quinta-feira, 25 de julho de 2019

Arte, Design, Publicidade e Propaganda [ Livros ]



Esta postagem não saiu bem como premeditei. Acabou ficando extensa e, mesmo assim, muita obra de meu acervo ainda restou de fora. Não consegui ser resumido e, talvez, precise de uma segunda parte. Achei complicado tentar condensar muita informação numa única postagem, bem como mostrar tantos livros ao mesmo tempo, de forma coesa. Além disso, os assuntos abordados não são a "minha área" e corro o risco de falar muita merda a respeito dos temas. Mesmo assim, estou publicando esta "matéria", por assim dizer. Possivelmente, alguém se interessará por ela ou por algumas obras aqui exibidas. Se isso ocorrer, terá sido proveitoso. É isso. Vamos em frente.

No documentário A Paisagem Mental de Alan Moore, o ermitão inglês, ao se autodeclarar mago, afirma que xamãs da atualidade são jovens cheios de boas ideias que se dedicam a manipular signos em favor da publicidade, para vender algo. Como se trata de Alan Moore, ele não deixar de citar isso com viés negativo. Penso que essa discussão não seja relevante. Sou admirador do trabalho de grandes publicitários e designers gráficos que dedicam seu talento e neurônios à produção de campanhas inteligentes ou à elaboração de identidades visuais marcantes. É um meio sobre o qual não conheço nada. Apenas dedico algumas horas à fruição consciente dos trabalhos desses xamãs. Falo "consciente" porque, de maneira desinteressada, estamos sempre recebendo a informação que eles espalham em nosso cotidiano, em rádio, televisão, outdoors, embalagens de produtos, etc.. Não há como se distanciar, ainda mais atualmente por meio de redes sociais, publicidades em Youtube e até mesmo em aplicativos gratuitos.


Na Tv brasileira, acredito ter sido a novela Meu Bem, Meu Mal a primeira a dar atenção ao setor de design em geral, um boom na área, assim como Explode Coração fez com a internet. A novela, exibida entre 29 de outubro de 1990 e 18 de maio de 1991 pela Rede Globo, foi escrita por Cassiano Gabus Mendes (que deixou saudades) e ainda é bastante conhecida em razão dos personagens interpretados por Guilherme Karan (Porfírio) e Vera Zimmerman (a “divina” Magda). E quem não se recorda de Lima Duarte como Dom Lázaro Venturini? A abertura fazia referência ao trabalho de designers de produtos. Confira aqui.

Não há mundo moderno dissociado do trabalho de gênios "discretos" das artes gráficas, do design gráfico. Se você come uma certa marca de aveia e utiliza lenços de papel, provavelmente topa cotidianamente com trabalhos de Saul Bass. Alguns cartazes de Milton Glaser - se você ouve Bob Dylan ou viu, por acaso, aquela marca I (coração) NY - integram a cultura pop de forma inexorável. A herança tipográfica de Herb Lubalin - definido por Jaguar como "um dos sumo sacerdotes do graphic design, essa sofisticada religião do século XX" - encontra eco nos mais diversos anúncios, desde entre marcas transnacionais até no letreiro da butique de nosso bairro. Do gênio criativo de Paul Rand, por exemplo, vieram dois dos mais conhecidos logos corporativos do Planeta: as identidades da multinacional tecnológica IBM e do canal televisivo ABC. Acho que vale a pena compartilhar, aqui, algumas publicações afins. Daí, a origem desta postagem. Como apoio, a fim de evitar muitas fotografias, optei por vídeos (abaixo).

Marcas Fortes (Editora Escala, 2002) foram publicações especiais da revista Gráfica - o veículo mais prestigiado, em matéria de arte gráfica em geral, de nosso País. A edição que possuo compendia os primeiros dois volumes lançados, onde encontramos grande acervo de logomarcas que ajudaram dezenas de empresas (gigantes - como a AT&T - e pequenas, como aquele café ou ateliê presente na esquina de nossa rua) a ter uma identidade visual eficiente. De início, temos um breve histórico da comunicação visual, desde a pré-história à atualidade. Após a imensa coleção de logotipos (com indicações do designer responsável e do cliente), encontramos dois artigos sobre precursores do design - não apenas do gráfico - em nosso País: o pernambucano Aloísio Magalhães, que criou identidades para empresas como a Souza Cruz e o Grupo Unibanco (imagens vivas até hoje) e do paulista-baiano Ruben Martins, um dos fundadores do primeiro escritório de design brasileiro: o Forminform. O único "contra" da edição é ser totalmente em P&B.

