quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Um ícone da cultura pop: o canivete stiletto

Trecho de minha gameplay de The Last of Us - Primeira Parte, onde dou uma conferida no canivete stiletto da Ellie

O stiletto não nasceu pra ser bonitinho. Aparentemente, surgiu na Itália do século XV como uma mini-espada para gente chique - uma mini adaga macérrima e com a ponta que faria inveja a um alfinete. Seu trabalho? Perfuração de armaduras, dizem. Com o tempo, os cabulosos da noite perceberam que essa elegância toda não podia ficar só nas adagas e ele ganhou uma versão dobrável, virando um canivete discreto (e estiloso) no século XIX, com a cidade de Maniago se tornando o berço dessa bela lâmina portátil.

A evolução veio no início do século XX, quando inventaram a versão automática - ou switchblade. Era só apertar um botão e VRuuuM! A lâmina saltava com aquele barulhinho que virou trilha sonora de filme de máfia, algo tão icônico quanto a abertura de um isqueiro Zippo. Depois da Segunda Guerra, o stiletto aportou nos Estados Unidos junto com os soldados e virou celebridade entre o bad boy ianque. Graças a Hollywood e à cultura urbana, ele se tornou símbolo de rebelde sem causa, de moço revoltado com jaqueta de couro e cabelos oleosos. Hoje, o stiletto se aposentou do papel de vilão e é mais uma lenda da cutelaria, objeto de design clássico que carrega todo o charme e o prestígio da sua origem italiana, provando que dá para ter uma história turbulenta e ainda assim terminar a vida como ícone vintage.

A fama de "arma da máfia" não veio à toa, nem só dos filmes. O canivete stiletto italiano ficou tão associado à criminalidade e à briga de rua nos EUA que, em 1958, o governo americano baixou a lei federal "Switchblade Knife Act", uma jogada que transformou o canivete de peça de souvenir de guerra em um artigo quase subversivo. Curiosamente, apesar de toda a repressão legal, o design elegante da lâmina no formato "baioneta" influenciou até a moda (descobri isso hoje!): o termo "salto stiletto" foi adotado para descrever saltos altos finíssimos. As mulheres que conheço chamam de "salto agulha".

E por que falar sobre este canivete aqui? Não sei bem. Recordo que o Scant havia comentado a respeito de um estilo de canivete automático muito comum no cinema de nossa infância - certamente o stiletto, creio. Desde então, fiquei pensando a respeito se escreveria algo e, hoje, limpando minhas capturas de jogatinas eletrônicas do console, me deparei com o trecho acima da Ellie exibindo o seu canivete. A título de curiosidade, é uma bela peça para coleção. Mas não gosto de canivetes automáticos. Essas molas e pequenas peças dão problemas e podem nos deixar na mão (ou melhor: apenas na mão!). O melhor tipo de canivete é o com abertura assistida, como falo no vídeo abaixo: abertura rápida aliada à robustez.

Então é isso. Finalmente está aí uma postagem sobre canivete stiletto desde que o Scant tocou no assunto. Aproveitei para compartilhar os vídeos abaixo, onde falo de abertura assistida, adaga e canivetes em geral. Tenho uma playlist sobre o tema em meu canal, aliás.

Vou ficando por aqui. Abraços afiados e até a próxima.



terça-feira, 14 de outubro de 2025

Cronos: The New Dawn

"Essa é a nossa missão!"

Cronos: The New Dawn é um jogo de ação e sobrevivência ambientado em um mundo pós-apocalíptico devastado pela “Mudança” (ou Mutação) — evento que transformou humanos em criaturas grotescas e gerou anomalias gravitacionais. O jogador assume o papel de uma Viajante do “Coletivo”, enviada para explorar ruínas e fendas temporais entre um futuro sombrio e a Polônia comunista dos anos 1980, em busca das "essências" de pessoas escolhidas por este mesmo "Coletivo" - cuja extração é efetuada pela cachola por meio de gadget preso ao pulso dos Viajantes e um sistema de guarda chamado "filatério", o que mantém, de certa forma, uma ligação com a ideia do tefilin místico usado por judeus e outras religiões. Com estética brutalista e atmosfera retrofuturista, o jogo combina combate tático, horror corporal e confrontos morais sobre memória, humanidade e sacrifício. Para mim, é uma clara ode ao indivíduo diante do coletivismo.

Cronos (ou Kronos, Cronus, Crono) é, na mitologia grega, o titã do tempo e rei dos titãs. Saturno é a versão romana para a mesma divindade. Filho de Urano (o céu) e Gaia (a terra), é obviamente o mais jovem entre eles. Representa o tempo em seu aspecto destrutivo e inevitável — força capaz de reger o destino e consumir todas as coisas. Em algumas representações, carrega uma foice. Após destronar o próprio pai, passou a devorar os filhos, temendo que o mesmo destino o alcançasse.

 Saturno (ou Cronos) devorando os próprios filhos, por Peter Paul Rubens e Goya

Acredito que o “Cronos” que dá título ao jogo refere-se ao vilão Desbravador, perseguido por nós durante toda a jornada e que, ao final, se torna nosso grande oponente. Sua âncora temporal transforma-se em uma foice — símbolo que também remete ao regime soviético. Em determinado momento, encontramos vários Viajantes (concebidos por ele) mortos em celas — ou seja, ele literalmente aniquila seus próprios “filhos”.

