sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Leia: Zé Carioca 70 Anos [ Republicação ]



Terminei ontem de ler os dois volumes de Zé Carioca 70 Anos, da Abril. Que edição caprichada. Infelizmente, o formatinho e o papel jornal deixaram um pouco a desejar e limitam nossa fruição estética. Nada contra o tamanho. Sei que, para publicações infantis, ainda parecer ser a melhor opção, ainda mais pelo preço ao leitor. Mas acredito que poderiam utilizar mais o formato intermediário, como o escolhido para coleções Pateta Faz História, Disney Essencial etc., que é só um pouco maior: 10,7 x 20,7. Além disso, o "jornal" da editora Abril precisa melhorar para o pisa brite da Panini.

Os textos de Marcelo Alencar e Fernando Ventura estão ótimos e nos dão informações relevantes. A seleção e organização do material por fases – em especial, por referência ao trabalho do pesquisador Roberto Elísio dos Santos - nos deu um ótimo resultado final. Nada ficou solto, jogado ao acaso, como muitas antologias por aí. Tudo é bem organizado, com o arranjo de tiras de jornais nas primeiras páginas do primeiro volume e histórias que representam bem cada década da fase dos gibis, a partir do anos 40 (fase americana). Os estúdios de Maurício de Sousa poderiam seguir esse exemplo de organização ao editar seus álbuns "50 Anos".

Foi até curioso ver um Zé Carioca – na fase de tiras de jornal – extremamente pobre (ou melhor: miserável), vivendo num barraco caindo aos pedaços no meio do lixão e catando bitucas de charutos nos parques! E sempre dando golpes para garantir um bom café da manhã ou na tentativa de se casar com garotas de pais ricos. Isso é para vermos como o “politicamente correto” atinge até mesmo os quadrinhos Disney, mesmo de maneira mais “suave”. Muita coisa foi mudando! Os roteiros de Hubbie Karp, nesta fase, são demais, aliados à arte de Bob Grant e, mais à frente, a do querido Paul Murry. Na fase dos gibis, gostei de conhecer o traço de Carl Buettner e do argentino Luis Destuet.

Dentre as curiosidade, descobri acerca das histórias bizarras que surgiram na fase de adaptação (´60), quando HQs norte-americanas era adaptadas, para o Brasil, sem muito critério. Às vezes, essa adaptação se dava até com aproveitamento da arte. Na trama A confusão com o canário Caubi, por exemplo, misturam-se os traços do americano Al Hubbard com os de Jorge Kato, responsável pela inserção do Zé e de sua namorada Rosinha numa história originalmente concebida para Mickey e Minnie. Tudo muito esquisito! Os primeiros momentos entre Os Três Cavaleiros (Zé, Donald e Panchito) são interessantes, embora eu não tenha gostado tanto da HQ Você já foi a Bahia?, adaptação do filme homônimo de 1944, por mais bonitas que sejam as imagens criadas por Walt Kelly.

No segundo volume, começamos com quase sessenta páginas desenhadas por Renato Canini. Muita gente não gosta de seu traço. Já eu não consigo deixar de admirar seu jeito underground de abordar o redondo universo disneyano. Muita coisa importante aconteceu a partir da década de 70, como a criação da Vila Xurupita, da Anacozeca e do Morcego Verde! Além disso, o retorno da produção nacional marcou presença com as duas últimas histórias; curtas – porém, muito boas. Mas o que gostei mesmo foram as quase trinta páginas de O Retorno dos Três Cavaleiros, escrita e desenhada pelo grande Don Rosa, o maior artista Disney vivo do Planeta (minha opinião pessoalíssima). É quando lemos Don Rosa que vem a certeza: o formatinho não comporta sua arte! Por isso, renovo a necessidade de que especiais como esses poderiam ter maior tamanho, como o acima mencionado.


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