sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Gangsta's Paradise da vida real


Vou te apresentar um Kit Salve Da Quebrada
Um jacarezinho pra amarrar a mãozinha dela
Um taco de beisebol pra quebrar o braço dela
Dez metros de fio pra zebrar as costas dela
Uma maquininha pra raspar o cabelo dela

MC Bob Mano Dylan, 2025

O filme Mentes Perigosas fez bastante sucesso quando eu era adolescente. LouAnne Johnson (Michelle "diliça" Pfeiffer) é uma oficial naval que tem a brilhante ideia de largar a Marinha para lecionar inglês em uma escola pública fodida na Califórnia — o Estado com mais putas e bandidos por metro quadrado dos USA, creio. Ao se deparar com uma turma de adolescentes desgraçados, violentos e filhos da puta, ela percebe que os métodos tradicionais não funcionam. Ora, quem diria, né? Determinada a fazer a diferença, LouAnne (muié "inspiradora" ainda viva, sobre quem o filme se baseou) adota estratégias pouco convencionais para conquistar a confiança dos alunos, inspirando-os com músicas de Bob Dylan, amor e compreensão. Claro, ela mantém a dureza, mas sem perder a ternura. E não é que, dizem, deu certo? Alguns dos meliantes se aprumaram na vida. Coisas de cinema, claro. E tudo embalado pelo rap mais famoso da história: Gangsta's Paradise.

Gangsta's Paradise foi composta (sobre Pastime Paradise do genial Stevie Wonder) para o filme e conta com a própria Michelle Pfeiffer no clipe oficial. Fala do desperdício de vida com o crime. De pessoas que se iluminaram etc. Tem tudo a ver com a película e, creio, é uma das canções que melhor casou com uma produção cinematográfica. Mas... é só uma música. Os coringas e as arlequinas das quebradas não têm salvação a não ser matando-se. Gente imunda, ruim, que ostenta em redes sociais com fuzis, maços de dinheiro e pó, muito pó. Zé Maloqueiro e suas Marias Putianes não querem saber de Bob Dylan nem tampouco pensam em mudar de vida. É aquela vida que querem, até a morte. E, francamente, nesta imundície onde vivemos, não é uma escolha irracional ofertar-se ao crime. A outra opção é subemprego para alimentar o sistema de corrupção, onde apenas políticos, burocratas e empresários amigos do Poder enriquecem. Então é isso: não os julgo, mas não sou obrigado a gostar deles nem a achar óbvio que tenham mortes trágicas. É melhor bandido se trucidando, em brigas entre facções, do que matando trabalhador já ferrado na vida. Um dia, creio, todos os bandidos faccionados do Brasil unir-se-ão e mandarão de vez nesta latrina. Mas isso é outra história para abordar noutra postagem.

Então vamos lá...

Vi no “X” - antigo Twitter - um vídeo curto com o cadáver de Eweline Passos Rodrigues, vulgo Diaba Loira, aos 28 anos de idade, totalmente destroçado. Aparentemente, houve tortura antes da morte. A morte rápida é uma recompensa; tortura é punição. Em O Último dos Moicanos, Daniel Day-Lewis corre contra o tempo para atirar na cabeça do major Ducan antes que o fogo comece a devorá-lo dos pés à cabeça (se bem que, neste caso, o cidadão falece primeiro por sufocamento, devido à fumaça). Em Família Soprano, Tony precisa entregar seu primo, interpretado por Steve Buscemi, à família rival; mas querem o malandro vivo. Tony o entrega, mas não sem antes lhe estourar a cabeça com uma escopeta. O problema nunca foi a morte, mas a morte lenta. E, francamente, não tenho pena das “diabas e diabos loiros” que são torturados por aí, na vida do crime. Felizmente, não os conheço, nem penso neles. Só vejo o resultado da existência dessas pessoas em nosso mundo: podridão. “Do cocô vieste, ao cocô retornarás” — está na Bíblia.