Faz tempo que eu não escrevia sobre videogames e, curiosamente, publiquei dois vídeos quase seguidos sobre o mesmo jogo: Cronos: The New Dawn, desenvolvido pelo estúdio polonês Bloober Team — o mesmo que me conquistou com o remake de Silent Hill 2 e com o terror em primeira pessoa A Bruxa de Blair. Digo “curiosamente” porque o conteúdo do meu canal costuma surgir de forma espontânea, diante de alguma notícia ou obra que me chama a atenção — livros, jogos etc. Assim, gravar dois vídeos sobre um único título foi algo realmente fora da curva para o ritmo das minhas postagens no YouTube.

Devo admitir: fiquei impressionado com Cronos: The New Dawn. Se eu tivesse o hábito de dar notas, ele mereceria um 8/10. Enquanto experiência de survival horror, beira à perfeição — mas alguns aspectos de jogabilidade impedem-no disso. Ainda assim, foi uma jornada intensa, imersiva e aterrorizante. O medo constante de ser surpreendido por algum monstrengo brotando do nada manteve-me tenso durante mais de vinte horas de jogo.


Meu desempenho inicial, porque aqui mostro o pau e não mato a cobra

Segundo jogo no modo Novo Jogo+, onde iniciei com todas as melhorias adquiridas... Moleza

A jogabilidade é desafiadora e - às vezes - irritante e cansativa. Nossa personagem, a Viajante, é lenta e pesada, devido ao traje e aos equipamentos carregados. Já os inimigos são ágeis, com ataques de longo alcance e alto dano. E os bosses… nem se fala. São cinco ao todo, e os dois últimos quase me fizeram desistir: Mãe Eliza e o Desbravador. Acredito que mais da metade das minhas mortes veio apenas desses dois confrontos. Foram eles que me impediram de dar uma nota 10/10 pois o resultado da dificuldade trouxe mais uma experiência de cansaço e estresse - diante do desequilíbrio - do que de conquista.

As batalhas são brutais (sobretudo contra o jogador). Mãe Eliza nos esgota com hordas de criaturas, vômitos ácidos e tentáculos que emergem do chão. O Desbravador é ainda mais impiedoso — ágil, teleporta-se e aparece de surpresa às nossas costas, com ataques praticamente inevitáveis e uma barra de vida exagerada. Além disso, dispara esferas elétricas e rajadas de energia por todo o cenário, obrigando-nos a manipular a gravidade e o ambiente para sobreviver. Enfrentamo-lo em quatro cenários distintos, com pouquíssima munição e escassos frascos de cura.

Dizem que, ao zerar um jogo difícil, a sensação é de recompensa. Para mim, foi apenas alívio. A verdadeira gratificação veio das boas horas de diversão (descontados os bosses que desequilibram a jornada) e do belo enredo, cujo desfecho nos oferece uma reflexão sobre reparação, amor e respeito ao individualismo. Ao final, temos uma escolha: executar ou não o Desbravador. Escolhi poupá-lo, permitindo que partisse com sua amada Weronica — apenas para descobrir que ele reiniciaria todo o ciclo novamente. Caso o executássemos, Weronica voltaria ao pré-apocalipse, contaminada pela Mutação, e tudo recomeçaria do mesmo modo. Em suma: se correr o bicho pega; se ficar, o bicho come. Cronos, então, é um jogo também sobre a inevitabilidade. Além disso, quando zeramos o jogo novamente, surge a terceira opção: "Recomeçar". Nesta, não executamos o Desbravador; mas também não enviamos Weronica ao passado. A Viajante a conduz a uma possibilidade que nos é incógnita: lhe estendendo a mão para ajudá-la a emergir de uma cápsula de viajante... O que virá daí? Nem os desenvolvedores sabem, certamente. Mas deixaram um fio de esperança no ar.

O jogo não possui "modo fácil" — apenas o "normal". Após zerar, desbloqueia-se o Novo Jogo+, que mantém os aprimoramentos de armas e armaduras, além de liberar um modo difícil, voltado aos mais "obstinados" - ou seja: gente  viciada em videogame e com bastante tempo livre à frente da tela. Pretendo tentar o Novo Jogo+ futuramente, para descobrir o que deixei passar em termos de história e coleta de itens. Mas, se houver uma continuação, só a comprarei se incluírem um modo fácil — às vezes, quero apenas me divertir sem neuras, sem gastar horas enfrentando chefões brutais.


Na minha captura de jogo, acima, vemos que em Cronos: The New Dawn, há uma clara referência estética e simbólica a Silent Hill 2 - clássico de terror psicológico da Konami - com o quadrado vermelho utilizado por James Sunderland para "saves". Em SH2, o símbolo atua como uma pausa entre o horror e a sobrevivência, um breve momento de controle dentro do caos. Essa escolha visual e conceitual sugere uma homenagem consciente ao legado de Silent Hill 2, reinterpretando sua linguagem visual em um novo contexto narrativo e distópico.

A mídia comprada por mim é a física. De brinde, vieram uma cartela de adesivos e um voucher com código resgatável para 1000 (mil) pontos de energia (essencial para aprimoramentos), quatro munições para a "espada" (pistola) e um frasco pequeno repositor de saúde. Achei bacana, pois é melhor do que vir apenas a caixa com o disco e nada mais - e, claro, ter a mídia física é sempre mais legal que "ter" a mídia digital pelo mesmo preço.

Acho que já escrevi demais, considerando que existem dois vídeos meus sobre essa verdadeira obra de arte eletrônica. Encerro por aqui.

Abraços desbravadores e até a próxima.