas dentre quadrinhos nacionais. É um dos melhores gibis em geral, e olha que não li pouca coisa. Não estou exagerando. Até hoje, não me chegou às mãos outro quadrinho que, numa trama escatológica - transitando por miséria, dejetos humanos, pedaços de cadáveres e fluidos corporais -, pudesse ser amarrada ao final de maneira onírica e quase poética. É quase como o realizado por Alan Moore e sua esposa Melinda Gebbie com a pornografia em Lost Girls (vide aqui e aqui).

A caixa em MDF onde virá a HQ será autografada com pirógrafo. Por falar nisso, vi trabalhos de Marcatti em aerógrafo e algumas guitarras frutos de sua faceta luthier. O artista é multitarefa, se sobressai bem em tudo.

É isso. Creio que realmente valerá a pena o investimento e por isso deixo a sugestão. Além disso, destaco que um dos prêmios de Ossostortos para os apoiadores (compradores por antecipação, enfim) é pintura em guache, em diversos tamanhos. Como falei acima, gostei da feita para mim, com minha família (foto abaixo).

Para colaborar, acessem A RelíquiaMJADRA. Como está no print abaixo, aportei R$ 160,00 no primeiro porque pretendo obter, além da obra principal, a HQ brinde Inês & Pedro. No segundo projeto, fui de apenas R$ 35,00 porque a pintura não me interessa no momento, vez ter obtido a minha por encomenda. Mas sugiro que optem pelo kit caldeirão, com R$ 320,00, pois terão de mimo o retratão de 50 x 70 cm em guache.

Abraços e até a próxima.







13 comentários:

  1. Eu comecei a me aventurar nas leituras de HQs tem pouco tempo mas tenho curtido muito a experiência. Não conheço nenhum dos autores que citou e também nunca participei de fundos para ajudar algum artista, porém se tivesse como eu ajudaria com toda a certeza. A arte é algo que na minha opinião vem perdendo um pouco de espaço e você faz mais do que bem em ajudar. Gostei do estilo deles, bem diferente das poucas hqs que li. Qual autor nacional você indica para quem começou a leitura de HQs há pouco tempo?

    Abraço,
    Parágrafo Cult

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    1. A vida sem arte seria muito pobre. Creio que arte faz parte do sentido da vida.

      O estilo de Marcatti, sobretudo, é algo realmente único, traço desenvolvido por ele há décadas. Quando um artista consolida SEU estilo, é arrebatador. Mais ou menos como Ziraldo e seus homens com pés de ferro ou Flávio Colin.

      Por falar em Colin, é um artista que recomendo. Falecido há tempos, você pode baixar boa parte de seu trabalho por aí e ler tudo em tablet. Tablet é uma ferramenta que salva minha vida quando o assunto é HQ nacional, pois vivo muito de ler e reler os grandes mestres do terror/horror nacional, onde mais o Brasil se destacou no nicho quadrinhos. E só por arquivos de publicações antigas você pode lê-los. Recomendo demais títulos como Seleções Assombração, Terror da Taika, Calafrio e Mestres do Terros da D-Arte etc...

      Então vamos lá, minhas sugestões: Laerte, sempre. Depois, seu amigos Angeli e o saudoso Glauco. Isso no humor. Também recomendo Lourenço Mutarelli, em especial as HQs Diomedes, A Caixa de Areia, Mundo Pet e Quando Meu Pai Se Encontrou com o E Fazia Um Dia Quente. Gosto de alguns trabalho, também, de Mozart Couto. Danilo Beyruth também nos dá boas HQs. Não sou tão impressionado com Marcelo Quintanilha como a maioria, mas seus álbuns são bons. Tb curto o Gustavo Duarte e seus quadrinhos mudos, Estevão Ribeiro, André Dahmer (este, com tiras diversas, quando não tenta dar pitaco sobre política)...

      No geral, você precisa garimpar boas HQs nacionais. Não são muitos os caras que conseguiram consolidar uma obra extensa. A maioria sempre publicou pequenas histórias em antologias e alguns poucos volumes solos. Hoje em dia, o selo Graphic MSP (Turma da Mônica) vem apresentando autores e artistas nacionais ao grande público. E, ali, percebo que há os quadrinhos nacionais vão mal, atualmente. É o que acho, claro. Mas você pode simpatizar com o trabalho dos caras.