Diaba Loira delirou com o crime e morreu por ele. O fascínio pelo crime não é recente. Acho que sempre esteve incrustado na sociedade. Bandidos tornaram-se celebridades tanto lá fora quanto em nosso país amaldiçoado. Mulheres que molham a calcinha por marginais e homens que se fodem por vagabundas. Aliás, esses dias vi como Suzane von Richthofen está bem, vivendo uma bela história de amor com um médico (profissão de bom status social), enquanto seu irmão Andreas sobrevive com a cabeça em frangalhos. Igor Eduardo Pereira Cabral, que deu 60 (sessenta) socos na cara da namorada, estaria recebendo quase dois mil e-mails de moçoilas querendo lhe dar xota no xilindró. A coisa é por aí... A maioria dos homens e mulheres tem inclinação para a safadeza - especialmente para o crime, acaso tenha a garantia de ganhos e vislumbre pouca chance de punição.

É isso. Que todos os diabos e diabas do crime virem carne moída ainda na flor da idade. Amém.

Abraços "é nóix, parça" e até a próxima.


Arlequinas antes de tomarem um "kit salve da quebrada".


Pastime Paradise, Stevie Wonder, Songs in the Key of Life, 1976



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Taffman-EX

Quando eu era guri, meu pai estacionava em frente de nossa casa, buzinava e saíamos para um passeio — quase sempre aos sábados, pela tarde. Ele, em regra, nos levava à banca de gibis do terminal rodoviário, a maior da cidade, onde comprávamos quadrinhos variados (meu irmão escolhia os de heróis; eu, os da Mônica, Recruta Zero produzido nos estúdios da Globo, Turma do Arrepio etc., com raras edições da Disney). Também podíamos pegar um salgadinho Elma Chips e alguma bebida. Nesse ponto, minha mão ia direto para um frasco de Taffman-EX, o hidromel da criançada.

Meu pai não podia entrar na casa que ele mesmo comprou com o suor do rosto, porque havia sido esfaqueado por minha mãe e, desde então, não falava mais com ela — uma senhora narcisista e borderline que nos apresentou o Quinto dos Infernos desde que nascemos. No máximo, ele se sentava na calçada e jogava alguma conversa fora. Ainda hoje está vivo, com 82 anos e bastante saudável — exceto pela perna direita, que nunca mais foi a mesma desde que a fraturou em um tombo. Trata-se de um homem admirável, que passou fome na infância, dormiu nas ruas e, já jovem adulto, edificou o que chamam de império. Mas o decurso do tempo e as circunstâncias acabaram por nos transformar, com o passar dos anos, em quase dois estranhos.

O Taffman-EX é uma bebida dita funcional — seja lá o que isso signifique — criada no Japão pela Taisho Pharmaceutical, com o objetivo de aumentar a energia e o bem-estar. Contém ingredientes como ginseng, cafeína e vitaminas do complexo B. Chegou ao Brasil por meio da Yakult, do mesmo grupo empresarial. Seria uma alternativa leve aos energéticos tradicionais, numa época em que ninguém ligava para energéticos e eu só via Red Bull em comerciais da TV - Red Bull te dá asas... Ganhou público entre a molecada que fazia das tripas coração para comprar um reles vidrinho daquele néctar azedinho que descia tão gostoso e era degustado molhando a língua aos pouquinhos.

Fazia meses que eu não comprava Taffman-EX. Não chegou a completar um ano, mas passou perto disso. E, para minha surpresa, a Yakult mudou a embalagem de vidro para plástico. Ficou estranho, parecendo bem menor (algo que já era pequeno, com seus míseros 110 ml), e o rótulo parece deslocado e enrugado. Foi ao pegar aquele frasco empobrecido, sem o charme do vidro — material destinado a uma “bebida de verdade, nobre” — que percebi como elementos da minha infância realmente se tornaram pó. Pelo menos, o sabor continua o mesmo.

Mas a passagem do tempo também nos traz bons frutos. A Yakult nos maltratava bastante, com seu mini frasco caríssimo de leite fermentado com lactobacilos vivos. No Orkut, quando eu já era adulto, havia até uma comunidade pedindo por Yakult de dois litros. E isso nunca surgiu. No entanto, hoje, temos várias marcas com litrões de leite fermentado de boa qualidade, como a Betânia e a Flamboyant. Chupa, Taisho Pharmaceutical! Agora é só esperar o plágio do Taffman-EX em galões de cinco litros e, finalmente, podermos dormir de alma lavada.

Abraços vitaminados e até a próxima.