Na rastro de Marcas Fortes, pararam em minhas estantes dois volumes de Logo Design da alemã Taschen. Os tijolinhos editados por Julius Wiedemann em formato agenda são demais. Trilíngues, só pecam pelo preço. As obras não se limitam a compendiar logomarcas à toa. Tudo é sistematizado, bem selecionado e organizado por categoria (eventos, música, serviços etc.). Além disso, quase um quarto de cada volume dedica-se a estudo de casos, de soluções gráficas encontradas por bons designers. É na identidade visual marcante que o "xamã" consegue chegar bem fundo em nossos miolos, em nossas emoções. Quando George Eastman criou a marca Kodak, por exemplo, o fez pensando na força da letra "K". Parece bobagem, mas ele conseguiu tornar esta marca impactante a começar pelo nome e seu logótipo baseado na letra que aparece duas vezes numa mesma palavra tão curta, justamente no início e no final. Na introdução ao terceiro volume, Paul Middleton define bem a relevância da marca: "Os logótipos converteram-se na pedra angular do consumismo, um dos elementos essenciais que suscitam a ânsia e o desejo, garantindo o Santo Graal da compra repetida". Com o logo eficaz, o mago lança um encanto eficiente, difícil de quebrar.


Os dois volumes de Si É Bayer, É Bom - Reclames da Bayer tem um lugar especial em minha estante. Os livros da Carrenho Editorial são bacanas. Com capa dura, sobrecapa, formato álbum, reúnem uma amostra de material publicitário impresso da Bayer, entre os anos de 1911 a 1942 (Volume I) e 1943 e 2006 (Volume II). Os dois tomos tiveram tratamento gráfico, design e formatos similares, salvo pelo papel, que, conquanto no primeiro não seja o cuchê de alta gramatura utilizando no seguinte (fosco, 170 g/m²), é de boa qualidade, pesado, auxiliando bastante na impressão. Entretanto, permitiu que, com o tempo, fosse tomado por manchas de oxidação, mesmo havendo grande cuidado na conservação. O título "Si é Bayer, é bom" evoca antigo bordão da companhia química e farmacêutica alemã, fundada no século XIX, que já vendeu de cocaína e heroína para crianças a produtos para peste animal em geral, além de associação com o nazismo, como era comum com qualquer grande empresa, à época do Reich. Afinal, assim se dá a planificação econômica tão almejada por nazistas, fascistas e comunistas: corporativismo. Aqui no Brasil, recentemente, vimos algo similar com os governos petistas, onde o aparelho burocrático servia aos amigos empreiteiros, grupos de comunicação e instituições financeiras.

O primeiro volume foi organizado por Zélio Alves Pinto, irmão do famoso autor e ilustrador Ziraldo, que tanto já vimos neste blog. O segundo tomo foi organizado pela "Narrativa Um - Projetos e Pesquisa de História", e acompanhou um DVD com diversas peças publicitárias.

Uma grande falha das edições é a ausência de informações acerca da equipe que produziu os reclames. Nem ao menos informações acerca da empresa publicitária foram disponibilizadas. Abaixo de cada imagem há, somente, indicação do veículo onde a publicidade foi estampada e o ano correspondente. Sobrou muito espaço em branco nas páginas. A imagens poderiam ser maior. Parte do espaço inutilizado serviria, ao menos, para a disponibilização desses dados. Enfim, o trabalho de "pesquisa" foi precário. Não há como dizer o contrário. A pesquisa se deu, apenas, em bancos de imagens da própria Bayer e de veículos que, costumeiramente, veiculavam suas propagandas. Mas isso não retirar o prazer em folhear esses volumes. Particularmente, gosto bastante das propagandas da Aspirina e de sua predecessora, a Cafiaspirina. Talvez por gostar do produto! A propósito: me surpreende como nunca utilizaram o poema Ode à Aspirina, do João Cabral de Mello Neto (grande fã do ácido acetilsalicílico no combate às suas constantes enxaquecas) em uma campanha publicitária.

Nota-se o uso preponderante de ilustrações, nos primeiros anos (Volume I). E sem cores, em razão da deficiência nos meios de reprodução em periódicos, à época. Além de meras ilustrações, algumas propagandas faziam uso dos quadrinhos (sem balão, com legendas abaixo de cada quadro). Com o tempo, as cores foram aparecendo timidamente, em poucos tons. Mas o que impressiona mesmo é a força do desenho. Nas últimas páginas, aliás, ao invés de apresentar, mediante fotografias (em um anuário destinado aos farmacêuticos), um breve tour pela matriz nacional da Bayer, utilizaram desenhos, talvez em razão de dificuldades de impressão de fotos, em boa resolução, em mencionada revista.

O primeiro volume tem alguns méritos. Além da edição ser da própria área de comunicação da Bayer, com a direção do gabaritado artista gráfico Zélio Alves Pinto, a encadernação ficou por conta do Círculo do Livro, sempre caprichando. Além disso, as imagens no primeiro volume tiveram reprodução em maior resolução.