      Em resumo: como vc é leitora de terror/horror, te recomendo essencialmente buscar obras desenhadas por Flávio Colin, que sempre manteve boas relações com ótimos roteiristas. Tb garimpe a esmo gibis escritos por R. F. Lucchetti e desenhados por Nico Rosso. O que achar de Zé do Caixão, tb é legal.

      Abraços!!!

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  2. "pintura em tamanho grande de minha família," - ideia top, nunca tinha pensado nisso

    "MTV Brasil" - na época do UHF, raramente pegava lá em casa. azar o meu de morar no fim do mundo

    "Marcatti" - escatológico demais para mi, mas vou dar uma lida em Mariposa

    "A caixa em MDF autografada com pirógrafo" - nessas horas penso pq as grandes editoras abandonaram o hábito de dar brindes. Hoje em dia dificilmente rolaria um mísero box para guardar edições


    - scant

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    1. Sempre quis ter a pintura da família em casa. Mas não queria aquela coisa batida, realista, a óleo. Aí quando vi o trabalho em guache desse cara, disse a mim mesmo: é assim que quero! E o preço está muito bom, pois inclui o frete para sua residência.

      Em tempos onde o cara baixa livros e quadrinhos e os gadgets estão cada vez melhores, o meio impresso precisa dar prazer sensorial. Insistir em brochuras vagabundas é agravar a crise editorial. Sempre admirei Marcatti por ter dado um pé na bunda das grandes editoras.

      Abraços, Scant!

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  3. Salve, Fabiano.

    Adoraria ter conhecido o cara. Espero que vc tenha ido ao evento e comprando ao menos um gibi autografado.

    Olha só quem vc me lembrou... Eberton Ferreira. Te confesso que tinha esquecido totalmente de tentar acompanhar o trabalho do cara. Sempre o achei excessivamente gore. Mas curto demais o gore.

    Vou procurar algo do Eberton Ferreira novamente e vê até mesmo se há projeto dele aberto para financiamento coletivo ou se ele está vendendo algum álbum.

    Abraços, Fabiano.

    P.s.: um dia faça crowdfunding para suas HQs!

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  4. Falando em gibis de terror brasileiro, uma boa opção é procurar conhecer, se é que já não conhecem, as revistas de terror publicadas pela defunta Editora Vecchi no final dos anos 70, começo dos 80: Spektro, Sobrenatural, Pesadelo, Histórias do Além, que reuniam um timaço de desenhistas: Flavio Colin, Julio Shimamoto, Nico Rosso, Jayme Cortez, Eugenio Colonnese, Watson Portela, Elmano Silva, etc, etc. A revista era editada pelo Ota, aquele mesmo da Mad. Flávio Colin era gênio: a série Hotel Nicanor,escrita pelo Ota era um barato! Só mesmo no Brasil para um artista do porte dele ser praticamente desconhecido. Quem sabe algum dia aparece um projeto com a obra dele no Catarse... Claudio

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    1. Nossa... conheço e bem. Leio e releio essas publicações em formato digital REGULARMENTE. Gosto de ir pro sítio da sogra com o tablet e ficar lendo essas revistas na rede... Antigamente eu imprimia tudo e encadernava. Aliás, tenho três encadernados artesanais de Flávio Colin impressos em papel sulfite em impressora a laser. Sou grande fã de todos esses nomes citados por você. Tenho, aliás, álbuns em bom estado de Jayme, Colonnese (Mirza), Mozart Couto (Morto do Pântano), Watson (Paralelas), Shimamoto (Madame Satã etc) etc. Só parei de garimpar há anos porque não vale a pena. Caros e em mau estado. Por isso opto por scans. O Ota, depois, tentou emplacar mais material, como a coleção Assombração... Hotel Nicanor de Ota e Colin é uma obra prima! Quando eu era criança tínhamos muitas Calafrio e Mestres do Terror da D-Arte em casa, devido à idade mais avançada de meu irmão que trazia essas publicações, geralmente, de bancas de usadas (sebos de meio de feira-livre). Abraços, Cláudio!!!

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    2. Olá! Parabéns pelos encadernados artesanais do Colin!!Você já postou eles aqui?Esses gibis da Vecchi fazem parte da minha infância. Os da D-Arte conheço pouco. Já era mais velho na época e não me interessei muito.Achava meio clichezão, sei lá... mas a arte era muito bonita. Os da Vecchi eram mais zueira, aliás a Vecchi era a maior zueira, vide a saudosa MAD. Tenho muitos gibis da década de 70, que se tornaram tóxicos, rsrs. Papel de quinta categoria. Algumas Kripta não consigo chegar nem perto, os olhos começam a lacrimejar, cheiro fortíssimo.Aliás sobre a Kripta, comprei os da Devir e Mythos. Pena que a coleção anda muito devagar, até chegar a fase que foi lançada no Brasil que cobre a chamada "Invasão Espanhola da Warren" vai demorar, se é que vai chegar lá... Bem, por enquanto é só pessoal! Abraços!!

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    3. Os gibis da D-Arte de minha infância se perderam para o mofo, pois até os 16 anos residi numa cidade mais fria e úmida, localizada no agreste. E confesso que não ligávamos para conservação. Era só lendo e jogando para o lado, trocando com amigos ou em sebos (duas ou três por uma).
      Ainda comprei essas da Devir e Mythos, mas parei. Ando numa fase de comprar poucos gibis e me dar mais à leitura digital: espaço, grana e, principalmente, para dar uma banana às editoras que sempre tripudiaram sobre nós.
      No blogue anterior, havia postagem sobre esses encadernados. São simples: papel colado pela lombada e encadernado em percalux vagabundo. Mas o resultado ficou bacana. Há uns anos, uma turma fez packs com histórias do Colin e postou. Imprimi tudo, pois não gostava mesmo de ler em formato eletrônico. Hoje, com tablets de 10.5" e iluminação mais inteligente, vale a pena.
      A Ópera Graphica publicou muita coisa desses mestres nacionais. Aliás, alguns exemplares numerados e autografados. Ainda mantenho alguns na estante.
      Você disse algo que concordo: no meio desses gibis, na fase áurea dos quadrinhos nacionais com o terror como carro chefe, havia bastante lixo. Mas, também, garimpávamos material interessante. Ainda hoje me surpreendo com a qualidade de algumas publicações.
      Qualquer dia, penso em algo para escrever ou filmar sobre HQs nacionais. O problema é a ausência de tempo...
      Abraços, Cláudio e, mesmo tóxicos, cuide bem dessas revistas!

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    4. Ah, uma vez juntei dezenas de revistas meio mofadas e fedidas e meti no microondas. O resultado foi satisfatório!!! A maioria era da Fractal/Tudo em Quadrinhos/Metal Pesado.

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    5. Opa, essa do microondas não sabia rsrs. São revistas com 40 anos, acho que não vai funcionar não kkk. Nunca li em formato eletrônico (não tenho tablet)apesar de ter toda a coleção da Creepy e Eerie em inglês em formato .cbz. Se estiver interessado é só falar... Muito legal essa ideia de imprimir e encadernar. Um compêndio de Colin e Shimamoto seria fantástico! Escreva ou filme sobre gibis nacionais sim, se forem de terror melhor ainda rsrs... Abraços

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    6. Compre um tablet grande e se dê à leitura eletrônica. Em uma semana você se acostumará.
      Farei algo a respeito, nem que seja uma postagem simples.
      Sobre as HQs em inglês, topei com muito material Creepy/Eerie e inglês, compartilhado via torrent, mas desisti de continuar devido ao tempo (não leria boa parte, no final das contas) e porque leio muito devagar em inglês, infelizmente. Mas fico grato pela oferta! Se seu problema for mofo, penso que, mesmo com tantas décadas, o microondas não estragará o papel. Quando se sentir seguro, faça o teste com um exemplar. Parece doidice, mesmo. Mas não é que dá certo? Abraços!!!

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