Há algum tempo também trouxe ao acervo o belíssimo livro Saul Bass A Life in Film & Design por Jennifer Bass e Pat Kirkham. O tijolão em capa dura com sobrecapa reúne 1484 ilustrações em 440 páginas, no imenso tamanho de 290 x 258 mm. Os textos são maravilhosos. Penso, contudo, que a parte do trabalho cinematográfico poderia vir acompanhada por dispositivo digital onde depositassem arquivos em vídeo. Contudo, claro, com o Youtube, podemos pesquisar tudo isso, mas não é a mesma coisa.

Acredito que a Graphis foi, durante décadas, o mais importante periódico de comunicação visual. Com o tempo, deixou de ser apenas uma magazine e tornou-se uma instituição, cuja missão é servir de repositório da melhor da arte gráfica publicitária internacional. Criada pelo designer suíço Walter Herdeg durante a Segunda Guerra Mundial, edita, regularmente, os especiais dedicados a pôsteres e seus anuários diversos, organizados por tema (design, cartaz, fotografia, marcas etc.). Você não precisa ser designer ou publicitário para ter essas publicações em casa. Basta gostar de arte para se deliciar com as boas sacadas publicitárias de gente criativa, que dedica seu gênio a estimular o consumo desenfreado que destrói este Planeta moribundo. Confira mais no sítio da instituição.

Fico por aqui. Para mais, confiram os vídeos.




12 comentários:

  1. post de fôlego
    "Taschen" - faz tudo bem feito, mas mete a mão
    quem diria que anúncios se tornariam uma forma de arte?

    abs!

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    1. É uma republicação melhorada de postagem do blogue anterior. Sobre a Taschen, às vezes encontramos coisa boa por precinhos camaradas...
      Pois é. Uma forma de arte. A arte a serviço do consumo. É o xamanismo moderno.
      Abraços, meu grande!

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  2. Tenho algumas publicações da Taschen sobre grandes mestres da pintura e de fato são excelentes. Fico de olho nas promoções da Amazon e sempre que posso presenteio minha mãe com uma dessas obras.
    E sobre arquitetura e paisagismo Kleiton, você se interessa? Tenho um arquivo de imagens imenso com projetos dos anos 50, 60 e 70, uma época fascinante para a arquitetura. Só evito me aventurar a adquirir livros sobre o assunto por que aí o orçamento vai para o brejo mesmo (embora ainda seja possível encontrar coisas bacanas em sebos impactados com menor grau de intensidade pelo ML).
    Voltar a faculdade como sugeriu o Fabiano: tentei e concluí que a vida acadêmica é de fato para o pessoal mais jovem. Já formado e trabalhando, prestei vestibular para um curso de administração mas não tive estômago e paciência para concluí-lo. Embora tenha me comprometido de fato com tudo aquilo, compreendi que o tempo de ser universitário tinha simplesmente passado. O que posso fazer? Admito que virei um velho ranzinza com pouquíssima paciência com moleques mimados e professores imbecis...
    Grande abraço!

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    1. Ranzinzas sem um pingo de paciência pela "turma do bem" que ocupa violentamente as instituições de ensino que nada ensinam nem produzem. O que fazer? Reconhecer que nosso tempo passou e toquemos a vida sem academicismos. Para mim, é o que melhor serviu. Aliás, temos filhos pra cuidar.
      Sim, tb gosto de arquitetura. Mas tb evito gastar com isso pela falta de espaço e orçamento limitado. Se algum dia puder, compartilhe esses arquivos.

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    2. Ah, minha mãe tb adorava arte, até antes de ficar louca. Coisas da vida.

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  3. Em tempo: como gosto muito do design do período 1940-1970, sempre fui doido por uma Poltrona Charles Eames, artigo praticamente inalcançável para meros assalariados que recentemente tem aparecido em versões artesanais de muita qualidade e preços acessíveis.
    Me dei uma de presente para ver meus filmes e ler um bom gibi/livro e afirmo que além de agradar meu traseiro a danada da poltrona é bonita pra caramba. Recomendo também para quem curte um charuto. Até mais!

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    1. Namoro com essas poltronas há anos e anos. Quando puder, me indique uma uma a bom preço. Só não posso fumar dentro de casa por causa de minha filha. Abraços

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    2. Seus comemtários e sugestões aqui sâo muito bem vindos. Espero que não cessem.

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  4. O fabricante é o Raymundo (Rayma Poltronas) e tem loja virtual no ML. Gostei bastante.

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    1. Valeu. Vou conferir quando desafogar mais. Por enquanto uso muita rede pra ver TV, ler e fumar...

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  5. pra vc que gosta de 1984 e propaganda:
    https://www.youtube.com/watch?v=VtvjbmoDx-I

    abs

    -scant

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